Um Romance sobre o Livro do Apocalipse
O autor Viriato Martins dedica este Romance Apocalíptico a todos os que sofrem sob o domínio de um dos maiores
problemas da sociedade - A POBREZA.
Neste Romance sobre o Final dos Tempos, no capítulo 5, o autor inicia o Apocalipse falando do Reino da Besta que Cláudio visualiza durante o seu sonho profético.
Mas o Grande alvo do autor é salientar a perfeição de Deus, mesmo no meio do mal do nosso mundo.
ÍNDICE
1. O DESTINO DE CLÁUDIO E DE CLARA.
2. OS POBRES SÃO MAIS NOBRES DO QUE OS RICOS.
3. O AMOR ENTRE CLÁUDIO E CLARA CORRE PERIGO.
4. JUSTINO É O
JUSTICEIRO DOS POBRES.
5. O SONHO PROFÉTICO
DE CLÁUDIO NA PRISÃO.
6. O DISCURSO DE GABRIEL SOBRE O FIM DO MUNDO.
7. A LUTA DE JUSTINO EM DEFESA DOS POBRES.
8. OS GRANDES PROCURAM DAR CABO DE JUSTINO.
9. GABRIEL PEDE A JUSTINO PARA VISITAR CLÁUDIO.
10. A BATALHA ENTRE AS FORÇAS DO MAL E DO BEM.
11. O PADRE JUSTINO LIBERTA CLÁUDIO DA PRISÃO.
12. O MUNDO DE FERRO DA BESTA DO APOCALIPSE.
13. O MAL DÁ UM SENTIDO CONFUSO AO NOSSO MUNDO.
14. MAS O SENTIDO DESTE MUNDO DE FERRO É PERFEITO.
CONCLUSÃO
PREFÁCIO
Sabendo
que as pessoas andam mais preocupadas com os problemas humanos do que com os
problemas de carácter espiritual, eu procurei inserir alguns valores do Evangelho, o mais
discretamente possível, no contexto de uma história verdadeiramente humana - a
história de Cláudio e Clara.
Espero que, abordando a questão desta forma, os
leitores se sintam mais motivados para ler o livro até ao fim este romance
sobre o livro do Apocalipse
Como já
ficou explícito, este livro é dedicado "A todos os que sofrem sob o
domínio de um dos maiores problemas da sociedade, A POBREZA".
Acho que
não é muito difícil compreender as razões desta dedicação, quando pensamos nos
milhões de pessoas que sofrem diariamente, no nosso planeta, debaixo dos terríveis efeitos da exploração,
do abuso, da violência, da guerra, da doença e da fome e vivem privados dos
benefícios da Educação e do Evangelho de Cristo. Este livro é dedicado a todo o
tipo de POBREZA.
Se o prezado leitor está sofrendo por qualquer razão ou está
diante de uma situação limite que o
atormenta, leia este livro. Foi escrito a pensar em si.
Embora a
classe rica seja apresentada neste livro como culpada pela existência de um
certo tipo de POBREZA, eu gostaria de dedicar todo o meu apreço às pessoas da
alta sociedade que vivem sóbria, justa e piamente neste presente século,
renunciando à impiedade e à avareza humana. (Tito 2:12)
O Padre Justino, da nossa história, é uma
homenagem a todos os justiceiros dos meninos de papelão e o mundo de ferro.
Viriato
dos Santos Martins
https://religiao-filosofia.blogspot.com
CAPÍTULO 1
O DESTINO DE CLÁUDIO E DE CLARA
O sonho
de Cláudio e Clara é ter uma casita
Mas que miserável sou eu! Exclama
Cláudio consigo mesmo, pensando na sua terna e amada Clara. Como gostaria de
lhe dar um futuro digno e vê-la feliz sem faltar-lhe nada.
Mas aqui neste país é assim – continua a
falar, em voz alta, enquanto esfrega o queixo. Eles têm tudo nas mãos.
Cláudio vivia com os pais e a irmã. Eles
tinham levado uma vida dura já desde o tempo dos seus antepassados.
Há muitas
gerações que a sua família, e muitas
outras, trabalha para meia dúzia de tubarões viverem em lindas mansões, andarem
em viaturas luxuosas e fazerem grandes banquetes.
Isto tudo à custa deles!
“Tanto suor derramado e continuamos na
penúria”, pensa Cláudio.
Mas o verdadeiro drama começa naquela
noite pesarosa, quando a senhora Zulmira
e o marido, o senhor Vilas, entram emproados na barraca de madeira, já meia de
lado com o telhado a cair, atacando os pais de Cláudio com palavras furibundas:
A partir de amanhã não os queremos ver
mais aqui. Estamos fartos. Já foram avisados, não foram? Dispara a Zulmira toda avinagrada. Ela
mandava em todos. Até no marido!
Senhora Zulmira, diz o pai de Cláudio, o Constâncio, a gaguejar,
com os lábios cerrados até ficarem em sangue. Não temos para onde ir. Já reparou bem com um filho e uma filha
doente? já pedi uma entrevista ao senhor Presidente da Câmara, mas!!!
Mas o quê, diz o Vilas, espumando de
raiva. Façam é o favor de arrumarem as malas antes que eu perca a cabeça.
E, virando as costas, eles deixam a
barraca a praguejar.
Constância, tremendo de medo dos pés à
cabeça, só tem tempo de murmurar baixinho. Eles falam como se fossem os
explorados e estão ricos à nossa custa á não basta o que nos
roubaram!?
Cláudio, sentado no canto da sala,
lembra-se que já tinha visto a Zulmira e o marido a falar em segredo com o
patrão da sua amada Clara, o senhor Fortunato.
Ele vai buscar Clara ao emprego, e diz-lhe logo mal a vê. -
Clara, a senhora Zulmira e o Vilas foram ontem à noite a nossa casa. Eu acho
que o teu patrão Fortunato e o filho Lucílio estão a negociar com eles o
terreno onde o meus pais têm a barraca.
Não te preocupes Cláudio - diz Clara. - Os
teus pais vão arranjar outra barraca e quem sabe se não terá mais um quartinho
e nos podemos arrumar – diz ela em tom sonhador.
Um quartinho! Exclama ele, como se ela
lhe estivesse a falar dum palácio.
Alguma vez na vida terei um quartinho para
te oferecer?
Clara ri-se com a resposta. Ela era alegre
e vivia contente. Havia uma grande diferença entre ela e a Zulmira, pois a
ambição de Clara era ter uma casita, mas à senhora Zulmira nem todas as pérolas
do mundo a contentavam.
Cláudio embora fosse jovial, deixava-se ir
abaixo com os problemas. Ele era um rapaz que não se metia em brigas e estava
disposto a dar a camisa a quem precisasse.
Tocava guitarra e cantava muito bem
e se não fosse o medo de vender a dignidade ao diabo ele até já se tinha
lançado à procura de uma oportunidade para se tornar num cantor conhecido.
Clara era dotada de uma beleza rara que se
realçava apesar dos pobres trajes que vestia. Parecia que ela vinha de uma
linhagem nobre.
Quem sabe se os antepassados ao passarem por uma grande aflição não tiveram de vender o
brazão a algum burguês daquele tempo!
De cabelos escuros e tinha uns olhos lindos que pareciam
esconder um mistério qualquer.
Mas mais impressionante que a beleza física era
a pureza da alma que transparecia do seu olhar misterioso.
A sua beleza era um problema, pois o
patrão que já estava farto das noitadas com a Zulmira que era um grande
adúltera, apaixonou-se por ela e a assediava dia e noite, prometendo dar-lhe
tudo.
A Clara que venha ao escritório - diz o
senhor Fortunato ao filho Lucílio que também estava morrendo de desejos por
Clara. Se o pai soubesse matava-o!
Mal Clara entra no escritório o senhor
Fortunato, sem se poder conter, atira-se para cima dela, rasgando-lhe a blusa e
tentando afagar os seus seios. A coitada
desesperada da-lhe um grande safanão e consegue soltar-se por um triz e sair do
escritório a correr.
Mas não era só o senhor Fortunato e o
Lucílio que andava atrás de Clara. Havia
outra fera que a espreitava do seu esconderijo, onde já tinha desgraçado tantas
almas que ali vinham em busca de perdão.
Era o Padre Pontes que rezava todos os
dias para Clara vir ao confessionário, mas ela como que pressentindo há muito
que não botava lá o pé.
CAPÍTULO 2
OS POBRES SÃO MAIS NOBRES DO QUE OS
RICOS
Cláudio
reconhece que necessita
de Deus
Entretanto, Cláudio não para de pensar
naquela noite tão pavorosa e humilhante.
A imagem do pai, envergonhado, sem se atrever a levantar o queixo, não
lhe larga a mente. E da mãe toda contorcida de dor no canto da saleta.
Naquela noite gelada, de volta para casa,
as imagens bailam na sua mente. Ainda se lembra daquele momento em que ele saiu
da barraca com o sangue a ferver e a cuspir palavras de raiva para o ar.
Ao
pensar nisto o peito estalava-lhe de dor e as lágrimas escorriam-lhe até ao
chão.
Ao ver a gentalha da noite parada nas
esquinas, uns à espera da droga, outros de um cliente, ele pensa no que terá
acontecido àqueles farrapos humanos para virem parar ali.
Eles não vieram
parar aqui porque quiseram, ao contrário do que muita gente pensa, reflete
Claudio.
Ao reflectir nisso, um grito solta-se do
seu peito e sobe até ao céu, responde-me, que mal te fizemos, mas o céu fica
impávido e não lhe responde. Faz-se um silêncio absoluto à sua volta.
Não respondes? Não é nada contigo? Ah!
Preferes que eu perca a vontade de viver e vá parar naquela sujeira!
Então, neste mesmo instante uma voz
chama-o “Claudio”, parecia uma voz do outro mundo.
O quê, parece que ouvi alguém a chamar-me? Balbucia ele, enquanto abranda a passada e o sangue arrefece-lhe nas veias.
Perplexo ele pergunta. Quem és tu a chamar-me?
Mas o firmamento continua silencioso, não
lhe responde, e nisto ele compreende que é a voz da sua consciência a
chamar-lhe.
Então ele decide voltar para casa e mal
chega deita-se e dorme profundamente.
No outro dia ao acordar, com a voz da
consciência ainda a pesar-lhe na sua mente, ele decide ir à Igreja.
Não é
neste lugar santo que ensinam a amar o próximo! Pensa ele esperançado parado
à porta do templo. Talvez, o senhor Padre interceda a nosso favor.
Ele hesita, antes de entrar. A missa já
tinha começado e os senhores, deviam lá estar, de certeza, assentados à frente
- pensa ele. Ganhando coragem, enche o peito e entra.
O padre está tão pachorrento! Murmura
entre os dentes.
E o Sacerdote, que já não está sozinho,
arrastando a voz, vai dizendo: Cá em baixo e olha para as pessoas em baixo.
Voçês devem sofrer com resignação, pois é isso que Deus quer e, apontando
para cima. Lá no céu receberão a justa recompensa.
Paciência! Terão que ter muita paciência
mesmo para poderem aguentar e, repetiu. Paciênciaaa!!! Olhando para o vazio.
Qualquer observador mais atento podia
notar que o espírito do Padre não estava ali. Ele lia como um autómato as notas
envelhecidas, mas o seu espírito
vagueava por lugares distantes.
E eu quero adverti-los que os drogados e
as prostitutas e, em voz mais sumida, para ouvirem só os senhores assentados
nos bancos da frente.
E os desempregados, serão lançados nas chamas do
inferno, ao menos que os familiares piedosos venham cá pagar umas missas.
Bandido, diz Cláudio baixinho.
A senhora Zulmira e o Vilas, o senhor
Fortunato e o Lucílio e o presidente da Câmara, assentados nos bancos de
frente, olham com cumplicidade para o patife do Padre.
Cláudio, ali de pé, continua a levar em
cima com as bojardas vindas da boca do infiel.
Os vadios e os vagabundos também não podem
ir para o céu, diz o Padre, como se estivesse a falar para Cláudio.
“Vadios"! Exclama mentalmente. E tu
meu patife, o que és?
As palavras saídas da boca cruel do
traidor da fé faziam Cláudio espumar de raiva. Ele ali, a ser escorraçado pelo maldito do prior a
quem tinha ido à procura de ajuda.
Já vi que aqui na Igreja eu não encontro
ajuda e girando sobre os pés, ele sai da Igreja a gemer da dor causada pela
língua venenosa do Padre.
Ele não consegue dormir a noite inteira à
procura de uma solução, e já de madrugada uma ideia sobe-lhe à mente.- “o senhor Presidente da Câmara”.
Ele levanta-se
a correr, veste-se e sobe esperançado as escadarias da Câmara Municipal.
Porque não me tinha eu lembrado do Senhor
Presidente da Câmara! É ele que nos pode safar desta emboscada. E senão
arranja-nos outra barraca, exclama ele ao entrar pela porta grande!
Ao entrar, ele nem queria acreditar no que
os seus olhos viam, pois mesmo à frente
da porta do escritório do Presidente,
encontram-se três pessoas a confidenciar qualquer coisa, baixinho, para ninguém ouvir, olhando para os lados,
desconfiados.
Eles estão com um ar de quem anda a tramar qualquer coisa.
Ao reconhecê-los, Cláudio abaixa os olhos
para o chão. Ouve-se o barulho da porta. Cláudio,
levantando a cabeça, vê o senhor Presidente a sair com um sorriso todo
comprometido na cara.
Que honra não era para o senhor Presidente
receber o Padre Pontes, a senhora Zulmira e o senhor Fortunato.
Entre eles não precisavam de máscaras,
enquanto vão discutindo o negócio. Era tudo muito transparente. Entram para
dentro do escritório e como a porta fica entreaberta, Cláudio pode vê-los a
assinar os documentos sem problemas.
Os cheques serão entregues em segredo! O
terreno onde se encontra a barraca está finalmente negociado.
Eles vão arruinar a vista da Igreja e a
paisagem tão linda com aquele prédio monstruoso, pensa ele, enquanto matuta na
soma que o Presidente da Câmara e o
senhor Padre não vão meter ao bolso com aquele negócio da china.
Cláudio vira as costas e começa a descer
as escadarias. Para quê ficar ali, o seu pedido nada vale diante do pedido da
senhora Zulmira.
O Presidente que ainda por cima a adorava e já a algum tempo anda
à caça dela. A rebentar de desespero Cláudio desce com
muito custo as escadarias da Câmara Municipal.
A quem me resta agora pedir ajuda – pensa
ele. Ajuda! E continua. ajuda não, contas!
Eu tenho é que pedir contas por tudo isto. Mas a quem?!
Ao chegar ao fundo da avenida
principal depara com uma multidão.
Vê cartazes,
bandeiras e ouve uma música alegre lançando para o ar um sentimento de mudança. Parece um comício, pensa ele.
Cláudio decide ficar por ali. Aquela
propaganda e aquela música alegre enche o ar de esperança.
Abram alas, afastem-se, que está a chegar
a esperança deste mundo, ouve-se a voz do chefe do comício.
Toda a gente sauda e bate palmas à sua
passagem. O ministro atinge finalmente a plataforma principal e, sem perder um
segundo, inicia o discurso, começando logo por deitar por terra
os seus adversários.
Saem-lhe da boca para fora palavras arrogantes e
sarcásticas, dizendo em alta voz e bom som que ele é única esperança deste
mundo.
Eu farei
melhor do que todos, para o bem deste mundo, diz ele, cuspindo
algumas palavras para trás para os guarda-costas, baixinho, para ninguém ouvir.
Cláudio aproxima-se mais um pouco para ver
e nisto dá um grito horrífico. - Cruzes! Sai-lhe um berro da boca ao ver que
o homem tem uns chifres de dragão.
Parece
a besta do Apocalipse! Isto é um sonho, um pesadelo. Mas não, ele está ali
mesmo, bem acordado.
A besta está guardado por vários
guarda-costas, parecem gorilas.
O gorila do lado esquerdo acena todo vaidoso às
pessoas.
Um outro do lado direito ri-se, zombando descaradamente da
assistência, com as gengivas todas à mostra.
Será que Cláudio está a sonhar. O que
pensa o leitor? Será isto real ou é um pesadelo! Mas afinal, será que interessa
se Cláudio está a ter um pesadelo ou não!? Irá mudar alguma coisa.
Deve ser uma banda de teatro ambulante que
está a representar, pensa Cláudio. -
Mas aquele homem com chifres de dragão e aqueles gorilas metem medo!!! -
exclama alto. Não é nenhum teatro, isto deve ser um
pesadelo! Remata Claudio.
Então,
enquanto o ministro continua a atirar ameaças para o ar, algo estranho
começa-se a passar, ele sente alguém ao seu lado.
Volta-se mas não vê ninguém.
Olha para o outro lado. Meu Deus, quem é esta criatura?
Os sapatos velhos e rotos, as calças
remendadas e amarradas por um cordel, um casacão queimado pelo sol e o chapéu, o chapéu! Era melhor nem falar!!!
Que misteriosa criatura, pensa ele ao dar
com os olhos no velho que tinha um brilho no olhar, que parecia vir do céu.
Será um anjo enviado para me ajudar neste
pesadelo, medita ele.
Estás com medo do ministro, rapaz? -
Pergunta o velhote.
Sim estou, não vê os seus chifres? E os
gorilas à sua volta? Sim vejo respondeu Cláudio.
Ele é o príncipe
escolhido para governar este mundo, diz o velho.
Os gorilas são demónios, mas o demónio que
está dentro dele é o pior de todos e é o chefe, acrescenta o velho.
Cláudio, estupefacto, procura compreender o que se está a passar à sua volta e quem é este velho.
O velho continua a discursar, falando de
coisas misteriosas que irão acontecer. Diz que o ministro tem gravado no pulso
um código secreto com 13 números, que termina em 666.
Ele vai dominar o mundo, ninguém pode fazer nada sem aquele número.
Nem ir ao multibanco, nem aceder à
Internet, nem careregar o telemóvel se não conhecer aquele código.
Agora é que Claudio já não sabe de nada,
se o que está a passar é real ou é ele está mesmo a sonhar. Enquanto fala o
rosto do velho fica carregado de rugas.
Era um quadro fascinante. Parecia que o
rosto divinal do velho ia-se tornando humano.
Enquanto isso, a multidão foge apavorada
do comício e ajunta-se à volta do velho que discursa. Eu vim para anunciar
que as coisas vão piorar.
Os acordos de paz não vão servir de nada, nem as
promessas de prosperidade. O mundo está caminhar a passos largos para a
destruição final.
Um novo absolutismo vai governar o mundo. Esta besta vai ser
muito pior do que Hitler, o velho continua o discurso.
A democracia deu
muita liberdade, destruiu a consciência e derrubou valores antigos. Vocês
riram-se de mim, agora vão ver! Eu vou vos livrar à Besta pelo menos por mil
duzentos e sessenta dias.
As pessoas bebem as palavras do velhote,
pasmados, sem compreender tudo o que ele diz.
Quando a Besta começar a governar, os
habitantes da terra vão conhecer um tempo de grande aflição como nunca houve
até agora, que vai durar três anos e meio.
Mas, infelizmente, os homens não vão
largar as suas aldrabices, nem as suas feitiçarias, nem as suas prostituições e
crimes.
O discurso do velho começa a tomar um significado mais religioso,
mais esclarecedor.
A classe operária, os marginais, os
órfãos, as viúvas e os da terceira idade, coitados, fugiam do comício do
ministro, para o comício do velho.
Uns diziam que o velho era Moisés.
Outros
diziam que era Elias.
Mas para muitos aquele velho não passava de um maldito
agourento a querer meter medo às pessoas com as suas profecias.
O Presidente da Câmara, a senhora Zulmira,
o Vilas, o Fortunato e Lucílio e outros da classe alta, preferiam ouvir o
ministro.
Então, nisto, aproveitando a ausência da ralé que fugia para ao pé do
velho, começam com grandes reclamações.
Senhor ministro aumente as horas de
trabalho. Gritavam em voz alta.
Abaixe os salários.
Abaixe as pensões da velhice.
Abaixo os subsídios.
O barulho vai-se tornando ensurdecedor:
Morte aos desempregados.
Morte aos marginais.
Berravam eufóricos
todos numa só voz.
Alguns levados pela euforia, totalmente
fora de si, gritavam muito alto.
Que o senhor seja pior do que Mussolini. E outros, que seja pior do que Hitler e ainda outros diziam:
Ponha esta
cambada de parasitas na ordem.
O comício, tomando um ritmo frenético,
torna-se num verdadeiro culto. O culto dos novos absolutistas.
Viva o
ministro, abaixo os seus opositores, rugiam todos como leões numa só voz.
O Ministro levantando o punhos fechados
atira palavras de vitória para o ar.
Viva! Viva os senhores deste mundo.
Abaixo os canalhas.
Entretanto, o comício do velho termina e
ele diz. Cláudio, amanhã voçês vão ser lançados fora, e o velho desaparece como
se fosse invísivel.
Cláudio, acorda sobressaltado, salta da
cama. Mas o que se passou, era um
sonho ou realidade.
Ele ouve um
barulho, chama pelo pai que vai a correr para a gaveta e tira um revólver
antigo.
Bala atrás de bala ele enche o
tambor, falando entre os dentes. Só
morto. Eu bem avisei-os, terão que me dar uma outra barraca primeiro.
Cláudio espreita por um buraco e vê um
tanque de guerra mesmo à frente da porta.
Em cima do monstro está a senhora Zulmira e o Vilas.
Ou Cláudio está a
continuar a sonhar ou ele jura que o Vilas está vestido com roupa de nazi, embora era uma farda um pouco mais escura e um emblema diferente.
Será que eu estou ainda a sonhar, pensa
em voz alta.
Mas isto não altera nada, o tanque está
ali. A farda nazi deve ser para nos intimidar.
Mas não existe tanque nenhum, o casal está
em cima de uma escavadora que o Presidente da Câmara lhes tinha simpaticamente
emprestado, para fazerem aquele trabalho.
O tanque, a farda nazi, o bigode a
Hitler do Vilas só existe na cabeça de Cláudio.
Cláudio grita pelo pai, que vem logo a
correr de arma em punho. Constâncio ao
vê-los em cima da escavadora, mesmo em frente da porta, sai da barraca e começa a ameaçá-los.
Não, não façam isso, vamos lá negociar, eu não quero disparar. - Mas o tanque
de guerra dispara uma bojarda e leva a barraca
toda pelo ar. Paredes, telhado e a família de Cláudio.
Constâncio, levantando-se, meio tonto,
pega na pistola caída. Os monstros riem enlouquecidos,
preparando-se para dar mais uma pazadada.
Nisto, Constâncio, ao dar um passo atrás,
tropeça e fica estatelado no meio dos escombros da barraca, mas, ao cair,
pressiona o gatilho do revólver.
Ouve-se o barulho de um disparo e o Vilas com
o coração perfurado ao meio e o sangue a jorrar-lhe da boca, tomba por terra à
frente das enormes lagartixas de ferro que passas por cima do cadáver.
Ouvem-se
os ossos a estalarem em fanicos e o barulho da carne a estourar. Não se pode distinguir o corpo amassado do
Vilas do pó avermelhado da terra.
A senhora Zulmira, aterrorizada, tenta
descer à pressa da máquina e é apanhada pela enorme pá e içada para o ar.
A gente
do bairro, acordada pelo barulho está ali toda a admirar o espectáculo: o
Vilas, em baixo, amassado como uma folha de papel e a senhora Zulmira, em cima,
a espernear-se toda com os vestidos no ar.
Não
se fala doutra coisa na cidade. Os advogados da Zulmira que tiveram logo uma
entrevista com o Ministro lixaram o Constâncio que é logo levado para a prisão
e o desgraçado apanhou prisão perpétua e
vá lá terem-no deixado com vida.
CAPÍTULO
3
O
AMOR ENTRE CLÁUDIO E CLARA CORRE PERIGO
A
luta brava entre Cláudio e Lucílio
Cláudio, a mãe e a irmã Dores ficam
desalojadas, sem saber o que fazer. Eles
não pediram guarida a Clara, pois a família de Clara já tinha problemas a
mais.
O irmão de Clara, o Afonso, era
atrasado mental, pois os malandros dos médicos trocaram uma grande final de
futebol pelo seu parto.
A mãe clamava
por ajuda com o bebé quase a sair, as enfermeiras não querendo chatear os médicos
fecharam a porta e continuaram com as suas conversas picantes.
No final da
partida os médicos e as enfermeiras lá foram a correr pelos corredores abaixo,
para a sala das urgências, mas era tarde demais.
O Afonso que já não respirava
a alguns minutos, é tirado à pressa e a
mãe ainda teve que ouvir uma chuva de asneiradas lançada contra ela, como se
fosse a culpada daquele drama.
A dona Marta trabalha que nem uma escrava
na fábrica do Senhor Fortunato.
Constantemente ameaçada de perder emprego era obrigada a trabalhar doze horas por dia, mas, nem oito
horas lhe pagavam!
O desgosto do Afonso
e as horas a fio a trabalhar sem parar, acabaram com ela e com quarenta e cinco
quilos caiu de cama e morreu.
A mãe e a irmã de Cláudio são enviadas
para um asilo. Ali presas não podiam ir pedir esmola pelas as ruas da cidade e
ninguém podia mandar bocas ao governo.
Cláudio foi viver para o hotel Estrela em
companhia de alguns mendigos famintos que não tinham outro lar.
A Dores, irmã de Cláudio, não aguentando
mais os dissabores da vida também morreu. Nunca ninguém ouviu sair uma queixa
da sua boca.
Alguns velhinhos do asilo, assombrados, juravam que viram um anjo
assentado junto dela naquela manhã ao pôr do sol, certamente à espera do seu
último suspiro para a levarem para o paraíso.
Entretanto, a vida continuava. O Senhor
Fortunato oferece um bom trabalho ao pai de Clara. Cuidar da quinta onde
moravam. Mas ele não fez aquilo por caridade! Isto fazia parte de um plano
diabólico para afastar Clara de Cláudio.
O Senhor Fortunato tinha decidido entregar Clara a Lucílio que doido por
ela, até andava doente. A vida de família de Clara começou a mudar
muito. Eles recebiam tudo dos patrões.
Clara é obrigada a estudar e a vestir-se
luxuosamente. A sua beleza é realçada pelos luxuosos vestidos que ela veste
contra a sua vontade.
Ela ainda o vê algumas vezes, ao passar dentro do Jaguar,
mas ele virava a cara envergonhado. Mal sabia ele que Clara nunca trocaria o
amor que sentia por ele por todo aquele luxo!
Lucílio começa a cortejá-la, mas ela não
lhe liga nenhuma. Ele ainda fica mais doente ao notar a indiferença dela.
Ela será minha meu pai.
Pois será meu filho, espera mais um pouco
e verás se a riqueza não lhe sobe à cabeça. Ela não vai resistir a tantos
presentes, vais ver meu filho, dizia-lhe o pai. Olha aqui, toma lá. E entrega-lhe mais um cheque,
avultado.
Era um
cheque de trinta mil contos, para Lucílio oferecer-lhe um carro de desporto, o
último grito da moda. Mal sabiam eles que Clara nunca venderia a alma nobre a
nenhum Fortunato.
Desta forma, o senhor fortunato procurava
destruir a relação existente Clara e Cláudio. Eles ainda conseguem trocar
alguma correspondência, mas, depois, as cartas são apanhadas e começam a ser
queimadas!
Clara chorando todas as noites, roga a Deus por uma intervenção
divina, mas nunca mais recebe uma carta de Cláudio.
Cláudio também chora todas as noites ao
ler as cartas antigas de Clara.
Cláudio sabia muito bem que Lucílio era o
causador de tudo aquilo. Então, numa
noite negra, sem luar, ele decide saltar o muro da quinta dos Fortunatos. Era a
única forma de poder estar com Clara!
Clara, ao ouvir o barulho da pedra a bater
na janela, nem queria acreditar ao ver o rosto de Cláudio estampado no vidro. A
mais de um ano que não se viam!
Clara, meu amor, não tens recebido as minhas
cartas?
Não, Cláudio, eles queimam-nas todas - e
prossegue nervosa -, e sabes que me estão a forçar a casar com Lucílio. Não sei, Cláudio, se conseguirei resistir a
tanta maldade! Sinto-me a desfalecer,
dia a dia - exclama ela a chorar.
Um arrepio, gelado, percorre a espinha de
Cláudio, de alto a baixo. Ele não pode conceber tal coisa.
O amor entre eles é
sagrado, um amor eterno que vem já desde meninos.
Mas, ao olhar para ela,
sente um estranho pressentimento, a
dizer-lhe que Clara nunca seria para ele.
Não pode ser, ela não pode casar com outro
- medita ele. Ou eu ou ninguém!
Mas, no fundo, ele sabe que Clara não
passa de um sonho. Mas ele é daqueles que lutam até ao fim, que nunca desistem,
que nunca deixam de sonhar. Ele sabe que os sonhos não acabam nesta vida.
Foge comigo, Clara? Sussurra-lhe à meia
voz.
O meu pai apanha-me logo. Ele já vendeu a
alma ao diabo, ele gosta muito desta vida fácil e confortável - Diz-lhe Clara a
soluçar.
A porta abre-se de repente e Lucílio
aparece. Cláudio fica imobilizado diante daquela figura horrível, não sabendo o
que fazer por um momento.
Lucílio, que anda doente por causa de Clara, magríssimo,
com grandes olheiras e com o cabelo todo despenteado parece mesmo um demónio.
Clara
exclama assustada:
Cláudio! Eles não vão perdoar o teu
atrevimento, foge para longe de mim... não voltes mais, esquece-me, mas Lucílio,
ignorando as palavras de Clara, começa a insultar a Cláudio.
Seu maltrapilho, como se atreve a vir
incomodar a menina? Não tem olhos para ver que a menina já não é a mesma? A menina não pertence mais à sua classe
desprezível. O quê que lhe poder oferecer o filho de um criminoso?
Cláudio atira-se contra Lucílio, jogando-o
por terra. Inicia-se uma pancadaria
brava entre os dois, chove bordoada por todos os lados, deitam tudo abaixo,
cadeiras, mesas, ornamentos.
Clara, branca como a cal, desmaia e cai por terra.
Cláudio sentindo que tinha ido longe
demais decide que é melhor fugir, mas, naquele preciso momento aparece o pai de
Clara e mais dois criados que dando-lhe
uns bons murros e pontapés conseguem-no imobilizar.
Ele é logo levado para o calabouço e
julgado de imediato. Os juizes o condenam a oito anos de prisão, por tentativa
de violação.
CAPÍTULO 4
JUSTINO
É O JUSTICEIRO DOS POBRES
Justino
o servo de Deus
As coisas vão de mal a pior no mundo:
Acordos de paz falhados.
O terrorismo aumenta.
Raptos e as violações tornam-se
o prato do dia.
A ameaça de uma guerra química e bacteriológica cresce.
Catástrofes naturais destroem tudo à volta.
Asteróides gigantes ameaçam sair
das órbitas.
E, no meio desta situação caótica, as promessas paradisíacas dos
governantes caem por água abaixo,
gerando-se um clima de terror na terra.
Os cientistas prevêm
acontecimentos que podem destruir a vida do globo terrestre, enquanto os
estadistas fingem que não é nada, mas, no fundo, eles sabem que as previsões
dos cientistas estão certas.
Cláudio está na prisão a mais de um
ano. Ele nunca mais ouviu falar de
Clara. Só ela poderia testemunhar da sua inocência.
O terror que se ia
instalando, por todo o mundo, fazia-o lembrar as palavras do velhote:
Ele nunca chegou a saber se aquilo foi um sonho ou foi real! Se foi real, o velhote era um profeta, pensa Cláudio. Ou era um anjo.
Mas, mesmo no meio deste inferno, os
insaciáveis barões do século XXI continuavam afanosamente a roubar os operários
e agricultores.
O futuro aterrorizador, não era suficiente para despertar-lhes
o temor de Deus e o respeito pelo trabalho humano.
Entretanto, os chefes prisionais deixaram
Cláudio matricular-se numa universidade da cidade, devido ao seu bom
comportamento.
Ele tinha feito um voto ao começar o seu
curso de Direito: “defender o direito dos pobres com unhas e dentes”.
Entretanto, aconteceu algo que sacudiu
toda a cidade.
O pároco da Igreja mudou. Veio um outro
homenzinho para o lugar dele e a mensagem e as obras da Igreja também mudaram.
O novo pároco, baixinho e de fraca
aparência, não precisou de tempo para se instalar, pois não trazia nem uma peça
de roupa com ele. Lançando as mãos à obra, começou logo a propagar o amor de
Deus pela cidade e pelo campo.
Não cobrava um centavo pelos seus serviços e ajudava
a toda a gente. Ele tinha tomado a decisão de viver humildemente, como o Seu
Senhor, já desde criança.
Por isso, preferia antes comer com os velhinhos no
asilo do que andar metido em grandes jantaradas com os outros párocos.
O pátio
da Igreja enchia-se de pessoas, todos os dias, que vinham à sua procura, na
esperança de receberem algum alimento ou uma palavra de conforto.
Ele odiava o
confessionário, dizendo às pessoas para se confessarem directamente a
Deus.
Ele não se sentia mais do que um
conselheiro amigo, cujo o trabalho limitava-se a ajudar o penitente a encontrar
o perdão de Deus e o atribulado a buscar o Seu conforto.
A vida límpida do novo padre gerou um
grande reboliço na cidade. Os grandes
não estavam a gostar nada daquilo. Eles
queriam era um padre igual ao anterior.
Arrogante e explorador!
Por essa razão, chegavam queixas atrás de
queixas, contra o padre, ao luxuoso casarão do Bispo.
Mas o pior de tudo, para os grandalhões,
eram as prédicas do humilde servidor de Deus.
Ele pregava o amor e a justiça
divina e, como bem podemos imaginar, a gente fidalga não gosta nada de ouvir
falar de amor e de justiça!
As pregações do humilde homenzinho roía-lhes a
consciência e fazia-os estremecer de pavor.
Nota importante:
As pragas apocalípticas encontram-se em
Apocalipse 6 a 19.
Félix e Drusila e a pregação de Paulo Actos 24:24,25
CAPÍTULO 5
O
SONHO PROFÉTICO DE CLÁUDIO NA PRISÃO
Um sonho
profético sobre a futura sociedade
Enquanto isto, na cadeia, Cláudio recebeu
a triste notícia do internamento da sua mãe num hospital de malucos.
Contaram-lhe que como ela andava pelas ruas, mendigando, estouvada de toda,
levaram-na para o hospital psiquiátrico.
Alguém que a viu no hospital, disse a
Cláudio, que a sua mãe parecia mais um farrapo do que um ser humano. Cláudio
ficou doido de dor ao saber disso. Eles iriam pagar bem caro.
A imagem daquela
que o deu à luz, cruelmente maltratada, aumentava dentro dele a fome de
justiça. Ele também não sabia nada do paradeiro do seu pai. Poderia estar vivo, no degredo ou morto!
Passaram-se três anos. Clara continuava a
viver na casa dos Fortunatos. Eles faziam tudo para a linda menina se tornar
alguém.
Cláudio já tinha tomado a decisão de esquecer Clara, pois pensava que
ela já devia estar casada com Lucílio.
Então, naquela tarde sombria, dominado por
um estranho sentimento, ele foi sentar-se no pátio da prisão a pensar e, sem
dar por ela, adormeceu e o seu sonho profético começou.
Sonhou que estava de pé numa nuvem negra e
espessa que servia de telhado a uma cidade de ferro. Ele nunca tinha visto uma
cidade assim.
A luz do sol não era capaz de atravessar aquela nuvem, tal era a
sua negrura e espessura.
Os homens daquela cidade viviam mergulhados nas
trevas, privados da luz do sol.
Os primeiros humanos que Cláudio viu, eram
alguns operários que trabalhavam ao toque de música.
O trabalho deles era puxar
lentamente umas correntes ligadas a uns mecanismos gigantes, que produziam a
energia necessária para fazer funcionar as grandes fábricas e os grandes
espaços comerciais daquele mundo de ferro.
Cláudio notou que em cima de uma
plataforma, havia um grupo musical ligado a um enorme computador.
Os músicos
mascarados de bruxas e de feiticeiros davam, com as suas músicas endiabradas, o
ritmo ao trabalho. Fazia lembrar o barulho dos tambores das galés.
Era de arrepiar ouvir os operários a
cantar e a trabalhar, suplicando por mais trabalho. Caramba. Pensou Cláudio
-, como é isto possível!
Era um espectáculo horripilante!
E como tudo é permitido no mundo dos
sonhos, Cláudio tornou-se omnisciente. Ele reparou que aqueles homens tinham
sido submetidos a uma transplantação cerebral.
Tinham-lhes arrancado o cérebro
da cabeça e colocado um engenho electrónico no lugar. Eram pessoas com um corpo
humano e um cérebro de metal.
Cláudio, olhava meio aparvalhado para tudo
aquilo, calculando os lucros fabulosos que ganhavam os donos daquele mundo. A
mão-de-obra estava finalmente a preço de saldo.
Resolvendo dar mais alguns passos sobre a
nuvem negra, ele reparou numa escada muito estreita que descia até àquela
sinistra cidade.
Cláudio ainda não tinha visto nada! Agora é que o seu sonho iria começar!
A primeira coisa que viu lá em baixo, ao
espreitar pela montra de uma casa, o deixou completamente estarrecido.
Homens
com órgãos femininos e mulheres com órgãos masculinos desfilavam diante dos
clientes que ali se encontravam ávidos de prazer.
Uma equipe de cientistas, a
título de experiência, mudavam os órgãos destas pessoas em escassos minutos,
utilizando aparelhos altamente sofisticados.
Ao lado, havia uma estação de
ambulâncias voadoras, que levavam os doentes que eram fulminados por doenças
desconhecidas, cem vezes piores do que a SIDA, resultantes de um grau muito
avançado da perversão da natureza humana.
Cláudio, reparando num grande edifício
mesmo à sua frente, aproximou-se, puxando pela sua imaginação, a ver se
descobria o que poderia ser aquilo agora.
Ele já tinha ouvido falar, mas o que
viu era demasiado para um ser humano
como ele. Ele via seres, com órgãos de homens e órgãos de animais enxertados
uns nos outros, sem qualquer sombra de respeito pela vida.
No fundo do salão
havia alguns homens todos vestidos de branco.
Devem ser os cirurgiões responsáveis por
todas estas aberrações - meditava ele em sua alma mutilada.
Os cientistas voltaram-se para Cláudio,
como se tivessem lido os seus pensamentos. Cláudio, horrorizado, segurou-se no
corrimão das escadas para não cair, ao ver as suas cabeças metálicas, lisas ...
com umas luzinhas vermelhas piscando, no lugar dos olhos.
Estes cientistas, depois de degolados,
levavam com um computador no lugar da cabeça.
Esta operação era feita por robôs que trabalhavam
debaixo da orientação de poderes ocultos. Os demónios forneciam-lhes informações desconhecidas pela ciência.
Com a ajuda dessas informações, eles eram
capazes de mudar e enxertar órgãos e até podiam fundir o DNA do homem e do
animal e criar novas categorias de seres. Aberrações quero dizer!
Um dos grandes objectivos dos patrões
daquele mundo era ver se podiam criar seres, sem inteligência, que finalmente
trabalhassem de borla para eles.
Esses seres sem inteligência, tornavam-se
também a polícia política daquela sociedade. Ligados a um Computador Central,
não faziam mais do seguir as ordens dos barões e dos governantes daquele mundo
de ferro.
Eles estrangulavam logo quem levantasse cabelo, ao mínimo do sinal
computador.
Eles tinham um minúsculo ship dentro deles que, ao receber a
ordem do Computador Central, lançava um foguetão
infinitesimal que percorria os
milhares de quilómetros de tendões nervosos, músculos e vasos sanguíneos em
menos de uma milionésima de segundo e eles estrangulavam até a sua própria mãe
se fosse preciso.
Os juizes da cidade também tinham levado
com um ship na tola e limitavam-se a
seguir as ordens do Computador Central.
O seu trabalho resumia-se a dar ordens
de morte imediata, caso alguém desobedecesse a um regulamento programada pelo
Grande Computador.
Os professores também estavam programados,
para ensinar estritamente o programa do Estado.
Cláudio, não encontrou muitos filósofos no seu sonho, nem cantores, nem
artistas.
Eram profissões perigosas para o Estado, pois criavam o
descontentamento no meio do povo.
Jornalistas para quê, eram muito intrometidos!
Os poucos que ainda havia, trabalhavam
para os velhacos.
Os que quisessem seguir uma destas
profissões, eram obrigados a levar também com um ship na cabeça. Ninguém podia fugir nem um dedo que fosse da
Ideologia daquele Estado de ferro.
Só a altíssima burguesia tinha o direito
de ficar com o cérebro intacto, mas ai deles se arreganhassem o focinho contra
o Estado!
Cláudio, às tantas, olhando para dentro de
um enorme salão, viu alguns vultos fazendo gestos, como se estivessem num
ritual religioso.
Eles falavam com alguém que Cláudio não podia ver. Colocando
a sua mão na maçaneta, girando-a, ele abriu a porta e entrou.
O que ele viu dentro daquele salão era
mesmo coisa de sonho.
Os vultos estavam falando com demónios que
eram trazidos da realidade espiritual para a realidade natural. Os demónios não tinham forma, nem tamanho,
nem ocupavam um lugar definido.
Ele só podia ouvir as ordens que davam aos
governantes e aos cientistas que ali se encontravam:
Sejam maquiavélicos,
destruam tudo o que existe na terra que pertence a Deus e maltratem os pobres o
mais que puderem.
Boquiaberto, Cláudio apercebeu-se que eles
já podiam trocar a alma do corpo de uma pessoa para outra, criando seres
grotescos que serviam para fins muito baixos.
Terrificado, ele veio a saber que eles até
já conseguiam enxertar a alma de um demónio no corpo de um ser humano e
vice-versa.
Não era de estranhar que ele estivesse a
ter um sonho tão horrendo, pois Cláudio conhecia bem os horrores descritos no
livro do Apocalipse.
Afinal os horrores apocalípticos serão muito piores que os
horrores do seu sonho.
Aos poucos, ele ia descobrindo uma coisa
atrás da outra, cada vez pior. Mais uns
passos pelo sonho e ele apercebeu-se que as pessoas e os objectos já podiam ser
teleportados através de corredores
virtuais recentemente descobertos.
Depois de desintegrados dentro de um
aparelho ultra-molecular, eram enviados de um local para outro.
Um exército,
com todo o seu equipamento, podia deslocar-se, num segundo, para um local
afastado onde estivesse a haver uma tentativa de insurreição contra o Estado.
Esta engenharia paranormal era fabricada pela fortíssima União dos Estados do
mediterrâneo, ainda mais poderosa que o antigo Império Romano.
O Imperador
deste império era um homem mais potente que Augustus.
O seu conselho imperial tinha a sede na
capital da União. Esta Grande Cidade, a “Babilónia”, era vigiada por um
dispositivo de segurança nunca visto.
O Grande Computador, chamado a “Besta”,
instalado no Palácio do Imperador, podia seguir rigorosamente os passos de cada
habitante do planeta.
Ninguém podia piar contra a ideologia do
Estado, pois era logo caçado pelo Grande Computador e estrangulado
imediatamente.
Os passos e os pensamentos das pessoas logo detectados, viajando
pelos corredores virtuais, eram introduzidos no terminal da “Besta”.
A
directoria secreta da “Besta” iniciava com o número 666.
O material que armazenava a informação da
“Besta”, era feito de uma substância neutra, que não era física nem espiritual.
Estes novos ships virtuais que eram milhões de vezes mais pequenos do que os da
idade da electrónica, tinham a capacidade para armazenar milhões de vezes mais
informação e de serem processados e comunicados a uma velocidade milhões de
vezes mais rápida.
Ele
veio a saber também que o estudo sobre Fenomenologia
deixou praticamente de existir, pois o mundo sobrenatural já era conhecido
através de uma aparelhagem muito sofisticada.
A única área da Fenomenologia que ainda se encontrava em discussão era a “origem da
vida” e a “natureza de Deus”!
Os robôs e os cientistas, com a ajuda dos
demónios, tentavam conhecer a origem da vida e descobrir a natureza de Deus.
Cláudio, podia ouvi-los a conversar naquele salão: Os elementos já estão completos? -
Perguntava um.
Sim estão, mas vamos conferi-los: água,
oxigénio, carbono e os outros componentes informava por telepatia um dos
cabeça-metálica:
Diodromaníaco,
Iodromaníaco,
Aiodromaníaco,
Biodromaníaco,
Oiodromaníaco.
Também estão completos. Mas não deu resultado!
Arre! Vou repetir a experiência, disse o
chefe do departamento
Desta vez vai dar, chefe, encorajava-o um
dos demónios.
Mas não deu resultado também.
Ah! Oh! Eia! Upa! Viva! gritou Cláudio,
partindo disparado pela parede fora.
Safa! Parece que não vamos conseguir. -
Murmurou o chefe entre dentes.
Descobrirem a origem da vida é que nunca
conseguirão, isto só a Deus pertence.
Os Homens e o Diabo são uns ignorantes gritava Cláudio, com o punho fechado,
fugindo a toda a mecha daquele lugar. O seu sonho estava a chegar ao
fim.
Ele corria a toda a pressa em direcção à
escada, para subir para a nuvem negra, quando viu um grande Palácio mesmo à sua
frente.
Mas que luxaria! Quem será que vive ali?
Decidido, ele entrou e aproximou-se do
salão principal. Parecia que estava a decorrer uma reunião muito importante.
Assentado num grande trono, vermelho
escuro, coberto de pedras preciosas, estava um homem que tinha aspecto de quem
queria parecer igual a Deus.
Mas que vaidoso! - Exclamou Cláudio.
Da enormidade da sua boca saiam injúrias e
blasfémias que só podiam ser oriundas do inferno. Ele não precisava de
alto-falante, pois tinha um vozeirão de dragão.
Cláudio reparou que a Besta estava dando
uma entrevista e todo o mundo podia vê-lo através de imagens comunicadas
virtualmente.
Não importava onde as pessoas estavam, na
cidade ou no campo, em casa ou na rua, ou mesmo na casa de banho, a comunicação
atingia todos os pontos do planeta. Toda gente o via e o ouvia.
As imagens apareciam pura e simplesmente
penduradas no ar, conforme o local onde a pessoa estava e o vozeirão da Besta
vindo do vazio as atingia.
A Besta tornava-se assim omnipresente e podia estar
ao lado de cada pessoa do planeta.
Todo o mundo podia ouvir as suas promessas
mentirosas.
Tão diferentes são das promessas do
carpinteiro de Nazaré, refletia Cláudio.
Eu prometo rios de paz e de justiça para
todos, ricos e pobres.
Eu prometo punir severamente os autores da
exploração do homem pelo homem.
E olhando para os seus capangas, com os olhos
carregados de zombaria, ele deu uma enorme gargalhada.
Não tenham medo de seguir o programa do
Estado, só ganham com isto!
Não tenham medo de serem marcados pelo meu número
secreto (666) no meio da testa, berrava ele, só assim estarão seguros e
poderão ter sucesso nos vossos negócios.
Neste número está a chave de toda a
ciência e de todo o sucesso político e económico.
O número 666 era-lhes digitado no meio da
testa, incorporado numa banda secreta, impossível de ser decifrada, que estava
em contacto permanente com os satélites auxiliares do Grande Computador 666.
Desta forma, os que eram marcados pela Besta, perdiam a sua liberdade.
A Besta, apresentava-se ao mundo como o
divino Caesar Augustus, o Digníssimo Imperator, salvador do Imperium, mas tinha que se contentar com
o número 6, pois o 7, o número perfeito,
só pertence a Deus.
Cláudio, horrorizado, não conseguiu
suportar mais a enxurrada de aldrabices que saía daquelas malditas trombas e
decidiu regressar do seu sonho, subindo para cima da nuvem negra.
O Salvador do mundo não é a Besta que
governa este mundo de ferro, tenho a certeza, exclamava!!!
Cláudio, olhando
para baixo, aliviado, quando pisava o último degrau da escada que o levou de
novo
para cima da nuvem negra.
Ao acabar de pronunciar isto, já em cima da nuvem,
Cláudio levantou os olhos para o alto e, maravilhado, viu descer uma multidão
de anjos montados em cavalos brancos, chamejantes, vestidos de vestes douradas,
resplandecentes.
À frente deste exército vinha o Rei dos
Reis.
É o exército celestial comandado pelo Rei
dos Reis, é o fim do reino da Besta - dizia Cláudio, lembrando-se do discurso
de Gabriel.
Jesus Cristo vinha à frente daquele grande
exército, num carro dourado, puxado por cavalos mais brancos do que a neve, com
uma espada de cobre, brilhante, desembainhada.
A
santidade que reluzia do rosto Dele, era oposta à corrupção que jorrava do
rosto da Besta.
A Sua voz era forte, como a da Besta, mas
soava como o barulho das águas ao cair de uma cascata de águas cristalinas.
Os exércitos celestiais lutavam contra os
exércitos de ferro e de demónios comandados pela Besta. Nisto, houve um
silêncio de meia hora. A seguir a este silêncio de morte, o Rei dos Reis
pronunciou a sentença final.
Então, a Besta e os exércitos que o
seguiam, foram agarrados e lançados vivos, aos guinchos, no incandescente lago
de fogo.
Até que enfim, é o fim deles! - exclamava
Cláudio. Mas, surpreendido, ele via que o fogo que saía do rosto de Deus os
abrasava, mas não os consumia.
Cumpria-se exactamente o que a Bíblia diz,
eles rangeriam os dentes, cheios de remorsos, por toda a eternidade.
Enquanto estavam na terra, fazendo o mal,
pensavam que ninguém lhes pediria contas pela sua maldade! Refletia Cláudio.
E, enquanto a Besta e seus exércitos e os
demónios eram lançados no lago de fogo da ira de Deus, os anjos levavam os
homens de papelão para o céu.
Nisto, Cláudio, acordou sobressaltado da
sua cesta, parecendo ainda ver à sua frente as labaredas do inferno.
Um versículo lhe veio logo à mente:
João 3:16 "Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas
tenha a Vida Eterna".
Obrigado, meu Deus, pelo Teu Filho, pela
Sua morte, pela Sua ressurreição e pelo Seu regresso. - disse Cláudio cheio de
gratidão.
Nota importante:
Se puderem leiam os textos em baixo para melhor compreenderem este capítulo 5.
S. João 3:16
S. João 3:19-21
Filipenses 3:19
II Tessalonicenses 2:4
Apocalipse 13:17
Apocalipse 13:18
Apocalipse 19:20, 20:15
Marcos 9:42-48, Mateus 25:41
CAPÍTULO 6
O
DISCURSO DE GABRIEL SOBRE O FIM DO MUNDO
Gabriel
aparece a Cláudio e continua o seu discurso profético
O sol da tarde batia-lhe em cheio no rostoe a sombra de uma pessoa conhecida se desenhava mesmo ao seu lado.
Gabriel! Aqui na prisão?
Estou aqui para finalizar o meu discurso. Retorquiu Gabriel, com a justiça divina estampada no seu rosto resplandecente.
Gabriel, tu foste o autor do meu sonho, não
foste? Perguntou-lhe Cláudio baixinho.
Olha, não me perguntes nada interrompeu Gabriel.
E o seu discurso, parecido com o sonho de
Cláudio, continuou:
Conheces o provérbio que diz: “Quem ama o
dinheiro, nunca se fartará dele”?
Mas, balbucilou Cláudio, assombrado.
Não me interrompas - disse-lhe Gabriel
firmemente, retirando as palavras da boca de Cláudio,
Deus conhece as
profundezas do coração do homem e sabe que não existe nada neste mundo que
satisfaça a sua maldita ganância.
Gananciosos, não fossem eles e não haveria
pobres, resmungou Cláudio muito baixinho.
Gabriel, dando uma risada santa, continuou
o seu discurso empolgante:
Acordos de paz?! Direitos humanos!
Qual
quê! Isto é tudo bazófia deles! Se
calhar eles pensam que vão acabar com as guerras! E com a opressão?
E o
discurso do anjo ia-se revestindo de uma linguagem humana.
Essa história da solidariedade social é uma
farsa. Tudo o que eles fazem é por interesse. Só dão alguma coisa aos pobres
para aliviarem a suas consciências carregadas de iniquidade.
Quais pobres! O
que eles querem é viver à grande e à francesa.
Vão enganar outro que a mim é que não
enganam, exclamou Cláudio em voz alta.
Gabriel, dando um outro sorriso santo,
continuava:
Antigamente os governantes e os burgueses
diziam que acreditavam em Deus. Que remédio, pois, naquela altura, toda a gente
acreditava! Hoje, como ninguém já não acredita em nada.
O discurso de
Gabriel não perdoava ninguém.
Eu sei!!! Oh Gabriel, mas quem não sabe!?
Meu filho, não me digas nada, ouve-me com
atenção, a Bíblia diz: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os
males”.
É verdade, se não fosse o amor ao dinheiro
os meus pais ainda tinham a sua barraca. Disse Cláudio sem poder conter-se.
Os ricos não olham a meios para atingirem
os seus fins! A ciência está a tornar-se sócia do diabo, continua Gabriel.
Quem diria! A ciência e o diabo juntos! - disparou Cláudio!?
A Bíblia diz:
"a ciência
multiplicar-se-á".
E, eu digo, que com o aumento da ciência e da tecnologia, a
desgraça dos camponeses, dos operários, dos marginalizados e dos pobres
multiplicar-se-á também, diantou
Gabriel.
E será que os cientistas descobrirão o
segredo da vida como andam por aí a gabar-se, Gabriel? Perguntou Cláudio,
recordando-se do seu sonho.
A verdadeira essência da vida não se resume
às aparências. A vida não é uma substância e muito menos um cálculo aritmético.
É um dom supremo, imaterial e inefável de Deus.
E Gabriel terminou assim o
seu discurso.
Cláudio, estás a ficar doido? -
perguntou-lhe um preso ao ouvi-lo falar sozinho.
Cláudio olhou para Gabriel, meio
assombrado, e replicou:
Eu, sozinho, não, eu estou a falar com e interrompeu ao ver a figura de Gabriel mudar subitamente de aparência e
desaparecer através das muralhas da prisão.
Nota importante:
Os 2 versículos citados:
I Timóteo 6:10
Daniel 12:4
CAPÍTULO 7
A
LUTA DE JUSTINO EM DEFESA DOS POBRES
Os
encontros do Padre Justino na luta da vida
Os meses corriam velozmente e Cláudio
aproximava-se do final dos seus estudos de Direito.
Ele estava sentado no bar da Universidade,
quando reparou no título de uma crónica do jornal:
“O Pai dos pobres em pé de
guerra com o Bispo”.
Ele devorou a
crónica num instante. Justino, o novo padre da cidade, era “o Pai dos pobres”.
Ele denunciava abertamente as injustiças cometidas pelo Bispo, a quem chamava
de “cão de guarda dos ricos” e de “raposa traiçoeira”.
Justino vinha de uma família rica, mas o
cronista dizia que Justino já sofria,
desde criança, ao ver os camponeses e os operários que trabalhavam para
os seus pais serem explorados e oprimidos sem dó nem piedade.
Bonifácio, um dos criados mais velhos da
casa, que conhecia a bondade que reinava no coração do menino, falava-lhe,
muitas vezes, de um cemitério onde os pais enterravam os trabalhadores vivos.
Justino recebeu logo desde menino o dom
divino que transformou os seus braços pequenos no ninho dos pobres.
A gente
daquela região chamava-o:
“O D.Quixote dos pobres”.
Mas os pais chamavam-no:
“A ovelha ranhosa da
família”.
Não tinha conta as vezes que se ouvia a esganiçada da mãe a berrar
histericamente "não senhor, não
penses, que vais tornar esta casa num ninho dos pobres".
Justino, tendo acabado a escola
secundária, formou-se em Direito e, mais tarde, tirou o curso de Teologia.
Ele
denunciava veemente as injustiças
cometidas pelos senhores da terra. A sua própria família não escapava.
Fosse onde fosse, ele citava, amiudadas
vezes, sem medo, as palavras de Cristo:
“É mais fácil entrar um camelo no fundo
duma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus”.
Toda a gente, excepto a gente rica, amava
Justino.
Ele protegia o Capuchinho
Vermelho do lobo mau e só o Zé do
Telhado e o Robin dos Bosques se
podiam comparar a este D.Quixote de la
Mancha!
Mal terminou os seus estudos de Direito,
Justino formou o seu partido político com a ajuda de alguns dos seus amigos
nobres, que temiam mais a Deus do que aos homens.
Mas o partido não durou muito, pois a
família e a maior parte dos seus amigos começaram a difamá-lo, a menina com
quem ia casar o abandonou e os jornais, a rádio e a televisão enchiam os ares
de acusações falsas contra ele.
A reputação de Justino foi enxovalhada de
tal maneira, que ele teve que abandonar
o seu projecto político. Justino decidiu então seguir a carreira sacerdotal.
Ele não concordava com o celibato, nem com o culto aos santinhos ou com o
purgatório, mas, como sacerdote, ele poderia pelo menos continuar a lutar
contra a injustiças sociais.
O Sacerdote era para Justino um arauto de Deus
que, para além de pregar a salvação da alma, devia lutar em favor dos pobres.
O cronista escrevia ainda que Justino era
diferente ao Padre Vieira, pois este perdia muito tempo em
disputas contra os outros padres, acerca da língua
portuguesa!
Mas, Justino, segundo o cronista, embora não fosse um erudito
da língua portuguesa, era um erudito do amor e da justiça de Deus!
Para Justino o que interessava era ter uma
boa cabeça e não uma cabeça cheia de conhecimentos. Era ter a alma cheia do
amor de Deus e não os bolsos cheios.
Justino, ao sentir-se desamparado por
todos, tentou arranjar algum apoio no meio dos sacerdotes, mas foi-se
apercebendo, aos poucos, que os sacerdotes gostavam muito mais do Lobo do que do Capuchinho Vermelho.
Cláudio, olhando para o relógio, deu um
salto da cadeira ao ver que tinha estado ali quase duas horas a meditar naquela
crónica.
Ele tinha que voltar para a prisão, senão eles eram ainda capazes de
pensar que ele tinha fugido para o Brasil para se encontrar com o Foderico. Depois de ter lido aquela
crónica, ele queria era encontrar-se com o padre Justino.
O Foderico
que fique lá pelo Brasil, que em Portugal já estamos cheios deles! Pensava
Cláudio de caminho para a prisão e, ora esta, tê-lo agora como artista principal
da telenovela brasileira:
“Os padres adoram tentações”, que estão a passar
na TVI e a dar muita polémica nos meios
religiosos e políticos .
Bem, ele continua a dizer que está inocente,
mas não deve ser uma grande peça para andar envolvido em coisas dessas!
A
Igreja que os deixe é casar - meditava Cláudio ao entrar pelo portão da prisão.
Nota importante:
O versículos citado:
Mateus 19:23-24
CAPÍTULO
8
OS
GRANDES PROCURAM DAR CABO DE JUSTINO
Os
ricos não gostam nada da vida piedosa do Padre
Justino acusou de novo o Bispo
alcunhando-o agora de “víbora do
Ministro”. É que o Senhor Bispo passava
o tempo todo na casa do Ministro.
Eles aproveitavam as partidas de xadrez para
ensaiarem, às gargalhadas, o cheque mate a dar ao desgraçados dos agricultores
e operários.
O Bispo adorava os banquetes dados pelo Ministro em sua luxuosa
residência.
A seguir ao banquete, eles faziam um culto de oração dirigido pelo
Bispo, onde pediam fervorosamente aos santinhos pela morte da democracia.
Desta forma, a Igreja recomeçava a receber
todo o apoio do governo. Desviavam fortunas dos cofres do Estado, para a
construção de novos templos.
È claro que, uma parte, ia direitinho para o bolso
do Bispo.
A víbora retribuía os favores ao governo, mantendo o povo mais ou
menos controlado pelas as suas maquiavélicas pregações.
O Bispo que vivia debaixo de um pesadelo,
desde que Justino chegou à cidade, decidiu chamá-lo para lhe passar um sermão:
Senhor
Padre tenho aqui um saco cheio de acusações contra o senhor - disse o Bispo logo
para começar.
Essa agora! Senhor Bispo, respondeu o
padre fingindo surpresa, diga-me lá quem são os meus acusadores.
Safa! não me diga que já não sabe?
Bem, é claro que eu sei que as minhas
pregações falam muito do amor e
da justiça de Deus e que como durmo no asilo e não ando lá muito bem
vestido como vê, porque ...
Porque quer. Respondeu o Bispo
encolerizado.
Mas
saiba senhor padre que o Ministro é um dos seus acusadores.
O estilo de vida do
senhor padre faz-lhe nervos! Ele acha que não há necessidade nenhuma para um
padre ser tão fanático.
Além do mais,
Justino, disse o Bispo, num tom de voz mais suave, o estilo de vida que
leva, compromete muito o estilo de vida, mais sofisticado, não é verdade do Ministro e dos outros governances, compende?
Compreendo, sim senhor e de toda a escumalha
que o rodeia, incluindo o Senhor Bispo.
Mas saiba, Senhor Bispo, que circulam
por aí algumas bocas a seu respeito, que é muito amigo dos rapazes, enfim, pode
estar certíssimo que vão tratá-lo da saúde.
O Bispo engoliu em seco e Justino
aproveitou, para continuar a disparar:
Quem ficar com um peso na consciência ao
ouvir-me falar da bondade de Deus, que não ponha lá os pés! Exclamou o padre,
cheio de um furor santo.
Deseja Vossa Excelência fazer mais alguma
acusação?
O Bispo respirou fundo, preparando-se para
um novo ataque. Sim tenho mais uma coisa. Disse o Bispo, com o rabo meio metido
entre as pernas.
Espere só um momento, e a sua voz foi
retomando a autoridade, como se estivesse a tirar da manga o seu último
trunfo.
Abriu a porta e mandou entrar um
personagem que Justino nunca tinha visto de lado algum.
Que personagem tão estranho:
"murmurou Justino mentalmente!"
O ambiente também tornou-se estranho,
tenebroso, mal aquele personagem pôs os pés na sala.
Justino não sabia
porquê!!! Só sabia que se sentia como que embruxado, sempre que os seus olhos se
cruzavam com os olhos daquele personagem.
Justino vasculhava o cérebro, à procura de
dados que lhe permitissem fazer o diagnóstico daquele personagem. O que saltava logo à vista era a sua alta
estatura.
Ele era muito alto mesmo e muito magro, baloiçando como uma torre
para os lados, quando andava debruçado para a frente.
Os braços compridos e as mãos horrendas,
baloiçavam, desarticulados, tocando nos joelhos.
O seu rosto, longo e pálido, fazia-o parecer
uma daquelas criaturas maquiavélicas dos filmes de terror. Tinha algo de
sobrenatural no seu olhar e no seu sorriso.
Se Gabriel estivesse ali ao lado dele, notava-se logo a diferença entre
os dois. Gabriel tinha um sorriso inocente, este personagem tinha um sorriso
trocista.
Gabriel tinha um olhar santo, este homem tão alto e cadavérico, que
baloiçava para os lados, ao andar todo encurvado, tinha um olhar diabólico.
Eram diferentes como do dia para a noite.
É um advogado do diabo, aposto. Pensou
Justino, enquanto silenciosamente, no seu íntimo, clamava a Deus por socorro.
O visitante sentou-se mesmo à frente de
Justino, cruzando as suas longas pernas.
Justino ao olhar para ele, arrepiou-se
todo, pois ao vê-lo naquela posição, de pernas cruzadas, todo encurvado, com o
longo queixo caído a tocar no peito, os braços desajeitados tombados sobre os
braços do cadeirão e as faíscas demoníacas saltando do seu olhar pavoroso, parecia
um autêntico demónio.
Não pode, ele está endemoninhado, pensava Justino.
O senhor padre está a dormir? Perguntou o
Bispo com um berro.
Justino deu um pulo do fundo do seu
pensamento, e respondeu:
Sim estou. Não, não estou senhor Bispo, pronto, o seu comparsa que dê inicio às suas acusações.
Primeiro, as apresentações. - Disse o Bispo
com um sorriso vitorioso.
É um amigo que vive na alta esfera,
compreende, das pessoas que mandam neste mundo e, de facto, só se desloca
quando é necessário tratar de assuntos muito sérios, e o seu assunto é ...
Muito grave, Senhor Bispo. Já sei. Disse Justino cortando a palavra ao Bispo.
Mas, como se chama tão ilustre personagem. Perguntou ele, engolindo saliva.
Lucénio, retorquiu o Bispo com voz
tenebrosa.
Abrenúncio! Safa! Senhor Bispo. Mais um
pouco e era Lucífer.
Não me diga
que vocês já chegaram ao ponto de fazer um pacto com o diabo?
Não me admirava nada!!! Exclamou ele,
desviando os olhos da maléfica criatura, pois, os homens na sua ganância
estão dispostos a tudo. Mas que trio diabólico não fazem vocês, o Senhor Bispo, o Ministro e Lucénio, rematou Justino.
Basta! seu filho da mãe - berrou o Bispo,
simultaneamente com Lucénio, saindo da bocarra deste, um grito descomunal vindo
do inferno:
Fora!!! Fora daqui, que a tua bondade nos
cega.
Justino levantou-se e saiu a correr pela
sala fora, ameaçando-lhes:
Eu irei a Roma e falarei pessoalmente com o
Papa.
O Papa
Ah! Ah! Ah! - Ria o Bispo, descaradamente.
Oh! Oh! Oh! o Papa, ria Lucênio ao
mesmo tempo, totalmente fora dele ...
Ah! Ah! Ah! Oh! Oh! Oh!
Riam os dois, abraçando-se, batendo com
força nas costas um do outro, como tarados, descontrolados, rindo com
gargalhadas sepulcrais.
Ah! Oh! Ah! Oh! Ah ! Oh! Ah!
Enquanto isso o padre Justino fugia,
descendo as escadarias como um foguete, perseguido por aqueles risos
endemoninhados:
Ah! Ah! Ah! o Papa!? Oh! Oh! Oh! Ele vai fazer
queixas ao Papão.
CAPÍTULO
9
GABRIEL
PEDE A JUSTINO PARA VISITAR CLÁUDIO
Gabriel
pede ao Padre Justino para libertar Cláudio da prisão
Justino não conseguia pregar olho naquela
noite. Ajoelhando-se ao lado da cama, levantou as
aos céus e pediu que
Deus lhe desse coragem, para continuar a sua espinhosa missão.
Às altas horas da noite, a campainha da
porta tocou.
Justino, ainda ajoelhado, pondo-se de pé
num salto, gritou. Credo! Quem será a esta hora! Não me digas que é outra vez
o advogado do diabo, meditava ele em seu coração, quando ouviu uma voz
desconhecida, mas pacífica, a chamá-lo.
Padre Justino, não tenhas medo, abra a
porta, sou eu - disse a voz do outro lado.
Justino, devagar, muito devagarinho, abriu
a porta e ao olhar para o rosto do seu visitante, caiu sem forças por terra.
Quem é ???
As palavras saiam
enrouquecidas da sua garganta.
Ouve, Justino, tem calma, eu venho por bem.
Quem é você??? Continuava Justino,
assombrado, ainda deitado por terra.
Eu sou Gabriel, mas, vá lá, levanta-te.
Gabriel! Lucênio! Exclamava, Justino, embasbacado, procurando encontrar
um significado para aqueles nomes.
Justino, eu vim cá para te pedir um favor.
É muito simples, gostaria que fosses à prisão, amanhã, e perguntasses por um
jovem chamado Cláudio.
Mas eu não conheço nenhum jovem chamado
Cláudio! Disse Justino.
Vai, Justino, fala com ele e liberta-o da
prisão. Ele te será um bom companheiro. Olha, diz-lhe que vais da parte do
Gabriel. Ele conhece-me muito bem.
E, Justino, viu o visitante voltar-lhe as
costas e partir. Os seus olhos seguiram as suas passadas. Abismado, ele juraria
que Gabriel não andava com os pés no chão, mas voava!?
No dia seguinte, Cláudio sentiu a chave a
girar na fechadura. A porta abriu-se e ele deparou-se com um guarda e o padre
Justino. O padre entrou e o guarda saindo, fechou a porta à chave.
Eu sou Justino, talvez já tenhas ouvido
falar de mim?
Ó padre Justino, mas quem não ouviu falar
de si! Eu tenho lido e ouvido tanta
coisa linda a seu respeito e oiço falar de si na universidade.
Na universidade! O que estás fazendo na
universidade?
Estudando senhor padre, é que eu tenho
uma autorização especial para terminar o meu curso de Direito.
Estou a ver que o teu comportamento na
prisão é exemplar, mas, diz-me, Cláudio, há quanto tempo estás na prisão ?
Já lá vão cinco anos senhor padre.
Cinco anos!!! Exclamou o padre
surpreendido.
Apanhei dez anos de cadeia - completou
Cláudio.
Ora! Quem foi a vítima?
Ninguém. Foram algumas calúnias ... mas,
senhor padre, quem foi que o enviou cá?
A assistência social?
Se queres que te diga, eu nem sei lá muito
bem, meu filho, mas pelo o que me parece, acho que foi a assistência
celestial! Conheces um velhote chamado
Gabriel?
Gabriel, ó meu anjo, meu velhote, claro que conheço. Mas! O senhor padre também conhece o velho Gabriel,
quando é que esteve com ele?
Olha,
Cláudio, ele é que esteve comigo e pediu-me para fazer-te uma visita.
E desapareceu logo! Exclamou Cláudio,
lançando as mãos à boca, ao aperceber-se que já tinha ido longe demais.
Não disseste nada que eu já não saiba, adiantou Justino. Eu sei que Gabriel é um anjo e que Deus quer dar um nó aos
nossos destinos.
Diz-me lá agora, que calúnias foram essas?
O senhor padre conhece a família Fortunato.
O Senhor Fortunato e o seu fillho Lucílio?
Lucílio, Lucénio! Exclamou o padre em voz
alta, coçando a cabeça e prosseguiu:
Os Fortunatos?! Foram eles que lançaram as
calúnias contra ti?
Não é de admirar,
daquele tipo de gente tudo se espera! E continuou. Diz-me lá então que
género de calúnias levantaram contra ti?
E Cláudio contou-lhe tudo o que se tinha
passado naquele noite.
Pobre Cláudio e pobrezinha da Clara!
Agora compreendo donde vem a minha admiração
por aquela menina, ela não é Fortunato. Disse o padre.
Não tardará muito que o seja senhor padre,
se já não o é, pois o safado do Lucílio andava doido por ela. E o pai de Clara não se importa nada, pois
...
Deixou-se enganar pela luxúria deste mundo.
- Acrescentou Justino.
O padre Justino assegurou a Cláudio que
iria ter uma conversa com Clara, pois, afinal, ela conhecia a verdade e o
poderia defender. Cláudio, muito céptico, não acreditava que ele conseguisse
alguma coisa.
Não teve ela cinco anos para fazê-lo e não
o fez! Exclamou ele em voz alta. E
rematou de seguida. Está a compreender-me senhor padre? Não se esqueça que Clara nunca me contactou
nem escreveu.
A
riqueza é uma isca deliciosa e não há pessoa nenhuma que não se deixe engodar.
Será que Clara já não foi engodada, senhor padre? - Perguntou ele, sabendo de
fonte limpa, que não era o coração que falava, nem a sua razão, era a sua boca.
Nós não conhecemos a história toda, meu
filho, mas, eu vejo agora que aquele olhar longínquo de Clara é um olhar de
quem anda à procura de um sonho perdido. É notável o olhar de esperança que
vemos por detrás do seu rosto banhado pela dor.
Sabe, padre Justino, eu já não me importo
nada com isso. É que eu agora tenho outro amor a arder cá por dentro. E, ainda bem, pois este amor silenciou o
calor do meu amor por Clara.
E, se assim
não fosse, o que mais me restaria? Além
de ter perdido o amor de Clara, perdi a minha mãe, pois enlouqueceu, coitada, e
não sei aonde foi parar o meu pai!?
Conta-me, conta-me lá mais um pouco da tua
vida Cláudio, fala-me lá desse amor que está rebentando o teu peito?
Retorquiu o padre com a voz cheia de afeição e os olhos cintilando de ira.
Justino, jogando-se nos braços do padre, a
soluçar, contou-lhe toda a sua vida. Falou-lhe, primeiro, da forma cruel como
os seus pais foram tratados. Por causa de uma pobre barraca!
A seguir,
relatou-lhe o macabro acidente, quando aquela bala fatal perfurou o coração do
Senhor Panchito, como lhe chamavam lá na cidade.
Contou-lhe como o pai foi
sentenciado injustamente, como tinha desaparecido, e como a sua doce mãe tinha
enlouquecido.
Ele jogou da boca para
fora tudo aquilo que o recalcava, que o revoltava. Em poucos minutos despejou a
raiva toda que o consumia por dentro.
O desejo que tinha de lhes rasgar as
máscaras com as unhas e cuspir-lhes no rosto. Ele não lhes daria tréguas. Eles
iriam engolir os seus próprios pecados.
A raiva que saltava dos lábios de Cláudio era tão forte, que enraivecia
a raiva alojada no coração e na mente do padre Justino.
Cláudio despejava sem medida a sua
revolta, jurando em voz alta e descontrolada que se não conseguisse nada por
bem, na sua luta contra a opressão e a injustiça, ele utilizaria a arma deles - a crueldade e a violência.
A violência, dizia ele, é ....e
abruptamente baixou o tom da conversa.
Está a ver senhor padre como esta raiva me
possui? Perguntou.
Mas, continuou, não é esta raiva que me
dá forças para lutar contra a exploração e a corrupção?
E se for necessário, dizia Cláudio, recomeçando a engrossar a voz, eu irei enganar, mentir, roubar,
destruir e até matar. Se eles assim o quiserem, assim o terão, “olho por olho,
dente por dente”.
O padre Justino sorria interiormente,
embora com uma certa preocupação, ao sentir que Cláudio estava animado pelos
mesmos sentimentos que animaram todos aqueles que, durante a História da Humanidade, têm lutado contra os opressores, em favor dos oprimidos.
Esses
terroristas revolucionários a quem os verdadeiros terroristas andam sempre a
acusar de terrorismo! Justino, sabia, por experiência própria, que Cláudio
precisava de estar animado por aquela raiva, para poder continuar a sua luta
contra o terrorismo económico e político mantido pelos donos deste mundo.
Eles é que são uns grandes terroristas, não
é senhor padre. Disse Cláudio, como que adivinhando o pensamento de
Justino.
Quem olhasse para Cláudio, com aquelas
rugas na testa e grandes olheiras, esquelético, parecia um desses rebeldes que
andam escondidos na mata a lutar pelos direitos dos oprimidos.
CAPÍTULO
10
A
BATALHA ENTRE AS FORÇAS DO MAL E DO BEM
Justino
visita Lucílio e Lucénio visita Cláudio na prisão
No dia treze daquele mês soou a campainha
na luxuosa mansão do Senhor Fortunato.
Naquele momento, o relógio de ouro à
entrada da mansão começou a badalar. Eram exactamente treze horas da manhã!
E no preciso momento em que o relógio dava
a sua décima terceira badalada, como se tudo aquilo estivesse a ser devidamente
planeado pelas forças que controlam o nosso mundo, Lucénio entrava
sobrenaturalmente na prisão para ter uma conversa com Cláudio.
O relógio da
prisão tinha parado misteriosamente às doze horas da manhã, como se naquele dia
não quisesse dar treze badaladas.
Vejam bem o duelo entre o azar e a sorte,
melhor dizendo, entre o reino do mal e o reino do bem na mesa de xadrez
deste mundo.
O padre Justino a entrar em casa dos
Fortunatos, para tentar convencer Clara a testemunhar em favor de Cláudio e Lucénio
a entrar na prisão, raivoso, para tentar convencer Cláudio a não tornar-se
companheiro do padre Justino.
Lucílio abriu a porta, ficando a olhar
pateticamente e cheio de animosidade para o visitante.
O que deseja o senhor padre? Albergar algum
desgraçado ou anda à caça de esmolas para os pobres? Bateu na porta errada!
Não
esperava tão grande atrevimento para com um humilde servo de
Deus.
Mas seja Deus a vingar-se da sua irreverência replica o padre, continuando, não senhor, não venho à procura de compaixão.
Pois já sei que não habita nesta.
Venho sim falar com a menina
Clara.
A menina Claaara, gaguejou o
insensato.
Entretanto, Clara, já tinha surgido no
patamar das escadas.
Aquela beleza fogosa brotando da sua formosura, do seu
olhar puro, encheu a sala. Justino
reparou logo nas suas profundas olheiras.
Como está, senhor padre Justino?
Eu cá vou indo, minha filha - respondeu o
padre, olhando-a piedosamente, adivinhando as causas do seu aspecto doentio.
Clara, disse-lhe Lucílio em tom seco, agora que já cumprimentou o senhor padre, deixe-nos tratar do nosso assunto.
Desculpe, não desejo ofendê-lo Senhor
Lucílio, interveio Justino, mas o meu assunto não é consigo, é com a menina
Clara.
Com a menina Clara, irra!
Nunca, nunca, rua senhor padre, vá é já pro meio da rua e Lucílio completamente fora de
si, não conseguia dar mais conta das suas palavras, fique sabendo que a
menina é minha noiva, quero dizer, já lhe pedi em casamento.
Mas! E calou-se
sem saber o que mais rematar pela boca fora.
Neste preciso instante, Lucénio atacava
Cláudio.
Seu grande parvalhão, com que então está a envolver-se em negócios
com o padre Justino. Se calhar pensa que o Bispo e o Ministro são para
brincadeiras!
E você ainda não conhece a
máfia que está por detrás deles e isto para não falar dos diabretes como eu!
Para lhe dizer a verdade, rematou-lhe
Cláudio de seguida, as suas ameaças demoníacas não me metem medo
nenhum.
Não sei se sabe que a canalhada
desta cidade já esvaziou o meu coração.
Já não há sentimentos cá dentro e apontou para o peito, raiva, sim, estou ardendo de raiva, e esta raiva
que me consome por dentro é mais forte do que todos os demónios juntos.
E levantando o punho, cerrado, mostrou-o a
Lucénio, dizendo. Olhe, olhe bem para isto. Eu lutarei contra todos os anjos
das trevas e contra o Bispo e contra o Ministro e toda a sua máfia.
Eu sei
muito bem que os ricos só respeitam os pobres, quando estes usam de violência.
E, Cláudio, cerrando fortemente os lábios, acenou num gesto de ameaça, o punho
cerrado a Lucénio.
Lucénio, fulo de ódio, voltou-lhe as
costas e esfumou-se pela parede a fora, deixando Cláudio de boca aberta,
enquanto que cheio de perplexidade, ele perguntava a si próprio, sobre o
significado deste duelo.
A vida é, de facto, um duelo entre o mal e
o bem, entre o diabo e Deus, digam o que disserem! Exclamou ele em silêncio.
Do outro lado da cidade, o duelo
continuava, entre o padre Justino e Lucílio.
Clara replicava, nunca me casarei com
alguém como tu. Nunca.
E vais casar com ele. Gritava Lucílio,
subindo as escadas, avançando para ela, roxo de cólera, com as veias do pescoço
quase a rebentar.
Eu mato-o, ouviste Clara, ouviste bem, eu mato-o, e
desapareceu pelo patamar acima.
Clara ficou a sós com o padre Justino. O
padre, calmamente, pediu a Clara para comparecer no julgamento e testemunhar em
favor de Cláudio.
Naquele preciso momento alguém entrou em
casa. O duelo continuava, pois o diabo não dorme.
Era a rameira da Dona Zulmira. Ela vivia
cheia de gratidão pela bala que saiu do revólver do pai de Cláudio e perfurou a
testa do marido.
É que ela andava farta do
gordo, do nojento, como lhe chamava, quando lhe arranhava as ventas todas com
as unhas.
A partir daí, não só ficou à vontade, para dar livre curso à sua
sexualidade, mas, passou a ter a massa toda ao seu dispôr.
Os filhos, também pouco se marimbaram com a
morte do maricas, como lhe chamavam, quando lhe iam ao focinho! Os negócios com
a mãe eram mais lucrativos!
Ela compreendia muito melhor as suas inclinações,
bastava que em troco eles a deixassem andar de rabo ao léu.
As coisas
funcionavam às mil maravilhas entre eles. Vejam lá que os ricos, até o pai e a
mãe esfolam se for preciso!
Eles não têm
quaisquer sentimentos, só o dinheiro e o prazer os comovem.
Não é de admirar o ditado bíblico que diz:
“O amor ao dinheiro é a fonte de todos os tipos de males e, alguns, por
quererem tanto dinheiro, encheram a vida de sofrimentos”
E um outro versículo,
diz:
“Quem ama o dinheiro não se fartará dele”.
Mas, a Dona Zulmira veio interromper a
cena que eu estava a contar. Ela era mesmo uma “interrupção em pessoa”.
Só mais uma coisa. Gostava que soubessem
que tinha sido esta víbora que liquidou a esposa do Senhor Fortunato, com uma
dose de veneno posto no chá, que dava para matar uma dúzia de ratios.
Numa tarde
inverno, com a chuva a cair aos potes, durante a coscuvilhice do chá das cinco,
lá se foi a Senhora Fortunato para o cangalheiro.
A Zulmira não esperou nem
dois meses para se casar com o Senhor Fortunato. E, nem dois dias passaram, e já a assassina
se tinha tornado amante de Lucílio.
O Senhor Fortunato, que já vinha há muito
tempo de uma família de adúlteros, não se incomodava nada que o filho se
tivesse tornado amante de sua própria mulher.
A pobre Clara é que corria o perigo de deixar esta vida mais cedo, caso
Lucílio não a deixasse em paz, pois a Zulmira toda enciumada ardia de ódio por
ela.
A Dona Zulmira era mesmo uma adúltera da
cabeça aos pés. Como ela já andava com os olhos postos no padre, mal soube da daquela visita através de uma
intuição esquisita, deixou o Café e voou para a casa.
O meu marido ainda está em casa, menina? Perguntou, disfarçando, com os
olhos carregados de ódio e de adultério.
E, sem perder um segundo os seus dotes
de predadora, mirou o padre de alto a baixo, enquanto pensava :
É pequeno, mas masculino! Que pena andar a
gastar o seu tempo com as coisas de Deus, e mirando desenvergonhada o
padre de alto a baixo, exclamou à meia voz "mas, eu hei de fazer ele perder essas
manias religiosas"!
Clara, baixou timidamente a cabeça,
enquanto a senhora passava por ela bamboleando provocadoramente as ancas, ao
subir as escadas em busca de Lucílio.
Eu vou consigo agora mesmo senhor Padre, disse-lhe ela, com o coração
a saltitar de ansiedade só de imaginar que, depois de tantos anos de separação,
iria ver o seu amado.
Clara e Justino deixaram a casa, debaixo
do olhares vingativos do Senhor Fortunato, do Lucílio e da Dona Zulmira que, da
janela do segundo andar, os viam a sair da quinta.
Se pudéssemos ver a mão direita
da Zulmira, veríamos o seu dedo polegar, entre os outros dois, fazendo figas
contra Clara.
Enquanto o carro deslizava, Clara explicava
ao padre as razões da sua fraqueza, que vinha da pressão psicológica que
exerciam diariamente sobre ela, para que casasse com Lucílio.
Parecia, no entanto, esconder alguma coisa
muito trágica.
Dores e dúvidas bailavam em sua mente.
Que pensaria Cláudio dela, como a iria
receber?! Pensaria ele que ela se tinha deixado vencer pelo amor ao dinheiro?
Cláudio, embora obcecado pelo sua nova
paixão, vivia, dia e noite, escravo do amor de Clara.
A paixão pelos pobres que
o assolava e invadia todo o seu ser, não conseguiu invadir aquele espaço dentro
do seu coração e da sua mente que pertencia só a Clara.
Havia dois olhares nos olhos de Clara
quando ela entrou na cela.
Misturado ao
olhar terno, que jorrava da nobreza e da pureza da sua alma, havia um olhar
sofredor, sinistro, mortal, muito profundo, que ela não conseguia disfarçar.
Clara desviou os olhos dos olhos de
Cláudio, procurando esconder aquele segundo olhar, enquanto que as lágrimas
rolavam pelas suas faces. Mas, Cláudio, apercebeu-se logo daquele olhar
sinistro. Alguma coisa terrível tinha acontecido a Clara.
Cláudio pressentia desde há muito tempo
que ela não seria para ele. Aquele amor infindo, nunca seria realizado. Mas,
agora, um outro pressentimento, muito pior, o invadia.
Clara, porque não olhas para mim? -
Perguntou Cláudio, levantando- lhe o queixo e dando-lhe um beijo na face.
Vim cá para te defender, disse ela,
procurando esquivar-se da sua pergunta.
Que mal te fizeram?
O maior mal foi me terem roubado o direito
de viver pobre mas feliz. São cinco anos de torturas diárias.
Eles usam tudo,
calúnias, ordens para os criados destruírem as tuas cartas, enfim!!!
Enfrento diariamente a fúria de meu pai, que me acusa de ser doida por estar a
trocar um lugar na burguesia por um pelintra como tu, dizia ela, sem poder
controlar os soluços e espanca-me
brutalmente - continuava, mostrando-lhe algumas manchas negras nos braços.
Eu pressinto que me escondes alguma coisa,
Clara, eu sei, vá lá, conta-me tudo, conta-me.
O Senhor Fortunado, sem Lucílio saber,
continua a assediar-me como fazia lá na fábrica.
Eu não digo nada ao Lucílio,
pois ele é doido e fulminava o pai num instante.
Cuidado, Cláudio, ele é capaz
de tudo. E, dizendo isto, baixou o seu lindo rosto.
Cláudio, suspirou fundo, apertando os
punhos até magoar. Ela não lhe estava a contar tudo, pois aquele mesmo
pressentimento se agigantava dentro dele.
Será que o Fantoche! Murmurou em voz
baixinha. Será que e, interrompendo bruscamente olhou fixamente para Clara.
O que te fez ele, diz-me o que ele te
fez?
Clara ficou gelada ao sentir-se descoberta
e levantando a cabeça desnorteada, o seu olhar tornou-se vago, distante.
Cláudio prendendo-a carinhosamente entre
os braços, perguntava-lhe em voz baixa, como se no fundo não quisesse ouvir a
resposta.
Diz-me, Clara, por favor, o que te fez Lucílio?
Violou-me. E, dizendo isto, desfaleceu,
tombando por terra como morta.
Cláudio levantando as mãos ao alto clamou
esta oração a Deus:
Porque permites que os pobres nasçam
debaixo do signo do infortúnio e o destino lhes seja tão cruel?
Porque permites que os ricos nasçam debaixo
do signo da sorte e quanto mais pobreza semeiam mais riquezas ceifam?
Serás tu o autor de tanta desigualdade ó o Juiz da terra?
Mas, Deus, já tinha decidido não dar
respostas terrenas a estas e outras interrogações de Cláudio.
E, por razões
misteriosas, Ele já tinha decidido também que Cláudio deveria tornar-se
protagonista de mais alguns sofrimentos.
Existe um mundo de sonho à espera dos
homens de papelão que transformados em ouro, viverão num palácio situado no
pique das estrelas mais altas e daí poderão voar livremente por um espaço
sem tempo e sem espaço, voar por um mundo aonde não existe mais a noção do
finito, um mundo aonde a noção do bem e do mal não existe mais.
Viver neste mundo de ferro, sonhando com
aquele mundo de ouro, era a única alternativa que Deus deixava a Cláudio. -
O
Sonho da Fé, que tinha poder para renovar-lhe as forças a cada dia, a cada
frustração, a cada dissabor, a cada morte a cada pergunta!
Nota importante:
Se puder leiam o texto em baixo para melhor compreenderem este capítulo.
I Timóteo 6:10
O
PADRE JUSTINO LIBERTA CLÁUDIO DA PRISÃO
Cláudio
sai da prisão e Clara volta para a casa de Lucílio
Ouviu-se a sirene a tocar... era a
ambulância que vinha buscar Clara, que se encontrava desmaiada na prisão, para
levá-la ao hospital.
Clara voltou do hospital para a mansão dos
Fortunatos. Mais tarde, o padre Justino, com a ajuda de Clara e de um advogado
amigo, conseguiu libertar Cláudio da prisão.
Clara, sem medo nenhum das suas
retaliações, foi ao tribunal testemunhar a favor de Cláudio, debaixo das
ameaças de Lucílio.
A paixão de Cláudio ainda não se tinha
desvanecido. Mal saiu da prisão, ele juntou-se ao novo partido, clandestino,
que nascia de uma outra iniciativa de Justino.
Cláudio não se tinha esquecido
de Lucílio. Ele pagaria bem caro pelo seu crime.
Também não se tinha esquecido
do pai de Clara, que sem quaisquer escrúpulos, foi capaz de trocar a honra de sua
própria filha por um vida de conforto .
Esse bandido também não perderá pela demora! Pensava Cláudio consigo mesmo.
Ele decidiu então fazer uma visita ao
hospital de malucos onde a mãe se encontrava enjaulada. Quase que morreu de
horror ao vê-la.
O olhar da mãe, perdido no passado, mostrava que ela tinha
perdido totalmente a noção do presente e do futuro.
Aquele olhar perdido e os
seus cabelos levantados e despenteados, dando-lhe uma aparência medonha,
mostravam que ela tinha morrido no passado.
Mas o que mais lhe comoveu, foi ver o rosto dela todo arranhado pelas
unhas, grandes e sujas, e a baba a escorrer pela boca abaixo. A mãe de Cláudio
não era uma doida.
Ela era simplesmente uma mulher, que tinha
deixado de viver, por causa da maldade que lhe tinha feito a Dona Zulmira.
Apertando meigamente o esqueleto da mãe,
ele sentiu-a por um instante a reviver. Mas era tarde de mais, os danos em sua
mente eram irreparáveis.
Então, ele elevou os seus olhos aos céus e as suas
lágrimas rolaram pela cara abaixo em forma de perguntas que se derramavam no
vaso, de Deus, das lágrimas dos humanos:
Porque criaste um universo tão injusto?
Será que
não vês as crianças, esfomeadas, brutalizadas, por causa do amor ao poder?
Não vês os jovens, marginalizados,
destruídos, por causa do amor ao
dinheiro?
E os inocentes que são desfeitos nos
ventres de suas próprias mães, não vês?
Não vês que os pobres que sofrem até
morrer, enquanto os ricos vivem de
prazer
à custa do dinheiro que lhes roubam.
Quem é o responsável por tudo isto, ó Juiz
do Universo?
Os ricos são consolados pelas suas
riquezas quando sentem a dor, mas os
pobres não têm nada para os consolar.
Os ricos
vivem de gabarolices, mas os
pobres não têm nada para se gabar.
Os
ricos, andam em viaturas de luxo,
vivem em grandes palácios e comem à
farta, mas os pobres andam descalços,
vivem muitas vezes sem tecto, e às
vezes sem pão, sem sopa e à mesmo
pobres que não têm pai, nem mãe.
Porque não nos vens, ao menos, dar a
riqueza espiritual que nos permita suportar a nossa pobreza material.
Cláudio, diante de sua mãe, perdido num
oceano de confusão, procurava uma orientação divina diante de todas essas
perguntas.
Mas a Fé, vinda do fundo do
seu coração, dizia-lhe que ele teria de continuar a viver heroicamente sem
respostas.
Não nos esqueçamos que este pobre herói tem um corpo e uma mente de
papelão.
Por isso, ele saiu a correr do hospital
perseguido por um pressentimento medonho. Ele ardia de medo, no fundo da sua
alma, ao sentir-se como um joguete no meio das partidas da vida.
Vertigens desumanas atravessavam a sua
mente, ao pensar que havia gente neste mundo a sofrer milhões de vezes mais do
que ele.
Mas a providência divina é perfeita e
naquele preciso momento uma paz infinita desceu do céu sobre ele.
Ao levantar
os olhos, ele jurou ver o anjo Gabriel a fazer-lhe um sinal.
Nisto, os céus se
abriram e ele viu o crucificado, coroado de espinhos, as mãos e os pés
sangrados, com ar triste e sorriso vitorioso, dizendo:
Cláudio, o meu sofrimento não é suficiente para responder ao teu sofrimento?
A visão do crucificado, glorificado, era
mais do que suficiente para responder a todas as suas perguntas. Aquela visão
fortaleceu a sua Fé e comunicou-lhe o ânimo que ele precisava.
No entanto, Cláudio sabia que a vida é uma
luta sem tréguas. Não havia tempo para respirar.
Ele estava de corpo e alma
mergulhado nessa luta e nem a morte o faria desistir.
Como ele não sabia do paradeiro do seu
pai, decidiu iniciar algumas buscas.
Estaria o seu pai numa situação pior do que
a sua mãe? Perguntava a si próprio.
Percorrendo a cidade de uma ponta à outra,
ele ia perguntando pelo senhor Constâncio.
Num rodopio de um lugar para outro,
ele via a vida como uma roleta que não para, nunca.
A economia, a política, a
religião, os valores e as crenças das pessoas rolam sem parar.
Rolam para a frente ou para trás? Esta era a questão!
Conforme os anos passando, a vida vai
rolando, rolando mais rápido, os tempos se alteram, fundem-se os valores
antagónicos da filosofia, da ciência, da religião, da política, da família, num
maquiavélico sincronismo.
Cláudio sabia muito bem que a cultura da
torre de Babel estava a renascer e iria unir as sociedades à volta de uma mesma
ideologia, encabeçados por um Ninrod moderno, o ímpio, a Besta.
Uma grande conspiração contra Deus
aproximava-se rapidamente.
A última conspiração do homem! Desta forma, o
desenrolar dos acontecimentos iam tornando o mundo mais parecido com o mundo do
sonho de Cláudio.
O ímpio prometido, o número 666, a Besta, o verdadeiro homus brutalis, muito bem
disfarçado, estava quase a chegar. E os homens, que rejeitaram e crucificaram o príncipe da paz, iriam glorificar
aquele iníquo.
Nota importante:
Se puder leiam os textos em baixo para melhor compreenderem este capítulo.
Salmos 56:8
Gênesis 10:8-10; 11:1-9
Salmos 2
II Tessalonicenses 2:1-12
O MUNDO DE FERRO DA BESTA DO APOCALIPSE
Os
acontecimentos finais do Império Apocalíptico da Besta
Os acontecimentos vão-se tornando mais
parecidos ao sonho profético de Cláudio. O Big
cresce e o petit diminui. Uma mega informatização e comunicação
multicultural concentrava o poder
político e económico nas mãos de uma nova aristocracia.
Se o Big ajudasse o petit a crescer, isso era
como ao outro! Mas o grande problema é
que Big tornava-se mais Big e o petit
mais petit.
As aldeias e as cidades pequenas perdiam a
razão de ser e a sua pobreza revertia em favor das grandes zonas urbanas.
As
populações fugiam para as grandes capitais, à procura de um pedaço de pão e de
uma terrina de sopa para matarem a fome. Algumas capitais já tinham atingido
cerca de cinquenta milhões de habitantes.
Babel, a capital do planeta, o novo
centro da economia mundo, contava já com duzentos e cinquenta milhões de
pessoas.
A droga e a pornografia transformavam-se
nas duas maiores indústrias da sociedade e os Estados tornavam-se em narco e porno-estados.
Gabriel tinha razão acerca de tudo o que
disse sobre o futuro. Ele é o autor do meu sonho - exclamava Cláudio.
Cláudio recordava-se das profecias acerca
do fim do mundo lidas na Bíblia. Ele sabia que o mundo estava assistindo ao
cumprimento dos acontecimentos profetizados em Apocalipse?
A Bíblia estava mostrando a sua supremacia
sobre a astrologia, a sociologia e a ciência?
Restava só saber quem seriam os
cavaleiros e as bestas do Apocalipse?
No meio de todas daquelas perguntas,
Cláudio estava convicto duma coisa. Os ricos nunca utilizariam a altíssima
tecnologia para estabelecer um paraíso na terra. Ele não era ingénuo.
Tudo
indicava que o seu sonho profético tornava-se numa realidade. Os senhores deste
mundo utilizariam, sim, as novas descobertas científicas e místicas, para
explorarem ainda mais os pobres.
O que pensas tu! Exclamou ele para o ar.
Cláudio tinha sido ungido e ordenado
profeta, naquela tarde, quando levantou a sua cabeça afundado no pó e olhou
para o rosto celestial de Gabriel.
Como qualquer profeta novato, sem
experiência, Cláudio achava que a violência era a única linguagem que os ricos
conhecem! Infelizmente, a história testemunha que os cães só largam o osso,
quando o povo lhes arreganha os dentes.
Ou não tem sido assim mesmo!?
A grande ambição de Cláudio era juntar-se
ao grupo dos rebeldes liderado pelo Padre Justino, para combater o Governo de Ferro que se avizinhava.
Eu cá tenho umas contas pessoais para
ajustar com o porco do Lucílio e com a histérica da Zulmira. Eles vão ver com
quem estão a brincar! Pensava Cláudio constantemente.
E, desta forma, assistia-se a uma viragem
radical na filosofia governamental das sociedades.
Os poderes mundiais associavam-se,
combatendo tenazmente as liberdades pós modernistas e estabeleciam um controle
de ferro no meio das populações.
Leis inexoráveis eram promulgadas e
começava-se a tornar muito perigoso falar de igualdade, liberdade e
fraternidade.
Não será preciso dizer que as leis eram feitas somente para os
pobres, pois os endinheirados continuavam a viver sem leis, como sempre. Eles
faziam o que bem lhes apetecia e ninguém podia dizer nada.
Os jornalistas começaram a ser
perseguidos, pois andavam sempre a badalar e a meter a foice em seara alheia.
A Regra de Outro daquele Império de
Estados, era a de Cícero, o sábio, que ao preparar o caminho de Augustos,
disse: “o serviço ao Império abre as portas do Céu”.
E, assim, o povo era enganado.
Chegou o tempo da Grande Tribulação, salve-se quem puder, gritavam os desgraçados
debaixo das gargalhados do diabo.
Então, veio o grande dia das eleições tão
esperadas, e Lucrécio ganhou com maioria
absoluta.
A polícia secreta foi à porta das pessoas para aconselhá-las, com uma
arma debaixo dos queixos, a votarem a favor de Lucrécio.
Ele tinha como
conselheiros: cientistas, políticos, sacerdotes, astrólogos e espiritualistas.
A maior parte dos seus conselheiros eram homossexuais e gabavam-se disso, sem
terem vergonha nenhuma na cara.
Lucrécio escolheu o José e o João, para serem
apresentadores do tempo de antena do governo. Eram dois parvalhões famosos da
televisão que ganhavam uma fortuna à custa das suas obscenidades.
Dava vontade
de chorar ao ver Lucrécio e os seus comparsas, com as ventas todas
escancaradas, a morrerem de rir, ao ouvirem-nos a blasfemar contra Deus.
O Governo decidiu escolher o dia do Natal,
para efectuar a cerimónia da passagem do governo para as mãos de Lucrécio.
No
final da cerimónia os conselheiros levantaram os seus cálices e fizeram um
brinde com a urina do Dragão, em saúde do reino da Besta.
O José e o João,
casados de fresco, responsáveis pela a apresentação do programa, aproveitaram o
Natal para profanar o mais que podiam sobre Jesus e glorificar o reino da
Besta.
Lucrécio, dizia o porco do José, é o discípulo mais leal do Dragão, ele reza ao
diabo ao levantar-se e ao deitar-se.
Aleluia! Gritava o João, dançando,
cantando e saltando, como um parvo, com mulheres quase todas nuas à sua volta.
Lucrécio era a Besta do Apocalipse.
Lucênio, a segunda Besta do Apocalipse, era o falso profeta.
O Dragão era o
diabo.
E o pior de tudo é que, depois de muitos
anos de ensaios e de tentativas de parte a parte, os senhores do mundo e os
demónios começaram a comunicar através dos corredores virtuais então
descobertos.
Os terrestres conseguiam videofilmar
o mundo oculto e os fantasmas apareciam
nos monitores, dançando, rindo e pondo a língua de fora tão comprida que tocava
no queixo.
Lucênio era uma combinação entre um ser
humano e um demónio.
O governo escolheu um personagem humano, grotesco, e
fundiu dentro dele o número dois dos demónios, a mão direita de Lucífer.
Esse
personagem humano, era Sismundo, encontrado numa prisão de alto perigo, um
criminoso, muito parecido com o diabo, um doente mental que estava na prisão
por ter estrangulado oitenta mulheres, depois de as ter violado.
Havia um segredo que só as duas Bestas,
Lucrécio e Lucênio conheciam e ainda não tinham desvendado a ninguém.
No laboratório de Lucénio, através de um
aparelho muito sofisticado, eles trouxeram Lucífer do além e fundiram-no em
Lucrécio.
Lucrécio, a Besta, era o diabo em pessoa e
era por isso que falava como um Dragão, embora andasse disfarçado de ovelha.
Lucrécio foi eleito e tornou-se o
Presidente da grande União de Estados, que o mundo começou a chamar de Nova
Babilónia.
Ele apresentou-se ao
mundo como sendo o número 666, a Besta do Apocalipse, enviado para trazer a paz
e a salvação ao planeta azul.
Lucrécio, possuído pelo próprio Lucífer
era a Besta do Apocalipse.
Lucénio, era o Grande Profeta, a segunda
Besta do Apocalipse.
Lucénio foi colocado
acima do Papa e escolhido para presidir o Conselho Mundial das religiões.
Ele
queria unir todas as religiões do mundo:
Católicos, protestantes, judeus,
budistas, muçulmanos, hinduístas, animistas começaram a adorar o Diabo juntos.
Mas, aqueles que queriam somente seguir a Cristo e se opunham à liderança política
e espiritual destes dois tarados, se fossem apanhados, eram logo decapitados.
Além desta hedionda perseguição religiosa,
o Estado mandava caçar os pobres nas ruas e, em nome da União, eram levados
para o departamento científico, onde eram submetidas a experiências desumanas.
Infelizmente, há muitos estudiosos que
pensam que a Democracia converterá a humanidade à fraternidade, à solidariedade
e à igualdade social?
Eles pensam que o Milénio é já agora e não precisamos
de Cristo para nada. Segundo o parecer destes doutores, o homem não precisa de
Deus.
Rejeitam a mensagem transmitida pelos dois maiores monumentos da
história, um Livro e uma Pessoa, a Bíblia e Cristo.
Será que o facto destes
dois monumentos testemunharem um do outro, como Cristo disse, “as escrituras testemunham
de mim”, é uma pura coincidência?
Mas isto pouco importava aos eruditos.
Eles
não se queriam dar-se à maçada de investigar aquilo em que não acreditavam. Eles
acreditavam que o homem é o seu próprio criador e salvador, em evolução, a
caminho do Super-homem.
Mas a verdade, esta é a verdade, bem
comprovada pela história humana, é que: “não há ciência, nem democracia, nem
ideologia humana que tornará em carne o coração de ferro do homem”.
Se puder leiam os textos em baixo para melhor compreenderem este capítulo.
Apocalipse, 13:11-18
Apocalipse 13:7,15
CAPÍTULO
13
O MAL DÁ UM SENTIDO CONFUSO AO NOSSO
MUNDO
Os
homens parecem viver num mundo absurdo e sem significado
Clara, tendo escapado da casa de Lucílio,
andava à procura do Padre Justino e de Cláudio.
O Padre e alguns revolucionários conseguiram fugir à feroz perseguição
desencadeada pela Besta e encontravam-se alojados num esconderijo secreto.
Acontece que, como já era e esperar, o
Lucílio e a devassa da Zulmira tornaram-se fiéis discípulos da Besta. Eles
trabalhavam na área da espionagem electrónica.
Eles chegaram mesmo ao ponto de
denunciarem injustamente o senhor Fortunato, que se encontrava agora casado com
a Zulmira, pois andavam loucos para jogarem as mãos aos seus bens.
A Zulmira
pediu à Besta para o decapitarem sem dó nem piedade. Lucílio, pediu para o
enviarem para o degredo. É que ele preferia ver antes o pai a morrer lentamente
no degredo, a trabalhar que nem um burro.
Bem feita, vais pagar o que fizeste à mãe pensava Lucílio, enquanto a polícia arrastava pelos pés o Senhor Fortunato,
que aos berros pedia ao filho e à mulher que tivessem piedade dele.
Mal o Senhor Fortunato partiu para o
degredo, o Lucílio e a Zulmira fizeram um juramento de sangue, que não
descansariam, nem um só segundo, enquanto não localizassem o partido dos
rebeldes liderados pelo padre Justino.
Entretanto, depois de alguns meses de
busca, Clara finalmente encontrou Cláudio.
Cláudio, meu amor, o padre Justino e os
outros têm que fugir daqui.
O Lucílio e a Zulmira fizeram um juramento de
sangue que não descansarão até
apanhar-vos. Eles estão muito bem
informados.
Oh! Clara, respondeu Cláudio, se tu
viesses comigo.
Ela abaixou os olhos, como a esconder
alguma coisa.
Cláudio não reparou nisso e continuou, vem comigo, vamos encontrar o paradeiro do meu pai e com voz sumida,
acrescentou, já sei do paradeiro da minha mãe.
Sabes, onde está? Exclamou Clara.
Não me faças lembrar, por favor! Exclamou
ele.
Diz-me, por favor, meu amor. Exclamou ela
docemente.
Falavam os dois por exclamações!
Está num hospital, louca! Exclamou!!!
Mas, o quê, num hospital, louca?
Clara já não exclamava, gritava também.
Não, Cláudio, mas o que é que nos
está a acontecer, vamos já buscar a tua mãe!
Não sabes o que eles estão a
fazer? Eles estão enviando os doentes mentais e os presos para um departamento
demoníaco, liderado por Lucénio onde são submetidos a transformações
horrorosas.
Clara, não falava, cavalgava e, respirando profundamente,
continuou, Cláudio, talvez o teu pai já esteja lá nesse departamento.
O meu pai. Berrou Cláudio.
O meu pai nesse departamento, e os berros
sucediam-se aos gritos.
Cláudio berrava de desespero e de dor.
Isto é demais, eu sei Cláudio, gritava
Clara arrasada.
O Estado, e continuava a sua cavalgada de informações,
está a acabar com tudo, hospitais, prisões, escolas, tudo o que dá prejuízo! E fez uma pausa para respirar fundo.
E continuou, e a acabar com a televisão, os jornais e a
rádio, que estão a ser desmanteladas e, por este andar, daqui a pouco, só
subsistirão três classes sociais: os políticos os ricos e os militares.
Eles querem acabar com a populaça ou,
melhor, a procurar uma forma de não darem tanto prejuízo.
Vamos, rápido, para o departamento
científico, disse Cláudio puxando-a pelo braço.
Clara resistia, parecia que não queria ir.
Mas, o que se passa agora, Clara?
perguntou-lhe.
Eu não posso ir contigo. Tu, não podes? Porquê ? Estás com medo do Lucílio.
Não, mas eu não posso ir contigo.
Não podes? Não podes ir comigo?
Não, e em voz baixinha, Cláudio fazia ressoar
estas palavras, pensativo, como a querer fugir daquele pressentimento que lhe
assaltava a cabeça cansada de tanta luta, tanta frustração!
Não podes e,
continuava, numa voz sumida, a sua pergunta e reflexão!!!
Então, bruscamente, levantou a cabeça,
olhando com os olhos arregalados para Clara, olhos nos olhos, enquanto fazia
ressoar as mesmas palavras, não podes, levantando o volume da sua voz, por que não podes ir comigo, não entendo, continuava, baixando de novo
a voz como a fugir de um pensamento perturbador.
Mas, porque será que não podes ir comigo?
Porquê?
Perguntou, interrompendo a sua
reflexão, levantando a voz, outra vez.
Quem olhasse para o seu rosto, parecia que
ele tinha envelhecido cem anos. Cláudio, sabia, embora estivesse a tentar
fugir, que uma grande tragédia tinha-se cruzado com o destino de Clara.
Não te bastava teres sido maltratada,
violada!
Exclamava ele, e, ainda
mais esta, não, eu acho que não mereces mais esta, é demais para nós,
recebermos estas notícias trágicas, umas atrás das outras, sem fim!
Cláudio, estava à beira de um colapso
existencial. Ele já sabia o que tinha
acontecido a Clara, mas não se sentia capaz de ouvir a notícia da sua boca.
Metia dó olhar para eles, pareciam dois farrapos humanos.
Sentaram-se e ele pousou cabeça no regaço
dela, pedindo-lhe que lhe escondesse a verdade, dizendo que era melhor ele fingir que não sabia
de nada.
Clara chorava e as lágrimas
rolando-lhe pelas faces, tombavam sobre os cabelos e o rosto de Cláudio.
Eles
sentiam agora que aquele sonho de amor que já vinha desde a sua meninice estava
ali, finalmente, destroçado pelo destino.
Cláudio, com a cabeça repousada no seu
regaço, podia ouvir o pequeno coração batendo dentro dela. Ele sabia que aquela
criança era fruto da malvadez de Lucílio.
Por uns momentos, ele refletiu na
grandeza da vida, tão independente, tão isenta que até a malvadez dos
homens a podia conceber!
Nisto, ele sentiu uma mão meiga a pousar-lhe no ombro
e a dizer-lhe para ele aceitar aquela vida como se fosse dele.
Mas! Não é meu filho, não me pertence! Eu
não consigo, não posso. E, cobrindo o rosto com as mãos, começou a soluçar, dizendo não, não me digas. Não me digas
que ele foi capaz disto?
E, interrompendo, ele tentava deixar de pensar, ele
não queria acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer.
Clara, sentado nos degraus das escadas tinha o seu rosto
puro coberto de culpa e de vergonha.
Mas a mão invisível continuava a
pressionar o ombro de Cláudio, transmitindo-lhe uma sabedoria que não vem neste
mundo.
Nisto, aconteceu algo fantástico. Ele sentiu-se arrebatado para um lugar
onde via e ouvia coisas inexplicáveis, enquanto o seu rosto tornava-se em ouro e os seus olhos
em cristal.
O arrebatamento não durou nem um segundo e quando deu por ela já
estava de volta à terra.
E, por mais paradoxal que pareça, ele entendeu naquele
instante que afinal valia a pena viver este mundo de ferro. A vida por mais cruel que fosse, parecia ter
um significado incomensurável.
Cláudio, apertando Clara meigamente contra
o seu peito, agradeceu a Deus por ter criado um universo que afinal é igual
para todos e está cheio de significado.
Um
universo onde todos têm as mesmas oportunidades e os mesmos deveres, embora não
pareça – meditava ele.
Neste
momento, ele compreendeu o versículo:
Romanos 2:11
“Porque Deus não
faz distinção de pessoas”.
Ele soube, naquele momento, que o filho de
Lucílio tinha tanto valor para Deus como qualquer outra criança.
Clara, podia ver no rosto afligido de
Cláudio um sorriso maravilhoso vindo do Céu.
É filho do Lucílio não é? Perguntou-lhe
calmamente.
Ela, nervosa, acenou-lhe com um gesto de
cabeça, perguntando:
Cláudio, não achas que seria muito melhor
ele não conhecer este mundo?
Clara, é o teu filho. É um ser humano como
outro qualquer! Porque seria melhor ele não conhecer este mundo?
O teu filho, Clara, pode vir a ter uma vida plena de significado.
Mas, Clara, amargurada, recusando ser
consolada, continuava a extravasar a sua dor.
Mas a sua concepção não foi
digna. E quando ele souber um dia que é um filho da malvadez humana!?
Ó meu Deus! O que estou eu estou para aqui
a dizer? O meu filho não é um malvado, não senhor, ele não é um filho da
maldade humana.
Filho da maldade humana, este filho que trago dentro do meu ventre?!
Cláudio apertando-a contra si, disse :
O teu filho é um fruto maravilhoso da vida, Clara.
E, embora não pareça, ele
terá mais direitos e privilégios do que muitos que parecem ter mais direitos e
privilégios do que ele.
Deus é perfeito, ele não falha, ele é um Deus
maravilhoso e criou um Universo cheio de justiça para todos!
Oh! Cláudio, estou tão abalada que preferia
que a vida não passasse de um sonho, não passasse de um grande pesadelo.
Eu acho, Clara, que apesar do mistério e do
sofrimento que envolve a vida, Deus deve ter razões muito fortes para ter
criado as
coisas
assim.
Um dia iremos glorificá-lo pela sua sabedoria muito mais elevada do que
a nossa.
Clara, o teu filho vai ter um pai, podes
crer!?
Ele vai ser um homem verdadeiro, ele vai compreender, vais ver, acrescentou, Cláudio, cheio de convição.
E, então, abraçaram-se um ao outro
perdidos naquele amor que os unia desde criança.
Aquele amor, sim, era um
verdadeiro amor de perdição!
Cláudio enchia-lhe de promessas que saiam do fundo
do seu espírito alimentado pelo seu
arrebatamento ao Paraíso.
Mas, apesar desta visão celestial, ele sentia-se bem
no fundo do seu coração de papelão, mais destroçado do que Clara.
Clara decidiu ir com Cláudio. Os dois
partiram para fazer uma visita ao departamento científico.
Correram os
corredores, um a um, batendo em todas as portas. De repente, alguém lhes
apareceu à frente. Era Lucênio, rindo e zombando, dizendo:
Vêm à procura deles, não é? Ah! Ah! Ah!
Vão lá vê-los que eles
estão mesmo lindos. Venham comigo que eu tenho todo o prazer em apresentá-los, estão bonitos Ah! Ah! Ah!
Eles o seguiram. Lucênio ia voando à
frente deles com os pés a uma distância de vinte centímetros do solo.
Era
terrível, olhar para aquela criatura. A criatura humana já era horrenda, o
Sismundo. E, agora, ainda por cima, possuído por um demónio.
Subitamente, eles vêm Lucênio fugir
espavorido. Então, Gabriel apareceu-lhes à frente. Cláudio correu para ele
gritando alegremente: Gabriel, meu amigo, meu anjo.
Não me toques. Hoje, ninguém me pode tocar. Disse-lhe Gabriel num tom justiceiro.
Cláudio retirou rapidamente a sua mão.
Ao
olhar para Gabriel, notou que do seu semblante irradiava uma luz que não
pertencia a este mundo. Gabriel, embora mantivesse uma aparência terrena,
estava envolto numa chama celestial.
Hoje, eu estou consumido pelo fogo que sai
do trono do Altíssimo.
A maldade humana já encheu a medida de Deus. E,
hoje, eu vim para fazer mal aos maus. Deus está farto de ouvir o
clamor
dos órfãos, das viúvas e das crianças.
Eu tenho
hoje na minha mão direita o
cálice da ira Santa de Deus e vou
despejar sobre o reino da Besta.
A Besta não fará mais mal a ninguém.
Mas, vão lá ver os vossos pais, vai
ser doloroso, meus filhos, tenham paciência e, dizendo isto, desapareceu.
Cláudio e Clara continuaram percorrendo os
corredores do enorme edifício. Provavelmente aquele Centro se tornaria no
centro nevrálgico de todo o progresso.
Aos poucos substituiria todos os outros
campos de conhecimento:
A Ciência, a Filosofia, a Psicologia e a Religião.
Aproximando-se de uma vitrina, eles viram
várias pessoas andando em fila, lentamente, seguindo um mesmo ritmo e fazendo
os mesmos gestos.
Parecia que tinham acabado de ser submetidos a uma grande
transformação.
Tinham um ar primitivo, patético, difícil de definir. Espreitando para a vitrina da sala ao lado,
eles notaram que aquelas pessoas entravam para uma sala, normais.
E
apareciam na outra sala como se lhes tivessem arrancado a alma do corpo.
Isto é incrível! Isto é incrível! Exclamava Clara.
Pálido, e em voz rouca, Cláudio
acrescentou, só ficam cinco minutos dentro daquela sala e saem totalmente
diferentes.
Será que estão narcotizadas, para poderem
ser mais facilmente dominadas, Cláudio?
Acho que não! Acho que não! Acho que estão
sendo submetidas a algo que ninguém jamais imaginou! Disse ele, como para si
mesmo, como se estivesse muito longe daquele local.
E, de facto, ele não estava mais ali. Ele
estava mergulhado nas imagens horrendas do seu sonho.
Entremos depressa, Clara, parece que a porta
está aberta.
E entraram, encostando-se à parede.
Parecia que aquelas pessoas não traziam nada de humano, ao saírem da outra
sala.
Vinham todas fardadas de igual,
calças e camisas pretas, com riscas vermelhas de alto
a baixo.
Passavam mesmo à frente deles e entravam para uma
terceira sala. Cláudio e Clara ficaram ali, estáticos, observando aqueles
rostos patéticos, sem uma chispa de inteligência que cintilasse dos seus olhos
mortos.
Eles sentiram alguém ao seu lado. Era um dos guardiões da sala.
Estava
também fardado, mas de cor diferente, como se todas aquelas pessoas mecanizadas
pertencessem a diversas categorias.
A farda do guardião, em vez de preta, era
cinzenta escuro, com riscas vermelhas mais claras.
Parecia que o imaginador de tudo aquilo,
queria dar um ar macabro ao local, o mais macabro possível!
Mas, sussurrou Cláudio baixinho ao ouvido
de Clara, ele tem a mesma expressão do que os outros, apesar de parecer
pertencer a uma categoria mais alta.
Pois é, respondeu Clara, ele também tem
uma expressão animalesca.
Ó Cláudio, já olhaste bem para o seu olhar? É tão esquisito, meu Deus! continuou Clara.
O que disseste tu? Animalesca? E os pensamentos de Cláudio estancaram
na sua mente.
Ele não disse mais nada, já tinha
percebido tudo. Estendeu a mão e agarrou
o corrimão da escada para não cair, tal foi a tontura que lhe cruzou a mente
como um raio.
Não precisas perguntar mais nada, dizia-lhe ele em meia voz.
O que lhes fizeram eles, já sabes Cláudio?
Preferiria não saber!
Anda, vem, disse Cláudio, vamos ver
o que estão fazendo na outra sala.
Na outra sala, viram centenas, todos
fardados em diversas cores, segundo as suas categorias, possuindo todos um
olhar animalesco.
Ouviam-se informações através dos
alto-falantes, sirenes a tocar, mas nenhum dos fardados parecia entender o que
se estava a passar à sua volta.
Só alguns homens de fato e gravata cinzenta e
algumas mulheres de mini saia vermelha, com o número 666 gravado na testa,
pareciam estar a par do que se passava.
Eles apontavam os controles que tinham
na mão direita e os fardados se movimentavam segundo as suas ordens.
Os de farda preta, entravam
para dentro de uns enormes tanques de guerra.
Outros para dentro de aviões ou de helicópteros.
Já viste o que lhes fizeram, Clara,
tornaram-nos em autênticos bólidos de guerra, telecomandados.
Parece que estão debaixo de um sedativo
qualquer ou pode ser que estejam hipnotizados.
Não, Clara, estas pessoas já deixaram de ser
humanos. Não vês aquele corte lateral de um lado e do outro das suas cabeças?
Sim , vejo, Cláudio.
Retiraram-lhes o cérebro e transplantaram um
cérebro de animal.
Eles já estão mortos, não pensam mais e são controlados pela
polícia política do Governo. Não vês os controles em suas mãos?
Naquele momento passaram mesmo à frente
deles, o pai e a mãe de Cláudio ... um ao lado do outro, mas sem se conhecerem.
Clara, ao vê-los, foi apoderada por um
sentimento muito esquisito. Era um sentimento desumano causado por aquela cena
desumana, que a fez sentir tonturas e dores muito fortes.
Cláudio já não sentia nada, pois, estava
esvaziado de sentimentos e de lágrimas.
Dentro dele, só não tinha ainda
morrido, apesar de tudo, a sua Fé e o desejo de continuar a lutar pela
liberdade e igualdade de todos os homens.
Os dois saíram a correr daquela sala.
Clara fugia das imagens que bailavam no seu pensamento.
Cláudio corria para encontrar o Padre Justino
e seus amigos. Enquanto corria, apalpava
o revólver antigo do seu pai, o que tinha morto o Panchito.
Entretanto, eles foram localizados através da
rede informática do padre Justino e juntaram-se ao partido.
O partido revolucionário continuava a sua
guerra informática contra as injustiças do governo.
As denúncias que eram
feitas informaticamente pelo partido,
chegavam aos ouvidos de todos os oprimidos e
incitava-os à rebelião.
Nem as cidades espaciais, onde muitos megamilionários passavam as férias,
mergulhados em deleites inimagináveis, escapavam aos olhos electrónicos do
partido, que via
tudo o que lá se passava.
As criancinhas eram teleportadas da terra
para as cidades espaciais e depois das abominações feitas, eram atiradas vivas
pelo espaço a fora, para não deixarem nenhuma pista.
Os exércitos da Besta constituídos pelos
farda-castanha, farda-azul e farda-negra, destruíam brutalmente todos o que se
rebelavam contra a ordem de ferro estabelecida pela Besta.
Os técnicos do partido revolucionário
conseguiram finalmente obter imagens duma conferência que estava sendo dada
pela Besta, em seu quartel general, situado num local totalmente desconhecido.
Ninguém sabia se era no espaço ou no centro da terra.
O que todo o mundo sabia é que mesmo na casa
de banho, deviam ter cuidado, pois podiam estar a ser localizados pelos olhos
do Grande Computador, que continha os dados dos habitantes da terra, podendo
localizá-los através do código pessoal marcado em suas testas.
Os olhos electrónicos deste Grande
Computador podiam recolher imediatamente as imagens e as conversas de todas as
pessoas da terra, não importa em que local estivessem.
O Computador tinha o
nome do seu autor “Besta”. Espiava tudo.
Só não conseguia espiar os movimentos
dos membros do partido do Padre Justino, que conheciam técnicas muito avançadas
de dissimulação informática.
Os rebeldes, sentados à volta dos
monitores, não perdiam nada do que se estava a discutir naquele salão.
Cláudio,
ao percorrer o olhar pelo presentes, gritou surpreendido para os outros - olhem
ali, o Lucílio e a Zulmira mesmo ao lado do Lucénio.
Mas o meu pai não está lá! Exclamou Clara, não percebo, ele vai para todo o lado com eles.
Ouve, Clara, talvez o teu pai se tenha
arrependido e fugido!
Na verdade, o senhor Heitor tinha-se
revoltado contra o Lucílio Fortunato, quando este traiu o Senhor Fortunado e o
enviou para o degredo. Ele estava na sala.
Era um dos guardas de Lucílio.
Tinham-no transplantado um cérebro de macaco e transformado o seu rosto para
ninguém o conhecer.
Clara não iria saber, nunca, do paradeiro
de seu pai e do seu irmão, que lá estava também com o rosto transformado e
um cérebro de cão transplantado.
Estavam lá os malvados todos, por incrível
que pareça.
Deslocaram-se de todos os cantos do planeta, num espaço de
segundos, para aquela grande reunião.
Eram desintegrados dentro de uma máquina
virtual, e as suas células eram teleportadas
a uma velocidade mil vezes mais rápida do que a luz.
O Papa também lá
estava, mansinho que nem um cordeiro e os chefes de todas as religiões do
mundo.
Estavam lá industriais, cientistas, doutores e engenheiros famosos. Estava lá toda a escumalha da terra, pois era
um reunião que prometia.
Estes senhores estavam esperançados que o
casal satânico arranjasse uma solução, para terminar definitivamente com as
regalias que restavam da passada democracia.
É que os trabalhadores estavam a
fazer tudo para recuperar o poder e começavam a levantar cabelo, outra
vez. Coitados dos pobres, pois se
aproximava o tempo da Grande Tribulação.
Aqueles senhores vieram de espaços
culturais muito diversificados, mas havia um objectivo comum que os ligava - a
destruição final do homem de papelão.
E
como eles não olham a meios para atingirem os seus fins, estavam dispostos a
utilizarem toda a sua tecnologia infernal, não para acabarem com a pobreza,
como andavam por aí a dizer, mas para explorarem ainda mais os pobres.
Discutia-se ainda, naquela reunião, a
possibilidade de viajar pelo tempo através de uma máquina que era capaz de
fazer a simbiose entre a Ciência e o Misticismo, e voar por um espaço virtual
tanto para o passado, como para o futuro. Bastava pôr a marcha à frente ou a
marcha-atrás na máquina.
Com estas descobertas científicas e
místicas, tudo se tornava mais fácil a partir de agora. Fantasias do passado
estavam à beira de se tornarem grandes realidades.
Se os ricos pudessem ir ao passado, ou ao
futuro, para roubar, eles iriam, sim senhor!
Os reis, a nobreza e o clero estudam muito, mas não sabem fazer outra
coisa, senão roubar e destruir.
Através das novas descobertas, eles
intensificaram a sua intimidade com o ladrão do mundo oculto e "o ladrão
não veio senão para matar e destruir"
Mas, no meio de todas aquelas aldrabices
que saía da boca da Besta, havia uma coisa que desapontava a escumalha que lá
se encontrava reunida.
É que ainda não
tinham conseguido descobrir o segredo da vida. Já tinham concebidos muitos
seres e clones, mas não eram mais do que uma reprodução ou enxerto de órgãos e
genes.
Lucénio começou o seu discurso:
A honra e o poder do meu mestre estão em
jogo. Há que destroçar os rebeldes, o mais rápido possível.
Eu estou a vê-los, mesmo agora, a
espiarem-nos. Eu estou a vê-los, berrava, Lucênio, infernalmente.
Esperem, já não os vejo, já estão com as
suas simulações angelicais - exclamou o
animal.
Espírito malvados, gritou, anulem essa
simulação.
Mas, chefe, responderam quatro seres
baixotes, invisíveis, parece que já não te lembras da última vez ?
Não é uma simulação é a luz de Gabriel, a luz dele disse um outro a gaguejar, vem do Altíssimo, e anula as nossas
trevas.
Seus imprestáveis, estão destituídos, voltem
já para o inferno.
E voltaram mesmo, desaparecendo num instante.
Eles que ouçam tudo, mas, esta noite tu - e
apontou o dedo desformado para a Besta,
e eu e apontou para ele próprio, vamos estar na Praça Central, e
o povo vai acreditar em nossas mentiras.
Nota importante:
Se puder leiam os textos em baixo para melhor compreenderem este capítulo.
Apocalipse 20:11
Gênesis 15:16
Apocalipse 11:18
João 10:10
II Tessal 2:8-12
CAPÍTULO 14
O SENTIDO DESTE MUNDO DE FERRO É
PERFEITO
O menino
de papelão encontra em Deus um sentido perfeito
Será este menino filho de
uma Comédia Humana
ou Divina???
Naquela noite, sete biliões de pessoas
tinham os olhos postos na Praça Central da Grande Babilónia.
As imagens eram enviadas
para terra através de satélites, pelos corredores virtuais e, aonde não
existiam monitores, as pessoas podiam ver as imagens suspensas no ar.
O mundo
estava pasmado diante desta transmissão que tornou a Besta omnipresente.
Ao
mesmo tempo que a transmissão prosseguia, os exércitos humanos e demoníacos da
Besta e de Lucênio, o Falso Profeta, se encontravam prontos para iniciar a guerra do
Armagedom.
A Besta proferia promessas mentirosas
acerca da paz internacional.
Incitava as populações a denunciarem os opositores
do governo.
A cada bojarda mentirosa da Besta, Lucénio levantava as mãos
horrendas e caia fogo do céu.
O mundo, maravilhado diante daquele
espectáculo, gritava. Viva a Besta, o Salvador do mundo, quem pode vencê-lo.
O mundo todo podia ouvir a Besta a falar,
enquanto Lucénio levantando os braços ao ar, gritava descomunalmente.
A sua voz
ecoava pelos corredores virtuais e mobilizava todas as hostes malignas para a
guerra final do planeta.
De repente, ouviu-se uma berraria vinda de
todos os cantos da terra.
Abaixo os opositores do governo da Besta, viva
Lucrécio, viva Lucênio, destruamos todos aqueles que não têm gravado em suas
testas o número 666, da Besta.
Houve, então, uma mobilização geral dos
exércitos da Besta e das hostes malignas, percorrendo velozmente as ruas e as
ondas magnéticas virtuais, à procura do Padre Justino e de todos os que lutavam
pela justiça, neste mundo de ferro.
O sinal secreto do alarme foi emitido, na
sede do partido.
Os elementos do partido entraram em debandada, mas, os
labirintos do subterrâneo, já estavam sendo evadidos por todos os lados.
Clara e Cláudio tentaram chegar a uma
saída secreta existente num subterrâneo abaixo, mas, adivinhem, quem já estava
lá, à espera deles? Lucílio!
O farda castanha, ao seu lado, arrancou
Clara dos braços de Cláudio. Ela caiu por terra desamparada.
Dava dó vê-la
deitada de bruços, com os braços levantados, dizendo para Cláudio:
Cláudio, meu bem, bem dizias tu que não
seríamos um para o outro. O nosso sonho acabou.
E, olhando para o céu, perguntava em voz
bem alta.
Porquê? Que mal te fizemos? responde-me meu
Deus?
Porque permites que os pérfidos,
ainda por cima, sejam os nossos carrascos?
E, implorava a Cláudio, dizendo:
Foge Cláudio, foge, aceita a ajuda que
te quer dar o anjo Gabriel.
Talvez não me façam mal algum, mas se te apanham a
ti, tornar-te-ás num miserável animal.
Cláudio, foge. Eu já não te sirvo para mais
nada.
Gabriel, invisível, puxando pelo braço de
Cláudio, disse-lhe "foge ela tem
razão".
Não, Gabriel. Não a podemos deixar com eles.
E, enquanto dizia isto, a sua mão
deslizava para o revólver do pai, escondido debaixo da camisa.
Lucílio, notando o gesto de Cláudio,
pressionou o controle e o guarda-costas ao seu lado, que era o pai de Clara,
levantou a arma para alvejá-lo.
Cláudio, informado rapidamente por Gabriel, que
o guarda era o pai de Clara, em vez de sacar o revólver, desviou-se da sua
trajectória.
Nisto, o pai de Clara,
tropeçou no pé invisível de Gabriel e apertou acidentalmente o gatilho, uma,
duas, três vezes.
O primeiro e o segundo balázio entraram no peito de Lucílio
atravessando-lhe o coração ao meio.
O terceiro balázio atravessou o cérebro do
pai de Clara, quando ele apertou o gatilho de novo, ao cair
no chão sobre o seu próprio revólver.
Ainda bem que Clara não sabe que é o seu pai, disse Cláudio para si mesmo.
Vê-lo ali, deitado de barriga para baixo,
com a cabeça desfeita pelo tiro, iria aumentar o seu sofrimento!
Tudo isto se passou em escassos milésimos
de segundos.
Era demais ver aquela cena. Clara caída de
bruços por terra, Lucílio, com o sangue a jorrar pela boca e o senhor Heitor
tombado por terra com o cérebro rebentado.
Era uma cena horrorosa demais para Clara.
Deitada no chão, ela começou a sentir as dores de parto, contorcendo-se toda.
Gabriel, tomou-os e levou-os para o abrigo de Justino. Naquele quarto velho,
todo desarrumado e cheiroso, nasceu o menino.
Cláudio ao contemplá-lo,
perguntava a si próprio:
Será este menino filho de uma Comédia Humana ou Divina?
Este filho misterioso da vida, o filho de Lucílio!
Eles lutaram toda a noite com a vida de
Clara, mas, ao despontar o sol da manhã, a sua vida despontou no mundo que
existe para além das galáxias.
O mundo de sonho dos homens e das mulheres de
papelão!
Cláudio, o Padre Justino e alguns amigos
que tinham escapado daquela matança, desciam as escadas do seu esconderijo,
rumo ao desconhecido, sentindo-se cansados, mas cheios de esperança.
Eles
sabiam que o Fim do Mundo de Ferro se aproximava, e o Rei dos Reis estava
prestes a descer dos céus, com a sua comitiva celestial, para fazer guerra à
Besta, ao Falso Profeta e ao Dragão, o diabo, e todos os seus exércitos.
Justino e Cláudio sabiam disso. Eles
acreditavam Naquele que disse:
“Estas palavras são fiéis e verdadeiras e o
Senhor enviou o seu anjo para revelar as coisas que em breve irão acontecer.
Eis que cedo venho”.
Nos braços de Cláudio ia o Menino de Papel, o filho maravilhoso do
hediondo crime de Lucílio.
Este menino era um símbolo da corrupção,
da intriga e da traição que existe neste mundo de ferro.
Mas, por paradoxal que pareça, este menino
de papel era também o símbolo do amor infinito e eterno de Deus, que diz:
“não
te deixarei, nem te desampararei”, quaisquer que forem as circunstâncias em que
nasceste.
Mas, pensava calmamente Cláudio afagando o
menino nos seus braços, afinal és uma criança, como outra qualquer.
Muitos dirão que não devias nascer?
Outros
perguntarão porque te deixaram nascer?
O
que me importa isto, afinal és como qualquer outro, disse, acariciando-lhe os
dedos pequeninos, "e não te deixarei, nem desamparei", dizia Cláudio.
Tendo já percorrido alguns quilómetros,
com o menino docemente apertado contra o seu peito, dizia-lhe baixinho, não
vai ser fácil para ti, não!
Muitas interrogações terás sobre o teu passado! Mas
não faz mal, vais ver.
E o tiro soou vindo da janela do
escritório da Dona Zulmira.
Um único tiro, certeiro.
O padre Justino, olhando
para trás, só teve tempo de receber nos braços o menino que Cláudio lhe
entregava, ao cair baleado por terra.
Os sinos da Igreja, no preciso instante em
que o tiro começou a soar nos ares, não tendo ainda atingido o seu alvo,
começaram a tocar uma melodia celestial.
As portas se abriam e as pessoas saiam
assombradas das suas casas, atraídas pelo barulho do tiro que ainda ecoava nos
ares e se harmonizava perfeitamente com a melodia celestial vinda dos sinos da
Igreja, perfazendo uma combinação maravilhosa e misteriosa entre o mal e o bem.
Enquanto os sinos da Igreja entoavam a
música celestial, em perfeita harmonia com o eco do balázio, o coro dos anjos
celebrava nos céus a entrada de Cláudio na sua gloriosa morada.
E, Clara, a amiga que Deus tinha escolhido para ser
a sua grande amiga neste vale de sofrimento e de lágrimas, estava à sua
espera nos Céus e abraçaram-se os dois, um grande abraço de amigos eternos.
E,
Justino, levando o menino ao colo, com as lágrimas rolando pelo rosto
abaixo, cantava, acompanhando a música misteriosa que ainda ressoava nos ares,
proveniente do revólver da Dona Zulmira e
dos sinos da igreja.
Nota Importante:
Se puder leiam os textos em baixo para melhor compreenderem este capítulo.
Apocalipse 16:14-21
Apocalipse 13
Apocalipse 22:6
Hebreus 13:5
CONCLUSÃO
O justiceiro da nossa história, que
considerava as riquezas deste mundo como
lixo comparado com as riquezas celestiais, cantava em homenagem a
Cláudio e a Clara e a todos os meninos de papelão, que suportam corajosamente debaixo dos sofrimentos implacáveis deste mundo de ferro:
E o seu lindo rosto no azul do mar.
Eu vejo-o no reluzir das estrelas.
E à noite vejo o Seu amor no luar.
Eu ouço Deus, no cântico do rouxinol.
E nos sábios conselhos do Pai.
Eu ouço-o no silêncio do pôr do sol.
E ouço a sua voz na voz doce da Mãe.
Eu sinto Deus, longe da maldade.
E muito distante na opressão.
Eu sinto-o perto na igualdade.
E sinto Deus onde existe perfeição.
Eu sei que tu não és o culpado do mal.
Tu és o autor do bem.
E embora me pareça paradoxal.
Tu és o autor também.
Deste menino de papel.
O Padre Justino cantava, olhando para o
lindo menino que levava ao colo, para
quem já tinha escolhido o nome de “Lúcio” em homenagem à perfeição de Deus.
Mas
havia dentro dele uma grande luta e as suas lágrimas rolavam até ao chão.
Então, levantou os olhos aos céus para fazer uma pergunta a Deus:
Esta será a minha última pergunta, dizia
ele consigo mesmo.
Mas, nisto, ele conteve-se, e continuando a ouvir o som do balázio que ainda lhe ressoava nos ouvidos e os sinos da
Igreja disse para si mesmo:
Quem sou eu para interrogar
Os Céus silenciosos.
E que posso perguntar ao infinito.
Com meu finito saber?
Ainda que os Céus abrissem os lábios à minha
razão e o Infinito revelasse os seus tesouros aos meus sentidos, seria eu capaz de compreender?
Mas, se houver um HOMEM.
Que me prove pelas suas palavras que veio dos céus para me revelar alguns segredos do infinito.
E me der A sabedoria do outro mundo.
Eu nunca mais interrogarei os Céus.
Eu nunca mais perguntarei nada ao Infinito.
Eu crerei NELE.
E se for verdade que ELE por nós morreu.
Olhando para o menino de papel, ele concluiu:
Eu deixarei de questionar a nossa Cruz.
E passarei a olhar somente para a CRUZ DELE
17
Manda aos ricos deste mundo que não sejam
altivos, nem ponham a esperança na incerteza
das riquezas, mas Deus, que abundantemente
nos dá todas as coisas
para delas gozarmos.
18 Que
façam o bem, enriqueçam em boas
obras, repartam de boa
mente, e sejam
comunicáveis.
19 Que
entesourem para si mesmos um bom
fundamento para o futuro, para que possam
alcançar
a Vida Eterna.