sexta-feira, 22 de junho de 2007

4 - A ideia de Deus

A Fé cristã vista do ponto vista filosófico e racional

Introdução geral


Abram nos Assuntos os 12 posts ligados com Este Tema sobre Religião e Filosofia, que especifico em baixo:

1. A Religião e a Filosofia

2 - A Religião

3 - O Conhecimento

4 - A ideia de Deus

5 - A ideia do Universo

6 - A ideia do Homem

7 - A ideia do Bem e do Mal

8 - A ideia de Deus e o Mundo

9 - A Ideia de Deus e do Homem

10/11 - Os Milagres e o Além

12 - Assuntos controversos

Eu fiz este trabalho a pensar em todos aqueles que se interessam pela filosofia, religião e as ciências em geral. 


O livro toca em muitas esferas da realidade e procura determinar aquilo que o cristianismo, a religião, a filosofia e a ciência dizem da realidade que podemos ver e da realidade que está para além dos nossos cinco sentidos.


Embora muitos estudiosos agarrem-se à ideia de que somos seres racionais, quando no entanto pensamos na pesquisa da realidade que está para além dos nossos cinco sentidos,  nós temos que incluir também o coração e não só a mente na busca dessa realidade sobrenatural.


Ninguém pode ter uma compreensão global da vida e do mundo só pelo uso do seu intelecto – ou razão. 


Afinal de contas a razão só nos permite conceber e compreender o mundo e a vida através da nossa própria perspectiva racional e cultural e de uma forma muito parcial.


É por essa razão que é errado dizer que nós somos unicamente seres racionais, pois além dos nossos pensamentos nós temos também sentimentos, emoções, impulsos e as crenças profundas que existem dentro da nossa alma.


Não se pode reduzir a nossa actividade cognitiva, assim como as nossas pesquisas filosóficas e religiosas unicamente à esfera do nosso raciocíno, ignorando o nosso lado sentimental e emocional e a faculdade que temos de crer num mundo sobrenatural que ultrapassa a esfera do racional e do natural.


Nós só podemos ter uma compreensão global da existência e dos relacionamentos humanos, se compreendermos que temos que envolver não somente o raciocínio, mas também o nosso coração nessa pesquisa e processo.


O raciocínio pode ser a sede dos nossos pensamentos, mas o coração é a sede dos nossos sentimentos, emoções, impulsos e crenças.


Por essa razão, neste trabalho, eu irei falar das três grandes actividades do ser humano na procura da compreensão global da existência, que são: o pensamento, o sentimento e a crença. 

Irei tentar mostrar que estas actividades não se contradizem, mas antes se completam. 

Claro que ao querer mostrar que o cristianismo é uma fé que “sente e crê”, irei salientar também que o cristianismo é uma fé  que “pensa”. É por isso que o título deste trabalho é A fé cristã vista do ponto vista filosófico e racional.


Neste livro eu procuro também dar uma explicação para questões misteriosas que estão ligadas com o nosso mundo natural, com a revelação bíblica e com o campo filosófico.


Vale a pena ler sobre a abordagem que faço acerca de alguns temas misteriosos relacionados com o universo, o homem e com Deus.


Capítulo 4 – A ideia de Deus

I. Introdução ao assunto

A. Deus e a razão humana

1. A teologia cristã derrota a teologia racional
2. O crescimento do pensamento cristão

B. As primeiras perguntas

1. Hume e Kant contestam a concepção racional de Deus
2. Kant contesta a concepção racional de Deus

C. Provas teístas

1. A existência de Deus não pode ser provada do ponto vista científico ou técnico.

D. Os diversos argumentos

1. Prova encontrada na relação do conhecimento com a história.
2. Teoria - evidência/coerência/impacto do conhecimento na história.
3. Os diversos argumentos sobre a existência de Deus

I I. Natureza, atributos e experiência. 

A. Natureza e atributos de Deus

1. Deus é um Ser infinito e espiritual
2. O materialismo não explica a existência do pensamento
3. Deus é um Criador Todo Poderoso e Eterno
4. Duas contradições da teoria da evolução
5. A natureza e os atributos de Deus

B. Conceito moderno quase-teísmo

1. Deus só existe no pensamento e não na realidade.
2. A psicologia e a biologia contradizem o quasi-teísmo.
3. Diversos conceitos teístas

C. É Deus inefável

1. Deus só é inefável do ponto vista da razão.
2. Deus pode ser conhecido através da Bíblia e de Cristo.

D. A natureza da experiência

1. O que é a experiência
2. Parecer de julgamento
3. Parecer puramente sensorial
4. Enchimento e fenomenologia da experiência “numinous”
5. A fenomenologia da experiência

I I I. Deus e o seu trabalho criador

A. O trabalho criador de Deus

1. Deus é um criador eterno
2. Um palavra sobre os extra-terrestres.


I. Introdução ao assunto


Ao pensarmos na ideia de Deus e tentarmos estabelecer uma análise filosófica dessa ideia, afim de demonstrar ou não a sua validade, teremos que admitir que existem alguns pressupostos no processo dessa análise, que condicionarão as nossas pesquisas:


O primeiro pressuposto: É que se Deus existe; ELE terá que transcender a nossa capacidade meramente racional e escapar ao âmbito de uma análise conceptual.


O segundo pressuposto: É que se Deus existe; ELE terá que ser a primeira e a última realidade, independente, permanente, una e imutável, que existe por detrás de todas as aparências.


Se não incluirmos estes dois pressupostos na nossa pesquisa e análise da ideia de Deus, dificilmente chegaremos a uma conclusão honesta e verdadeira sobre a sua existência.


Mas há mais alguns pressupostos. Os que vêm a seguir embora pareçam ter um carácter mais hipotético, são de facto inegáveis do ponto vista religioso e filosófico.


O terceiro pressuposto: Deus terá que ser "um Ser de natureza espiritual". Só se pode conceber a ideia de um Deus que não tenha limites tanto no que diz respeito à Sua natureza como ao Seu carácter. Deus terá de ser ilimitado e eterno.


O quarto pressuposto: Deus além de ser de natureza espiritual, o que faz Dele um Ser ilimitado e eterno, é "um Deus criador de poder ilimitado e a sua actividade criadora é eterna também". Isto quer dizer que nós só conhecemos uma ínfima parte da criação de Deus, pois Deus tem criado coisas desde toda a eternidade.


Segundo a Bíblia, Deus existe de eternidade em eternidade. Então, se Ele existe de eternidade em eternidade, isto fala de uma eternidade de eternidades:


"Deus ouvirá e lhes responderá, Ele, que preside desde a eternidade". Salmos 55:19


"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus". Salmos 90:2


"Desde a antiguidade, está firme o teu trono; tu és desde a eternidade". Salmos 93:2


Reparem que no Salmos 55, está dito que: "Ele preside desde a eternidade". No Salmos 90 diz que antes que se formasse o nosso mundo: "Deus já existia de eternidade em eternidade". E no Salmos 93 diz que: "Ele é desde a eternidade".


Falemos sem medo e preconceitos, mais um pouco, sobre este quarto pressuposto:


Nós não podemos resumir a actividade criadora de Deus à criação dos anjos e do nosso Universo. Deus tem criado de eternidade em eternidade coisas que não conhecemos, e nem Ele poderia revelar na Bíblia, pois a nossa compreensão é finita e muito limitada para entender toda grandeza de um Deus eterno!


Nós não podemos reduzir a actividade criadora de um Deus infinito e eterno, à criação do nosso universo e do homem.


"Se assim fosse Deus já não seria o centro das coisas, mas o nosso universo e o homem passariam a estar no centro de tudo".


E, no fundo, a existência infinita e eterna de Deus resumir-se-ia à existência finita e temporal do nosso universo e do homem.


Embora os teólogos cristãos defendam na base da Bíblia que o homem é o centro de toda a criação de Deus, não podemos, contudo, negar o facto que a revelação bíblica refere-se à criação do nosso universo e do homem. A revelação bíblica pouco ou nada diz sobre a actividade criadora de Deus durante as suas eternidades.


Por isso é melhor dizer que o homem é apresentado na Bíblia, como o centro ou clímax da nossa criação, mas não como o centro e o clímax de tudo o que existe e foi criado por Deus durante as Suas eternidades, que a Bíblia não revela.


No último capítulo deste tema continuo a desenvolver este pressuposto.


O quinto pressuposto: Este pressuposto supõe que Deus tem que ser "um Ser infinitamente bom". Aliás, a Bíblia revela que Deus é amor e podemos dai deduzir que o grande desejo de Deus é fazer bem a todas as formas de realidade que Ele tem criado desde toda a eternidade.


O carácter benevolente de Deus está intrinsecamente ligado à sua natureza espiritual, infinita e eterna. Se Deus não fosse benevolente não poderíamos testemunhar de tanta harmonia e beleza à nossa volta.


Um Deus cheio de caprichos e de maldade, como concebiam os antigos, tornaria o mundo num caos total e contínuo. Nós não seríamos mais do que marionetas nos seus dedos cruéis! Nós vemos que apesar de haver muito mal à nossa volta, a justiça e a bondade tem o primado. O universo foi criado por Deus com bastante significado, apesar de parecer um espaço onde o sofrimento e a desigualdade têm o primado.


A criação é suficiente para nós vermos claramente que a harmonia, o gozo, a alegria e o amor é que têm o primado no universo e não o mal ou o sofrimento. O mundo é um lugar onde o passarinho vive cheio de prazer, apesar de viver num constante estado de alerta e onde os animais brincam de alegria, mesmo sabendo que estão sendo vigiados pelo predador.


O sexto pressuposto: Se Deus existe, Ele possui um atributo difícil de aceitar, que é a Sua justiça. É impensável pensar num Deus que não é justo. Ser justo, não significa só ser sumamente bom, como vimos no quinto pressuposto, mas pode significar também “castigo”. Um Deus justo executa a Sua justiça sobre aqueles que transgridem as suas leis, ou se opõem aos seus desígnios.


Portanto, faço um resumo destes seis pressupostos importantes sobre a ideia de Deus.


1. Deus transcende a nossa capacidade racional e escapa ao âmbito de uma análise conceptual.


2. Deus é a primeira e a última realidade, independente, permanente, una e imutável, que existe por detrás das aparências.


3. Deus tem uma natureza espiritual.


4. Deus é um criador eterno e ilimitado.


5. Deus é sumamente bom.


6. Deus é justo.


Ao considerar estes seis pressupostos, estamos mais preparados para iniciar o nosso estudo sobre a ideia de Deus. As ideias defendidas nestes seis pressupostos irão reaparecer conforme iremos desenvolvendo a ideia de Deus.


A. Deus e a razão humana


1. A teologia cristã derrota a teologia racional

A crença em Deus, não veio da razão ou de questões ligadas com a origem do mundo, mas sim "dos factores mais ligados com a própria vida emocional e social do homem".


Muito antes do homem envolver-se em especulações racionais acerca da suas origens e das origens do Universo, os deuses eram um facto aceite em suas crenças, pois respondiam às aspirações das suas necessidades emocionais e sociais mais básicas.


Vemos que o povo Hebreu foram os primeiros monoteístas, mas esta crença proveio de experiências religiosas reveladas na Bíblia, onde vemos que Deus e os anjos apareceram pessoalmente aos patriarcas e aos seus descendentes. Dessas aparições nasceram as revelações que foram escritas no Pentateuco e não de nenhum processo racional de pensamento.


Portanto, a crença dos hebreus era baseada nessas revelações e não em qualquer processo filosófico. A crença em Deus, não provém de uma teologia racional.


Os princípios da teologia racional acerca da existência do homem e de Deus, tiveram a sua origem no ensinamento religioso da antiga Grécia. É verdade que também foram ensinados pelo pensamento indiano, e pelo sistema budista, mas é quase impossível dizer se, da forma como hoje temos estes ensinamentos, pertenceram mesmo aquela época.


Platão merece ser chamado o primeiro filosófico teísta "para ele as crenças em que não existiam deuses ou que os deuses não cuidavam do Universo, eram crenças irracionais". Ele também não gostava da ideia que a Justiça divina pudesse ser satisfeita com um pouco de piedade ou alguns sacrifícios, como era o costume dos povos pagãos com os seus rituais e penitências para agradar a Deus.


As suas ideias religiosas, não nos permitem chamá-lo de monoteísta, mas de outro lado, a sua ideia do Bem relacionada com Deus, acaba por se identificar, de certo modo, com a crença monoteísta.


No entanto para Platão "era o puro de mente que devia ver Deus e não o puro de coração", pois é claro que ele era acima de tudo um filósofo.


A concepção de Aristóteles sobre Deus era muito mais abstracta "para ele, Deus era um princípio filosófico, pura inteligência, pura actividade". Ele via Deus com existência própria, eterno, mas transcendente demais para ser pessoal ou moral. O argumento dele sobre Deus, não é o mesmo argumento mais tarde chamado cosmological ou teleological, que vamos ver mais à frente.


Para Aristóteles, apesar de Deus existir, não existe qualquer relação entre Deus e o mundo. Deus não é, nem o seu criador, nem o seu sustentador. É uma ideia estranha falar de uma relação entre Deus e o mundo, afirmando que Deus não é o criador e o sustentador do mundo, mas era o seu ponto de vista filosófico.


A idade média seguiu a Filosofia de Aristóteles, em vez da de Platão, até que a Reforma sacudiu tanto o poder do Papa como o poder da teologia racional de Aristóteles.


Várias correntes de pensamento, inclusive neoplatónicas tentaram forjar o seu caminho durante a idade média, "mas finalmente em 526 depois de Cristo, Justiniano aboliu as escolas de pensamento".


A partir daí, "a noção Hebraica de Deus juntamente com as modificações Paulinas do Novo Testamento", dominaram o mundo por mais de 1000 anos, dando origem a uma teologia sobre Deus baseada exclusivamente na Revelação Bíblica.



2. O crescimento do pensamento cristão

Entretanto, a ideia de Deus estagnou, por causa da grande ênfase que o Cristianismo começou a dar à pessoa de Cristo, em vez da natureza da Deidade.


A doutrina da espiritualidade total da divindade, assim como outras doutrinas, oriundas da Teologia cristã, foram, no entanto, pondo gradualmente de lado as concepções filosóficas da época sobre Deus.


A ideia de Augustino tornou-se preponderante e dominou por vários séculos o pensamento cristão. De um lado, a sua ideia surgiu do pensamento metafísico, pois falava de transcendência divina ensinada pelos neo-platonistas, e por outro lado, de imanência divina falada por outros filósofos.


Augustino rejeitava, no entanto, é claro, outros aspectos filosóficos defendidos por esses mentores, tais como o dualismo e o misticismo anti-racional. De outro lado, a concepção de Augustino era empírica. Para ele, Deus era a experiência imediata, tal como Cristo era para São Paulo. Ele nunca conseguiu harmonizar o lado transcendente e imanente de Deus e, por isso, começaram a desenvolver-se concepções metafísicas de Deus dentro da Igreja.


A transcendência e a imanência de Deus, são os dois lados de um mesmo fenómeno, dependendo do interesse subjectivo ou objectivo dos filósofos, mas isto não altera o facto de que se desenvolvem independentemente um do outro.


A reforma, não contribuiu muito para o desenvolvimento da ideia de Deus. Contribuiu sim, para quebrar a ideia de que o conhecimento provinha só dos conventos, preparando assim o caminho para o pensamento independente, do qual Hobbes foi um dos iniciadores.


Desta forma, com a liberdade de pensamento que a reforma trouxe, começaram a desenvolver-se diversas filosofias.


Com Descartes, os filósofos iniciaram as suas buscas, procurando preencher com a ideia da Deidade as lacunas filosóficas de seu pensamento. Spinoza, por exemplo, uniu as ideias de extensão e pensamento em "substância". Este termo, sem conter a noção materialista que a palavra possui em nossos tempos, passou a ser para ele a base da existência.


Mas Spinoza caiu no panteísmo, pois para ele toda a realidade era Deus. Assim como uma criança judia aprendia, na sua primeira lição de Teologia"que há um só Deus e que devia amá-lo de toda a sua mente" ; Spninoza, ensinava, que a realidade era só uma e que "o amor intelectual de Deus" (amor intellectualis Dei), era o alvo final do homem".


Entretanto nenhuma das concepções filosóficas, acrescentou novas ideias à concepção da ideia da Deidade, religiosamente falando. Elas serviram foi para aumentar o abismo que já existia entre o Deus das metafísicas e o Deus da religião.


Não há muito em comum entre os dois, na maior parte das vezes.


No entanto, é possível que isto se deva ao facto de que a razão humana não conseguindo absorver toda a realidade, é forçada a recorrer a todas as espécies de recursos ou hipóteses para preencher as lacunas do raciocínio filosófico.


Se o raciocínio humano estivesse disposto a aceitar a ajuda dos outros elementos que compõe a vida anímica e empírica do ser humano, que representam afinal mais de 70% do total do homem, como a emoção, sentimentos, intuição, premonição, moral, percepção sensorial e extra-sensorial etc., "talvez, as conclusões filosóficas, ficassem mais perto das conclusões cristãs sobre a natureza de Deus e do homem".


O problema, é que a Filosofia, querendo manter-se exclusivamente racional, sob a pretensão de ficar no âmbito de um conhecimento objectivo da realidade e manter a credibilidade científica, esquece-se que, à partida, tanto a filosofia como a ciência, baseiam as suas investigações na base de muitos pressupostos de carácter cultural, sensorial e até religioso. Esta ideia já foi referida num das outras sebentas – sebenta dois página 17 - que era bom o leitor tornar a ler.


Tomando tudo isto em consideração, compreendemos melhor algumas das razões que têm traçado uma linha divisória acerca da ideia de Deus, entre a filosofia e a religião.


Apesar de tudo, concluímos, que foi dado o primeiro passo para o nascimento de um teísmo cristão e de uma liberdade para o pensamento independente.


B. As primeiras perguntas


1. Hume contesta a concepção racional de Deus

Foi deixado a Hume contestar contra a ideia de uma possível concepção racional de Deus. Embora Hume não derrubasse o ateísmo, ele não negava que o universo parece sugerir a existência de um Deus. No entanto, ele defendeu que a crença não podia ser baseada na razão. Na obra Diálogos sobre Religião Natural, Hume deixou transparecer, na sua conclusão, que não estava muito inclinado para uma filosofia teísta da realidade. Sem dúvida que a crença em Deus, baseada no racional, era vista por ele com grande suspeita.


2. Kant contesta a concepção racional de Deus


Acerca de Kant, ele atirou para a incerteza esta questão da prova racional da existência de Deus. Ele colocou muitas dúvidas sobre a capacidade da razão poder provar a existência de Deus ou não. "A diferença entre ele e Hume, é que Kant introduziu a base moral, para substituir a base racional". Kant acreditava na distinção destes dois julgamentos. A base racional, julga a partir dos factos. A base moral julga a partir de valores. Deste facto ele iniciou o seu argumento não só a partir dos factos, mas, também, de toda a experiência que está subentendida nos valores existentes.


Hume e Kant "trouxeram à superfície o facto de que Deus não pode ser concebido pela razão e embora Kant introduzisse um valor moral à sua base racional, ficou contudo com muitas suspeitas sobre a Sua existência".


No entanto, ambos contribuíram para a evolução do pensamento filosófico, ao alegar que Deus não pode ser crido pela nossa razão, surgindo daí a necessidade de se criar novos processos de pensamento filosófico, que se aproximam cada vez mais do pensamento religioso e especialmente cristão.


C. Provas teístas


1. A existência de Deus não pode ser provada do ponto vista científico ou técnico.

"A palavra PROVA é muito ambígua".


O que é aceite como prova, num problema de matemática, numa discussão filosófica ou sobre os Direitos humanos, é diferente. Por essa razão, alguns dizem que a existência de Deus, sendo verdade, não precisa de provas. Outros gastaram toda a sua vida a recolher provas, contra ou a favor. E, outros, declararam, que não é possível haver provas.


As recolhas de provas de carácter teísta, iniciaram numa altura em que o método científico era desconhecido. A teoria da evolução, embora aceite por muitos estudiosos, mantinha-se como uma hipótese, por falta de evidências em todas as suas conclusões. O mesmo acontecia com a problemática sobre a existência de Deus que, no sentido mais estrito, é incapaz de ser provada ou negada. Tecnicamente falando, as últimas causas, ou as verdades fundamentais, não podem ser provadas ou desaprovadas.


"Neste sentido técnico do termo, a prova da existência de Deus fica como uma mera hipótese".


No entanto, embora não se consiga chegar a todas as provas, uma hipótese pode ser aceite porque é capaz de explicar diversos factos e valores já reconhecidos e importantes, ou, porque é capaz de dar tantas evidências que preferimos aceitá-la a outras explicações.


Tendo isto em mente, é possível passarmos à consideração dos diversas sistemas tradicionais do pensamento teísta.


D. Os diversos argumentos


1. Prova encontrada na relação do conhecimento com a história.

As provas de um sistema têm que ser comprovadas ou negadas, na base de um relacionamento com os factos e os valores históricos.

Qual é o relacionamento que os personagens, os documentos e as influências pertencentes a um determinado conhecimento, têm com os factos e os valores históricos passados e presentes?


Ao pensar na resposta, não podemos esquecer o seguinte:


"Qualquer conhecimento está baseado em pressupostos de carácter objectivo e de carácter subjectivo. Dizer que não, é negar a experiência mais evidente da natureza":


O ser humano apareceu primeiro e só depois apareceu a máquina e o aparelho. Não foi a máquina ou o aparelho que o criou, mas foi o homem que os criou. Por essa razão, o homem é sempre o último a ter a última palavra em matéria de conhecimento. Daí a importância dos valores humanos de carácter cultural, psicológico e sensorial na investigação científica.


"É por essas razões que as provas de qualquer conhecimento, têm que ser baseadas no factor mais objectivo e palpável que conhecemos, a nossa História".


A própria historicidade de um certo conhecimento, será o seu próprio árbitro ou juiz. Um conhecimento ou têm raízes, coerência e evidências históricas ou não. Se não tiver, então teremos que etiquetá-lo como um conhecimento desfasado da história e, certamente, desfasado de todos os outros conhecimentos.


Por exemplo, a astrologia tem criado muitos conhecimentos que não estão minimamente de acordo com as leis modernas mais elementares da astronomia ou mesmo da psicologia. No entanto, os astrólogos replicam que a astrologia pode não estar de acordo com essas leis, mas funciona, ou procuram dizer que a astrologia está em sintonia com as crenças antigas, que diziam que os astros têm influências sobre o rumo da vida das pessoas!


Claro que há muito coisa que funciona neste mundo ... como a astrologia … mas mal!


Há muitos conhecimentos assim. Podem estar em desacordo total com tudo o que parece moral e racional, mas como funcionam, ou sejam, há pessoas que acreditam ou buscam ajuda nessas coisas, acabam por ser adoptados por muitos.


Um argumento pode enganar ou passar por cima de tudo, mas não pode enganar nem passar por cima da sua própria historicidade. Se uma ideia é vaga e sem história, a própria história acabará por denunciar a sua intrujice e essa ideia, mais tarde ou mais cedo, ficará na poeira da história.


Há também que considerar um factor importante: não estamos a defender que o conhecimento verdadeiro, é forçosamente aquele que é abraçado por toda a maioria.


Estamos antes, a dizer, que este conhecimento é reconhecido, por causa do seu percurso histórico, como sendo coerente e evidente, devidamente demonstrado pelos factos, personagens e documentos que o promoveram.


Por exemplo, Jesus Cristo disse acerca da Bíblia, considerada pelos cristãos a Palavra de Deus: "Os céus e a terra passarão, mas a minha palavra não há-de passar".


Tal afirmação terá que ser condignamente avaliada.


É uma intrujice ou não?


Bem, muitas pessoas podem não ter fé na mensagem redentora da Bíblia, mas não podem honestamente negar a veracidade desta afirmação, pois, a Bíblia, cuja a formação iniciou-se a mais de 3000 anos antes de Cristo, continuou o seu percurso histórico, e 2000 anos depois de Cristo, a Bíblia é o livro mais lido e o mais influente da história.


Afinal Cristo tinha razão: "a Sua Palavra não passou"!


2. Teoria - evidência/coerência/impacto do conhecimento na história.

Podíamos criar uma régua com as seguintes medidas, definidas pelos termos:


a. Evidência, Coerência e Impacto do conhecimento, de um lado da régua.


b. Falta de evidência, Falta de coerência e falta de impacto do conhecimento, do outro lado da régua.


A partir daí, podemos medir numericamente ou percentualmente, a evidência, a coerência e o impacto de um conhecimento, neste caso religioso, sobre a história.


Teremos que seguir uma orientação ao fazer esta medição, e fazermos 3 perguntas:


Primeira pergunta: qual é a evidência dos argumentos, factos, personagens e documentos ligados a este conhecimento religioso, na história geral da humanidade?


Segunda pergunta: qual é a coerência dos argumentos, factos, personagens e documentos ligados a este conhecimento religioso, na história geral da humanidade?


Terceira pergunta: qual é o impacto dos argumentos, factos, personagens e documentos ligados a este conhecimento religioso, sobre a história geral da humanidade?


"Utilizando então a régua, ou esta teoria, podemos medir a evidência, a coerência e o impacto que cristianismo ou qualquer outro conhecimento religioso teve sobre a nossa história".


Mas deixando, o leitor utilizar esta régua ou teoria, para medir o efeito e o impacto do cristianismo ou outro conhecimento qualquer sobre a história, vamos analisar agora alguns argumentos teístas:


3. Os diversos argumentos teístas sobre a existência de Deus

a. O argumento ontological

Anselmo definiu Deus como sendo Aquele, "cujo um maior do que Ele não pode ser concebido".


“Aliquid quo nihil majus cogitari potest”.


Anselmo concluiu que deve existir Aquele, cujo um maior do que Ele é inconcebível, seja no pensamento, seja na realidade.


"Existit ergo procul dubio aliquid quo majus cogitari non valet, et in intellectu et in realidad".


O argumento ontological de Anselmo é que Deus "sendo o maior Ser que existe tanto na realidade como no pensamento", deve ser concebido como tendo existência real.


Um monge, Gaunilo, responde a Anselmo dizendo que o argumento ontological era incoerente, porque podemos conceber uma ilha maior, do que a maior que conhecemos, mas que na realidade não existe.


Anselmo respondeu a Gaunilo, dizendo: "que no caso de Deus, era legitimo concebê-lo como um facto real, visto Ele existir no pensamento e na realidade como Aquele cujo um maior do que ele não pode ser concebido”. Se quisermos conceber alguém maior do que Deus, será sempre Deus.


Kant ridicularizou as ideias de Anselmo. Para ele, o argumento ontological não exprime uma certeza lógica, mas uma certeza moral.


O ponto fraco do argumento ontological é, no entanto, a evidência de que podemos conceber coisas no pensamento que não existem. Isto embora Anselmo defenda que tal ideia não faz sentido quando se refere ao ser maior necessário, ou seja ao ser Ontológico que é Deus.


"Para ele, se Deus existe no pensamento, tem que existir na realidade".


Isto leva-nos a perguntar: Qual é o relacionamento entre o pensamento e a realidade? Veremos mais tarde.


John Caird coloca o argumento ontological da seguinte forma: “Como seres espirituais, a nossa vida consciente está baseada numa consciência universal, uma Vida Espiritual Absoluta, que não é uma mera sugestão, concepção ou noção, mas que contêm em si própria a prova da sua necessária existência e realidade Ontológica”.


Neste caso o argumento ontological sugere que a proposição “Deus não existe” é uma contradição, e que a proposição “Deus existe” é a Verdade Necessária.


Sem dúvidas que certas proposições negativas da realidade, ou proposições afirmativas da realidade, podem ser provadas somente através de uma reflexão subjectiva.


Entretanto, para melhor compreendermos o argumento ontological, temos que introduzir a seguinte definição: “o Ser necessário e o Ser independente”.


“o Ser necessário” é o ser, perfeito, omnipotente, omnipresente, omnicompetente e de máxima excelência. É o ser de Anselmo, o maior de todos, que é "logicamente necessário".


Este argumento teísta defende de certo modo o Monoteísmo, embora o argumento ontological baseia-se mais na ideia da necessidade de conceber-se um Absoluto e não forçosamente um Deus. Neste caso a relação entre o Absoluto e Deus fica em aberto neste argumento. E põe também em questão a natureza deste Absoluto.


"O ser independente é o Ser que existe por si próprio, não tendo nem princípio nem fim".


Desta forma, para estes filósofos teístas, Deus ou o Absoluto é o “Ser existencial necessariamente lógico e independente cujo as causas não têm explicação".


Para o cristianismo, "que em parte é ontological", este Absoluto não é uma força, mas sim uma pessoa ... Deus, é apresentado como criador e sustentador de tudo Colossences 1:12-29 e João 1:1-1 1 .


Anselmo defendeu a ideia de um ser independente, necessário e lógico. Que o ser mais perfeito que a nossa mente pode conceber, não é um fantasma da nossa imaginação. É uma lógica do pensamento. Ele acreditava que o homem foi criado como é agora, e que a ideia de Deus foi colocada em sua mente pelo criador.


A teoria de evolução combateu estas coisas, mas há um facto que fica, é que se a natureza donde procedemos não possui carácter moral, nem espiritual, nós teremos que concluir que ultrapassamos as nossas origens naturais, e nos tornamos criadores de coisas que a nossa base existencial não possui.


O argumento ontological pode faltar de provas axiomáticas, que pretende possuir.

Mas no que diz respeito a um argumento filosófico e religioso que defende a existência de um Deus - ou um Absoluto, é um argumento que continua e continuará a ser analisado pelos estudiosos, mesmo apesar de algumas falhas axiomáticas (preposições que têm falta de lógica).


b. O argumento cosmological

Este argumento expressa uma das convicções fundamentais mais sensatas do ser humano. Vemos que, as crianças, mal começam a aprender, perguntam logo acerca da origem do mundo.


E porquê que elas fazem estas perguntas? "Por causa do cosmo que existe à sua volta".


Por essa razão, os povos primitivos criaram logo os seus deuses “criadores da natureza”. Isto provêm da convicção interior, muito forte, que o Universo foi feito por um poder superior ao nosso. Esta convicção fundamental e sensata é de carácter exclusivamente psicológico. Não é um produto da mente humana, criado a partir do relacionamento do homem com o meio ambiente.


Todos os homens, desde que o homem existe, experimentaram tal convicção. Este factor psicológico é um das causas principais das origens da religião, como já foi dito no capítulo sobre as origens da religião.


Uma ideia defendida pela ciência para negar este argumento, é a preposição de que a matéria é eterna. Mas a ciência no fundo sabe muito bem que o Universo não pode ter existido desde toda a eternidade!


Que todo o acontecimento tem uma causa, parece ser uma tese mais do que consumada. "O universo é um acontecimento que tem uma causa atrás do seu aparecimento".


Daqui forma-se a pergunta :


Haverá uma primeira causa que nunca foi causada ou seja, Deus?


"Os que defendem o argumento cosmological acreditam que Deus ou o Absoluto, sendo a primeira causa, nunca foi criado ou causado".


Os seres existentes, que vimos e tocamos não precisam de explicação para acreditarmos na sua existência. Sabemos que eles existem, mesmo sem termos uma completa explicação para a sua existência.


Mas, alguns pensam, que a existência destes seres não é forçosamente uma prova de que existe um ser necessário que os criou.


O argumento cosmological pensa que sim: "diz que todos os seres surgem a partir da actividade de outros seres, mas que para isto tem que haver um ser, cuja a existência independente é necessária, mas não forçosamente lógica".


Este ser é omnisciente, omnipotente e omnipresente, segundo muitos defensores do argumento. No entanto é mais fácil acreditar e explicar a existência de um ser que é causado por outro, do que explicar a existência de um ser independente e necessário, que não tem explicação nem causa.


O argumento pretende, possuir provas axiomáticas: Vamos ver se é possível este argumento ter provas axiomáticas:


Vamos supor que há um Ser que preenche as seguintes condições:


A primeira preposição defende que “a existência de Deus é verdadeira e explicada por si próprio” é verdadeira.

A segunda preposição defende que “ele teve uma causa para existir" é falsa.

Se aceitarmos que há um valor axiomático em cada uma destas duas preposições, teríamos que juntá-las para formar um terceira preposição e concluir que:  


A terceira preposição seria "Deus é um ser que existe, mas nunca teve uma causa para existir, por isso é impossível explicá-lo, pois não foi causado”


Mas falemos um pouco do valor axiomático destas preposições:


Se Deus satisfaz as duas preposições acima mencionadas, a verdadeira e a falsa, que nos permitiram formar um terceira preposição, Ele tem que possuir uma existência independente e necessária.


Ou seja, Deus é o único que pode explicar a sua própria existência. "Portanto, Ele não tem forçosamente uma existência necessariamente lógica, que é explicada pela lógica humana".

Se a lógica pudesse explicar ou negar a existência de um Ser com tais propriedades, não haveria tantas discussões à volta deste assunto. Para o argumento cosmological, Deus não pode ser logicamente explicado, nem pode ser negado pela lógica.

Mas continuemos a nossa análise cosmological:

Por exemplo, a ideia de que a existência não teve início, parece não concordar com a lógica humana, habituada a pensar em princípios. Mas, de outro lado, pensar numa existência com princípio parece não ser lógico também, porque a pergunta lógica que se segue é: "E o quê que havia antes?".

Isto nos leva a formar duas preposições, uma tem que ser verdadeira a outra tem que ser falsa:

1ª preposição “um ser ou um estado de coisas deu sucessão a um outro ser ou a um outro estado de coisas”

2ª preposição “todos os seres que existem ou todos os estados de coisas, têm a sua origem num ser eterno e infinito”.

O argumento cristão, como o argumento cosmological, acredita que a 2ª preposição é a verdadeira.

Mas isto leva os cristãos a uma reflexão: é difícil conceber um ser que existiu antes de tudo, durante toda a eternidade e que, de repente, começou a criar coisas.

" mais fácil e lógico pensar num Ser, que não tendo tido uma causa, é causador de efeitos, de acontecimentos".

Neste caso, Deus tem causado efeitos e acontecimentos em todas as suas eternidades de eternidades. Ele é um criador eterno. Não se pode conceber um momento em que Deus estivesse parado sem causar nenhum efeito ou acontecimento.

Um argumento deste género poderia nos levar a uma ideia, que é a de dizer que o universo é eterno. Mas, nós não estamos a dizer que o universo é eterno, mas sim que a actividade criadora de Deus é eterna.

Gostemos ou não, estamos muito longe de saber o que é o universo. Iremos tratar do assunto sobre a ideia do universo e nessa altura teremos a possibilidade de tentar procurar dar uma ideia do universo que seja compatível com a ideia de um Deus eterno e ilimitado tanto em poder como em sabedoria – como nos revela a Bíblia.

Locke disse: "não há verdade mais evidente do que acreditar numa primeira causa que é eterna".

O argumento cosmological também defende que o sentido ordinário causa/efeito é inadequado para explicar o universo como um Todo. Deve haver algo absoluto onde tudo repousa.

O argumento cosmoligal alinha um pouco com o idealismo que diz que não pode haver matéria sem pensamento. Logo se esta dissertação é verdadeira, tem que haver uma outra mente que criou a mente do homem.

No entanto o argumento cosmological, aproxima-se, mas não atinge uma conclusão teística, pois a primeira causa não é vista forçosamente, ou parecida com o Deus da Bíblia.

c. O argumento teleological

O argumento teleological foi concebido a partir da ideia que existe um projecto por detrás da criação. É um argumento baseado na ideia de um "cálculo ou um de projecto que está bem intrínseco na natureza que nos rodeia".

Quando contemplamos a natureza, vemo-la instintivamente como um projecto elaborado por um criador. Há uma marca bem patente deste facto em tudo o que nos rodeia e em nós próprios. A ortodoxia cristã, contêm muitos textos que fazem referência ao argumento teleological.

Por exemplo Romanos 1:19-32. Neste texto são chamados de loucos, os sábios que não conseguem ver a mão criador de Deus na natureza e, por causa disto, a perverteram, acabando por adorar a criatura em vez do criador.

Romanos 1:19 porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. 20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; 21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. 22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos 23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis 28 E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes"

Pitágoras disse que Deus deve ser um matemático. Platão aceitou o argumento. Aristóteles, em seus estudos de biologia e física ficou convencido com o argumento teleological. O crescimento do conhecimento científico nos últimos 200 anos, não retirou este argumento de muitas mentes.

"A ideia de projecto está manifesta em toda a parte. Não importa se somos homens de leis ou cientistas, podemos notar isto em tudo. Nós temos que acreditar num Senhor arquitecto do Universo".

Apesar do argumento ter perdido muito peso e popularidade nestes últimos 200 anos, e embora Hume falasse de "desteolologia", referindo-se desdenhosamente aos malvados e despropositados projectos da existência, ele acrescentou, contudo:

"a ideia de um projecto, de um plano, na natureza, salta à vista do mais estúpido dos pensadores".

Kant disse do argumento: "é o mais claro, o mais velho e o melhor argumento que se adapta à razão humana".

A ideia de que Darwin, com a teoria de evolução, acabou com o argumento teleological, não é verdadeira. O próprio Darwin disse o seguinte: parece ser de difícil concepção a noção de um universo provido do ocaso. É na base desta afirmação que Darwin aceitou a possibilidade da existência de Deus, embora nunca tivesse chegado a uma conclusão. Darwin negou ter sido ateísta, embora, por vezes, pensou como um agnóstico.

Darwin disse que a evolução não era forçosamente incompatível com o teísmo. Para ele, o problema, na ligação entre a evolução e o teísmo, era a definição da concepção de Deus.

Alguns físicos e químicos, aceitaram a ideia da existência de um intelecto não físico, um intelecto psíquico, que regulamentasse as funções dos organismos.

Vemos também que a "ideia da desteleologia" não é suficiente para deitar abaixo o argumento teleological. É verdade que nós vemos na natureza: a desarmonia, a imperfeição, a guerra, o ódio, o caos.

Mas qual dos valores é mais visto na natureza e defendido pelo homem em geral?

A harmonia ou a desarmonia? A perfeição ou a imperfeição ? O amor ou o ódio? O caos ou a unidade?

Qualquer de nós sabe bem qual é a resposta!

"A natureza é muitíssimo mais teleological do que desteleological".

Apesar do argumento teleological não poder provar a existência de Deus, ele coloca no interior do homem uma impressão, que ninguém pode escapar: há unidade na natureza, há lei, há regularidade e há casualidade. Existe em nós a capacidade para compreender a natureza, as suas propriedades e as suas funções.

O próprio Bertrand Russell, num momento cândido disse: é muito estranho nós sermos capazes de julgar as obras da nossa "sem pensamento natureza mãe”. Nós somos obrigados a admitir que esta "sem pensamento natureza mãe", esta força cega, foi suficientemente lúcida para ajudar a nossa inteligência a se adaptar de tal maneira à natureza, a ponto de a descobrirmos.

Russell admitiu que não valia a pena gastar tanta tinta acerca da natureza, se somos incapazes de conhecer a sua última verdade!

É sem dúvida um argumento que expressa o sentido de um universo com propósito. Não é uma prova da existência de Deus, mas ajuda a acumular evidências aos argumentos teísticos.

"Se cremos que os argumentos teístas são bastante impressivos do ponto vista racional, será que a crença intelectual/natural vinda dessas ideias tão fortes, não nos conduzirão a uma Fé verdadeira e sobrenatural num Deus que se revela na maior e mais impressiva Pessoa da história da humanidade - Jesus Cristo, e através do maior Livro – a Bíblia?"

A Bíblia é muito clara em Romanos 1:19-22 o homem não tem desculpas se não reconhecer a existência de Deus, que é um facto do pensamento e da criação que podemos ver à nossa volta, cujo arquitecto é Deus. Não é a mãe natureza, assim chamada por Russel, pois a natureza foi criada pela multiforme sabedoria de Deus!

Romanos 1:18 "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; 19 porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. 20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis"

O livro de Job, salienta bem o facto da criação revelar a existência de um Deus criador, perfeito e juiz justo. Deus é perfeito e justo, apesar de todo o sofrimento humano e de todas as questões que os homens possam colocar por causa do sofrimento e das injustiças terrenas!

d. O argumento moral

A maior parte das pessoas, não consegue identificar o sentido da moral, com um universo desprovido de propósito. A lei moral e um propósito no universo, são como os dois lados de uma mesma moeda. Não os podemos dissociar. É também muito difícil acreditar, que a nossa natureza moral, tenha as suas origens numa base amoral da nossa existência.

Se não pudermos provar racionalmente a base moral do nosso ser, podemos estar absolutamente certos de que existe, pelo menos, um padrão de “certeza moral através do qual o nosso ser orienta o seu comportamento", defendeu Kant.

Kant rejeitou as provas teístas, mas muitos anos depois ele afirmou que:

“é inconsistente acreditar num universo que se pode explicar racionalmente, e ficar, ao mesmo tempo, indiferente aos valores morais e espirituais da existência”.

É interessante analisar que Kant utilizou o argumento ontological: “o ideal deve ser o real”, para falar da autoridade e da urgência do sentido moral.

Butler disse que “se o poder da consciência fosse igual à sua autoridade, a consciência governaria o mundo”

Dean Rashdall disse que “a lei moral não é subjectiva, mas sim objectiva e absoluta”.
Qualquer homem sabe que: “é melhor amar do que odiar”. E porquê? Porque há um elemento inato e objectivo na moralidade, dentro do homem.

Está muito divulgada a opinião que diz que a moralidade é de origem social, e tem o único objectivo de participar para o bem estar de uma determinada sociedade. É verdade que a moralidade tem um propósito imediato, que é o de regulamentar o comportamento e o relacionamento social entre os indivíduos; mas a sua origem não é social, pois a moral provem de uma lei objectiva absoluta existente dentro do próprio homem.

Se Deus não existe, nem existe a moral, a nossa vida passa a ter o mesmo significado do que a vida de um animal, ou de uma planta.

Talvez pensemos que somos mais do que os animais, mas afinal eles têm capacidades que nós não temos como voar, saltar, correr, têm muito mais força e agilidade etc.

Onde está a grande a diferença entre nós e as outras formas de vida?

Está neste sentido moral que temos, que nos torna seres que vivem segundo uma consciência e livre arbítrio e não segundo instintos animais.

Para muitos, a moral não passa de um: “rigth by migth” - é certo por dever; ou que “migth determines rigth” - o dever determina o certo. Isto segundo o Dr. John Guest.

É dessa ideia que surgem uma parte das teorias relativistas, utilitarianas e edonistas da moralidade já mencionadas num capítulo deste livro.

Se não existe moral, quem pode assegurar que Hitler ou Staline ou Mao-Tsé-Tung estavam errados? Eles só estavam exterminando os seus oponentes políticos e os judeus considerados insanos!

Ainda que não se possa provar que é um dever “praticar o bem”, nós procuramos instintiva e racionalmente estar em ordem com este dever de “praticar o bem". Por isso Bradley disse que “é inadmissível perguntar porquê que devemos praticar o bem, pois senão estamos a presumir que deve existir outra coisa que possa ser praticada na vez do bem?”.

Para concluir, podemos dizer que embora os argumentos teístas possam não ser totalmente válidos do ponto de vista da lógica do raciocínio, são válidos do ponto de vista do pensamento.

Aliás, Deus não é, nem podia ser por causa da sua natureza espiritual e dimensão infinita, um ser logicamente necessário ao raciocínio, mas é um ser necessário ao pensamento

Desta forma, como todos os outros argumentos teístas, o argumento moral é mais uma prova da existência de uma lei absoluta, uma forte prova da existência de Deus.

e. O argumento cristão

1.1 A crença nasce dentro do homem, quando contempla, sente e pensa

Segundo o argumento cristão, a crença em Deus, embora não possa ser axiomaticamente provada através de preposições lógicas, é uma crença que surge de uma impressão natural que existe dentro de nós.

A crença que nasce dentro de nós, quando contemplamos e analisamos a realidade à nossa volta.

"Quando contemplamos a realidade tangível e visível no Universo, quando sentimos a realidade existente dentro de nós, e pensamos naquilo que parece existir para além dos nossos sentidos, o mundo sobrentural e Deus".

A crença em Deus e a moral, não se pode provar no sentido ordinário da palavra prova, porque são uma prova em si mesmos.

Por esta razão, a experiência religiosa não se pode provar, pois é uma prova em si mesma.

1.2 Temos que distinguir entre "crença em Deus" e "crença em Cristo"

A crença em Deus, nasce dentro do homem através do acto de contemplar, sentir e pensar, é simplesmente "a crença que Deus existe" ou melhor "a crença num Ser Superior, em que as religiões podem definir cada uma à sua maneira"

Qualquer homem pode chegar a esta crença e crer no Deus cristão, ou em deuses, ou num poder absoluto. A Bíblia diz que até os demónios têm esta crença.

Tiago 2:19 "Crês, tu, que Deus existes? Fazes bem. Mas, até os demônios crêem e tremem".

A crença em Deus, mesmo no Deus da Bíblia, é de certo modo uma crença cognitiva. É parecida com a crença Teísta, pois surge da contemplação da natureza, e de uma análise conceptual de factores racionais e sentimentos interiores.

De um certo modo, a crença que tem um carácter filosófico.

A crença em Cristo, além de ser uma crença cognitiva, parecida com a crença teísta, tem um lado sobrenatural, pois envolve não só o conhecimento da existência de Deus, mas leva o homem a ter um relacionamento pessoal com Deus através de Cristo.

A crença em Cristo envolve um acto de Fé.

A Fé é mais do que crer.

A Fé é aceitar, é receber algo, é nascer espiritualmente, é entrar num relacionamento com Deus. Além do lado intelectual de acreditar.

A Fé tem o lado espiritual, é crer em algo que não compreendemos completamente, como crer na Bílbia como sendo a Palavra de Deus, crer que Deus criou o Universo do nada e crer que Jesus Cristo é o nosso Salvador, e recebê-lo dentro de nós.

Só pode ter Fé alguém que foi tocado em seu coração e na sua mente por Deus. Deus toca o homem pelo Seu Espírito e pela Sua Palavra.

Efésios 2:8 "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie".

Romanos 10:17 "E, assim, a fé vem pela pregação e a pregação da Palavra de Cristo. (revelação divina)".

Vemos claramente que a Fé salvadora nasce de uma revelação que nos é comunicada, e não somente de um acto meramente cognitivo da nossa mente.

1.3 O objectivo do cristianismo não é provar a existência de Deus.

Portanto, o objectivo da religião e do cristianismo não é procurar provar a existência de Deus, do ponto vista lógico, mas procurar sim definir a natureza e o carácter de Deus e o caminho pelo qual podemos alcançá-lo.

Para o cristianismo, a Fé é a única garantia para podermos acreditar em Deus. Uma religião que procurasse provar Deus, passaria a ser automaticamente uma filosofia.

No entanto, os quatro argumentos teístas acima referidos que procuram provar a existência de Deus, só servem para fortalecer a posição cristã. Isto porque a Bíblia defende que a criação é em si mesma uma prova exterior da existência de Deus.

Romanos 1:19-22, o livro de Job e outros textos bíblicos, estão de acordo com os argumentos teístas ontological, teological, cosmological que se baseiam também na criação.

Romanos 1:20 "Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; 21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. 22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos"

O argumento moral teísta tem muitas semelhanças com os argumentos morais cristãos.

"A grande diferença entre o cristianismo e o teísmo está na definição da natureza, do carácter e da via para entrar em contacto com este Ser Absoluto".

Qualquer estudioso que acredite na força destes argumentos teístas, mesmo com as suas falhas, e começasse a ler a Bíblia, poderia tornar-se facilmente num cristão.

1.4 Deus não procura dar explicações através da Bíblia.

Se o cristianismo procurasse provar Deus, não passaria de mais uma filosofia.

Se procurasse explicar Deus, tornar-se-ia numa ciência.

Por isso, passemos para o seguinte argumento:

Nós não encontramos na Bíblia qualquer ideia que sugira que Deus procure através da Bíblia dar uma explicação ao homem sobre o provcesso que ELE utlizou para criar o universo, a vida, o homem, nem a razão para ELE permitir que os seus caminhos ou juízos sejam como são.

Nunca, em lado nenhum na Bíblia, encontramos esta tentativa de Deus procurar dar explicações ao homem sobre o que fez, o que não fez, ou porque fez assim.

E isto faz sentido. E Porquê?

Em primeiro lugar porque Deus não tem que dar explicações a ninguém.

Romanos 9:20 "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? 21 Ou não tem o oleiro direito sobre a massa'"

Em segundo lugar, porque as explicações de Deus não seriam compreendidas pelo homem.

As explicações de Deus não caberiam dentro da mente humana finita. Pura e simplesmente, o homem ficaria na mesma. Para quê, pedirmos explicações a Deus, sobre aquilo que é misterioso, que não entendemos, que ultrapassa a nossa capacidade cognitiva, conceptual, e no fundo ficaríamos na mesma ou pior se Deus procurasse explicar-nos os seus mistérios!?

A mente humana e particularmente a razão, é muitíssimo limitada. A sua área de circunscrição é muito pequena comparada com toda a realidade. O homem não tem capacidade de compreender racionalmente as ideias mais profundas que constituem a realidade.

1.5 A Bíblia revela acima de tudo que "Deus é amor".

Em vez de se procurar provar a si mesmo ou dar explicações, Deus revela o Seu Amor. O Amor, este já pode ser compreendido pelo homem. Embora todo o mal que existe à volta, o homem consegue ver que no mundo há muito mais amor do que mal:

Ele vê este amor (criado por Deus) no afecto da mãe, na amizade dos amigos, na protecção da sociedade, nos alimentos que toma sem os ter criado, na beleza e na harmonia da natureza e na moral. Ele vê amor!

E Deus, ainda por cima, manifestou o Seu grande amor em Jesus Cristo:

João 3:16 "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigénito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida Eterna".

Para quê explicações, se a nossa mente nunca as poderia compreender? Mas o amor de Deus consegue caber dentro do nosso coração e é compreendido e aceite pela nossa mente.

Quem não quiser ter a Fé de uma criança, e aceitar com toda a humildade e simplicidade o amor que Deus nos oferece através da natureza e através de Jesus Cristo, ficará perdido em suas explicações.

Mateus 18: 3 "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus".

Ficaremos perdidos em nossas explicações filosóficas e científicas, porque Deus nunca perderá tempo com explicações.

Deus fez muito melhor que perder tempo em provar-se ou explicar, Ele perdeu tempo em revelar que é um Deus de amor!

João 4:8 "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor".

E Ele não só revelou, mas provou o Seu amor por nós e foi para isto que a Bíblia foi escrita.

João 3:16 "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

Romanos 5:8 "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores".

João 20:30 "Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. 31 Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome".

Tenha Fé, querido leitor na Palavra de Deus, e como um menino aceite o amor de Deus manifestado na em Jesus Cristo e revelado nas Escrituras Sagradas.

É por esta razão que a Bíblia foi inspirada e escrita - para Revelar e provar o amor de Deus, não para provar que Ele existe e muito menos provar que Ele existe.

A Sua existência é mais do que evidente - vemo-la na criação e noutros testemunhos salientados noutras parte deste trabalho como a nossa Consciência, a nossa História, a Igreja Cristã e Jesus Cristo.

1.6 A validade dos factos históricos dão credibilidade a Deus:

Pensemos em alguns elementos históricos que constituíram a história do Cristianismo:

O Antigo Testamento, a Nação de Israel, os 10 mandamentos, personagens como Abraão, Moisés, Davi, Salomão e os profetas. E depois temos o Novo Testamento, Jesus Cristo, os Apóstolos e a Igreja Cristã.

É impossível negar o valor moral, social e espiritual ligados a estes elementos e personagens.

A evidência histórica dos factos que constituem o Cristianismo e a influência cultural a nível dos costumes, valores, artes, moral, psicologia, política e economia, ciências exactas atestam a credibilidade.

1.7 A coerência da Revelação Bíblica:

A coerência histórica e literária da Bíblia, tanto das suas origens, como da sua transmissão é também inegável. A mensagem bíblica tendo sido escrita por 44 autores diferentes, que viveram em lugares e culturas diferentes, durante um período de 2000 anos, apresenta uma unidade excepcional que testemunha da sua sobrenaturalidade.

1.8 Os pressupostos da ciência moderna têm as origens no Cristianismo:

A ciência assenta a sua investigação em pressupostos extraídos do Cristianismo, donde vem a ideia de um universo que é regido por leis regulares e susceptíveis de investigação.

1.9 A mensagem do Cristianismo é digna de estudo e consideração

As doutrinas sobre a divindade de Cristo, a sua morte expiatória e a sua ressurreição (which is the core of the Bible) têm sido aceites por pessoas de todos os povos e etnias, como não acontece como nenhuma outra grande religião ou ideologia no mundo.

Se fizermos uma comparação de percentagens em termos de crenças religiosas a nível mundial, vemos o seguinte :

1.9.1 - 35 % das pessoas que vivem no planeta são nominalmente cristãos.

1.9.2 - 8 % são Budistas.

1.9.3 - 13 % são Hinduístas.

1.9.4 - 18% são Muçulmanos, a maior parte vive na Ìndia, China e mundo Àrabe.

1.9.5 - 25 % são secularistas ou ateístas.

Os secularistas e ateístas, são uma percentagem muita baixa, quando pensamos na influência que a comunicação e a educação estão tendo sobre as pessoas, colocando-as debaixo do efeito de uma grande propagação das correntes ideológicas ateístas e teorias científicas que, no século XX, procuram negar à toda a força a existência de uma realidade sobrenatural.Estas estatísticas foram tiradas do livro “Intercessão Mundial” de Patrick Jonhstone (páginas 24-2).Estas percentagens mostram-nos a supremacia do pensamento cristão sobre todas as outras grandes correntes de pensamento secular ou religioso.

Portanto a filosofia e a ciência, devia considerar o Deus do Cristianismo como sendo um Deus verdadeiro, ou, pelo menos, ser digno de estudo, em vez de ignorá-lo e às vezes até rebaixá-lo!


I I. Natureza, atributos e experiência.

A. Natureza e atributos de Deus

Desde o animismo aos nossos dias, a natureza de Deus tem sido pensada como sendo de âmbito espiritual, de forma mais ou menos consistente, de acordo com o desenvolvimento mental e cultural das épocas. É claro que têm havido também concepções corpóreas da Deus, que designaram Deus como sendo uma substância, mas sem corpo.

Não se pode falar das distinções entre Deus e os Seus atributos, em poucas palavras, mas pode-se tentar fazer uma rápida caracterização da forma como o teísmo apresenta Deus.

1. Deus é um Ser infinito e espiritual

A concepção do infinito tem uma base matemática, mais significativa do que a sua mera negação. 

Da mesma forma, a noção do infinito aplicada a Deus, é muito mais lógica do que se pensa e fala-nos da completa, própria, necessária e independente existência da realidade. 

O infinito, chamado Absoluto, é a base que tem existência em si própria e onde repousa toda a realidade. É muito difícil conceber um Absoluto que seja Finito! Pois logo se perguntar-se-ia: "e o que existe para além desse Finito"?

Mas a respeito deste atributo de Deus – o infinito, o teísmo tem ideias diferentes às da religião.

Para o teísmo a concepção de um Deus infinito só tem valor, se Deus for limitado, apesar do paradoxo em querer limitar o infinito.

Para o teísmo Deus só é um Ser infinito, no sentido em que Ele é a base onde repousa o finito. Daí nasce a seguinte preposição teísta: Deus é infinito, pois o finito se assenta Nele.

Mas o teísmo tem dificuldades em conceber a ideia de um Deus pessoal e infinito igual aquela concebida pela religião.

A religião, especialmente o cristianismo acredita num Ser pessoal e sem dimensão espacial nem temporal. O espaço, tempo e as propriedades do mundo material - o finito - foram criados por Ele e existem totalmente independentes Dele.

Da mesma forma, o teísmo, não consegue conceber outros atributos de Deus como a sua omnipresença, omnipotência e omnibenevolência.

O teísmo concebe um Deus infinito no sentido que é a base do finito, mas, um Deus limitado e que pode existir em formas, ou substâncias, e não ser forçosamente uma pessoa divina. 

É por essa razão que podem resultar do teísmo, filosofias panteístas que misturam Deus com a criação, misturam o infinito com o finito, tornando o infinito finito também.

No materialismo dialético, a ideia de finito e infinito é muito confusa, com a pretensão que a substância material existiu sempre. Ou seja a matéria finita é eterna. Como é que uma coisa finita pode ser eterna, a eternidade é infinita!!!

Só a religião e de uma maneira especial o cristianismo, dá-nos uma ideia de um Deus pessoal, espiritual, eterno, ilimitado, infinito, todo poderoso, e infinitamente sábio.

2. O materialismo não explica a existência do pensamento

Supondo que a matéria é a única coisa que existe, e que existiu sempre, como consegue o materialismo dialéctico explicar a noção do pensamento? "Não tem o pensamento propriedades independentes da matéria?".

E, além disso, porquê que a matéria não consegue explicar o pensamento, mas o pensamento consegue explicar a matéria.

Vemos pois que a matéria tem uma existência finita, ou seja, as suas formas apareceram no espaço e no tempo, como acontecimentos que têm um princípio.
"Deus é o único Ser eterno e infinito criador do finito".

3. Deus é um Criador Todo Poderoso e Eterno

Uma questão que temos vindo a salientar neste capítulo, devido à sua importância no meio intelectual e filosófico, é se Deus, sendo eterno e infinito, tem uma actividade criadora eterna e infinita também?

É claro que a formulação de uma actividade criadora eterna de Deus cria muitas contradições no pensamento humano, mas por outro lado, conceber um Deus eterno que só começou "a criar coisas” de há algum tempo para cá, também cria muitas contradições no pensamento humano.

Do ponto de vista axiomático:

Se vermos a primeira preposição:

"um Deus deve ter uma actividade criadora eterna” é verdadeira,

E vermos a segunda preposição:

"um Deus eterno que só começou a criar coisas de há algum tempo para cá” é falsa.

Se for difícil escolher uma destas preposições como verdadeira, por causa das suas contradições, podemos dizer que:

1ª preposição parece mais verdadeira do que a 2ª preposição, isto do ponto vista da lógica humana.

Mas o cristão, poderá utilizar Gênesis 1:1 “no príncipio criou Deus os céus e a terra”, para advogar que houve um início na actividade criadora de Deus e pelo vistos, bem recente ou seja “há alguns biliões de anos” atrás, se tanto, Deus criou o universo, a terra e o homem.

"Não podemos esquecer uma coisa. Gênesis 1 fala exclusivamente de uma actividade criadora de Deus que contém espaço e tempo, é o caso do universo".

Mas, Deus existe numa dimensão que não tem nada a haver com a nossa dimensão espacial e temporal. Aliás, Deus existe antes de ter criado o universo.

Será que antes de Deus ter criado o universo, não criou mais nada? Pela Bíblia, nós sabemos que Ele criou, por exemplo, seres angelicais. Mas além do universo e dos seres angelicais a Bíblia não diz mais nada acerca da actividade de Deus. Não nos cabe a nós dizê-lo!!!

Mas, esqueçamos por um momento a dimensão aonde Deus existe e pensemos no universo.

É verdade que houve um princípio, a Bíblia é clara. Mas há quanto tempo atrás?

Ninguém sabe muito bem. E qual é a dimensão do universo? É o universo infinito e sem limites?

Alguns físicos pensam que não existe um limite para os níveis de estrutura em qualquer das direcções. O universo total de universos seria então como um imenso conjunto sem limites.

Outros têm outras ideias e pensam que o universo é finito e limitado.

Enquanto o Homem for capaz de desenvolver técnicas cada vez mais aperfeiçoadas, o seu conhecimento do mais pequeno e do maior estará sempre a ser permanentemente actualizado.

Há cientistas que se perguntam se o universo é tudo o que existe, ou haverá mais coisas além do universo?

Uma coisa é certa: o universo teve um princípio. Mas, o homem, só conhece uma parte infinitesimal desse Universo. Podemos dizer que o homem pouco ou nada conhece do universo.

Será que nestes biliões ou mais de anos que tem o universo e infinitamente grande como é, a ponto de alguns cientistas pensarem que não deve ter limites, Deus só criou seres orgânicos na terra?

Ninguém pode imaginar o que Deus criou tanto na dimensão – onde não existe o tempo, nem o espaço - como na dimensão espacial e temporal.

Ninguém devia ter o atrevimento de querer pôr limites à actividade criadora – e certamente eterna - de Deus.

A tese materialista acredita que o finito é eterno e infinito, e que se vai transformando no espaço e no tempo. Como dizem os filósofos existencialistas: “tudo existe, nada se cria, tudo se transforma”.

Por essa razão muitos acreditam na teoria da evolução e na selecção natural.

4.  Duas contradições da teoria da evolução

a. Uma selecção natural cega

Uma selecção natural preconizada sem qualquer força teísta motivadora na sua base, contradiz conceitos como: providência, previdência, inteligência, moral, em suma, negará os argumentos filosóficos teístas e cristãos que já vimos.

Desta forma, a natureza estará condenada a designações tais como: “força cega”, “mãe natureza sem pensamento”, “absurdo”. Isto quer dizer que a tal selecção natural seria feita cegamente, sem pensamento e de uma forma absurda.

É difícil crer numa selecção natural cega, pois é uma teoria muito frágil e contraditória. Além disto, os argumentos teístas e o cristão, acima referidos, apresentam um Deus criador tão evidente, que contrariam totalmente esta teoria.

b. A evolução eterna da matéria

Uma selecção natural, que defende uma evolução eterna da matéria, não conseguiria explicar o que era essa matéria muitos biliões de biliões de anos de luz no passado eterno e infinito! Ao tentar recuar num suposto passado evolutivo da matéria, teríamos que chegar a duas conclusões:

Como era a matéria num passado longínquo da eternidade?

Quais eram as características e formas que possuía?

Que tipo de vida e substâncias haveriam?

Seria a substância eterna e infinita só uma, por exemplo o ar, a água ou uma substância X, donde surgiram todas as transformações?

Neste caso, esta substância X, esteve num estado estático durante eternidades passadas, até que de repente - não sabemos porquê, nem como, visto não haver mais nada senão a tal substância para activar um processo de transformação - começou a transformar-se e a evoluir tomando os estados de vida e de forma como nós conhecemos?

Cabe ao pensamento humano aceitar ou recusar tais teorias! 

Para os cristãos são teorias extremamente absurdas.

5. A natureza e os atributos de Deus

Mas voltemos à natureza e atributos de Deus.

Não é fácil afirmar que a omnisciência, omnipresença, omnipotência e benevolência são atributos absolutos de Deus, sem cair em algumas contradições aparentes.

Vejamos algumas destas contradições aparentes:

Porquê que Deus sendo omnisciente, conhecendo o futuro, criou o homem, sabendo que ele iria escolher o pecado, ao ser tentado no jardim de Éden?

Vejamos outra contradição sobre a omnipotência de Deus. Se Deus tem poder para fazer tudo, este atributo exclui o conceito do impossível. Como compreender então que a Bíblia diz que Deus ama o mundo, quer que todos os homens se salvem João 3:16, II Pedro 3:9, mas nem todos serão salvos!

Porquê que Deus não pode salvar a todos, se ama a todos, e Ele é absolutamente omnipotente?

"O problema aqui é que não devemos julgar a Deus a um ponto tal, que iremos obrigá-lo a dividir um número ímpar em dois números pares"?

Foi Deus que criou os números ímpares e pares e não poderá subvertê-los!

Da mesma forma, Deus criou o homem com livre arbítrio e não irá agora tomar o lugar do livre arbítrio do homem. Bem que Ele gostaria! E nós não gostávamos de fazer algumas escolhas morais pelos nossos filhos? Mas, infelizmente não podemos.

Omnipotência é um conceito que todos conhecem, mas que precisa de ser bem definido. Há algumas coisas que estão excluídas da “área da omnipotência divina”.

Uma delas é esta questão do livre arbítrio: o homem tendo sido criado à imagem de Deus, passou a ter um espaço próprio no universo. O universo é de Deus, mas Deus criou uma esfera onde o homem pode e deve exercitar livremente a sua vontade própria.

Portanto estas e outras contradições sobre os atributos de Deus são aparentes.

Mas vejamos outra questão mais misteriosa. É sobre a eternidade e imutabilidade, que são também atributos de Deus.

Se quisermos compreender a fundo conceitos como eternidade e imutabilidade, nós só os podemos descrever relativamente às nossas noções, pois de outra forma cairemos em contradições.

Vejamos então como:

Eternidade, significa afinal que Deus está acima da limitação do tempo que Ele criou para o homem.

Mas, Deus, é vivo e self-existent. Ele existe numa esfera de existência aonde não existe a noção de tempo. As noções que nós temos de passado, presente e futuro é porque vivemos nesta dimensão chamado tempo, mas não significam nada na esfera da existência eterna de Deus. Lá não existem estas noções.

"Um ser eterno não pode ter nem passado, nem presente, nem futuro! Só tem presente!"

A noção de velocidade, localização espacial, também perde o significado quando entramos na esfera eterna de Deus.

O mesmo podemos dizer da idade e da imutabilidade. Deus não tem idade, nunca terá. Ele também nunca mudou, nunca. Tiago 1:17. Ele é sempre o mesmo ontem, hoje e eternamente. Hebreus 13:8.

Ele é o Alfa e o Ómega, o primeiro e o último, o princípio e o fim. Apocalipse 1:8.

Como poderemos entender a fundo estes conceitos sobre Deus, sem as nossas noções caírem em contradição?

O problema é o seguinte: o humano, o temporal, nunca pode compreender o divino, o intemporal, sem cair em contradições!

Na Bíblia, nós vemos que quando Moisés perguntou a Deus:" qual é o teu nome", Deus respondeu-lhe: "Eu Sou o que sou". Exôdos 3:13-15.

Jesus Cristo também usou o termo "Eu Sou" várias vezes.

Segundo a língua original não existe tempo neste tempo verbal Eu Sou. Deus ao dizer Eu sou, está a referir-se única e exclusivamente à sua Self-existence independente do tempo e do espaço.

Se Deus tivesse passado, presente e futuro, logo teria idade e mutabilidade. Mas Ele é divino e imutável.

Segundo a Bíblia, Deus próprio entrou no tempo e no espaço, quando o Seu Filho Jesus Cristo habitou entre nós. João 1:1-14

Jesus Cristo é revelado numa perspectiva temporal, espacial e corporal, quando veio à terra e, segundo a Bíblia, parece que Ele continuará a ser revelado de uma forma corporal, "não temporal ou espacial", pois lá no céu não existem estas dimensões, mas com forma corporal, talvez porque é a única maneira do Deus eterno, infinito e espiritual poder revelar-se ao homem aqui na terra e talvez lá no céu.

Não opodemos esquecer que "os crentes no céu" nunca terão os mesmos atributos que Deus. Por essa razão, Deus que possui atributos incomensuráveis, terá que "baixar-se" a uma forma comensurável para poder relacionar-se com seres que não têm os mesmos atributos que ELE. "O homem nunca vai ser Deus"

Jesus Cristo, o Filho de Deus, é a parte de Deus revelada que podemos ver, ouvir e apalpar aqui no tempo e se calhar lá na eternidade.

Deus se revela à sua criação sempre através do Seu Filho. Jesus disse a Filipe "quem me vê a mim, vê ao Pai" João 14:9

Portanto, a contextualização histórica de Cristo, tem um significado muito mais amplo do que aquele que usualmente falamos, ou seja o da sua redenção. É verdade que a encarnação de Cristo tem a haver com o Seu trabalho redentor. 

Tem a haver também com o conflito cósmico entre Cristo e um anjo que quis usurpar o poder do Filho de Deus. Jesus Cristo veio para resolver este conflito cósmico com este anjo, que se tornou no diabo.

Mas o fazer-se humano de Cristo, tem ainda um outro significado. E qual é?

A encarnação de Deus, através do seu Filho Unigénito, tem a haver também com o desígnio de Deus querer substanciar-se na terra e no céu, para poder ter um relacionamento cara a cara com os seus filhos redimidos.

Jesus Cristo subiu corporalmente ao céu e está assentado corporalmente à direita de Deus. Isto parece uma contradição, Deus ter um corpo "ou uma forma" no céu, mas não é. É bíblico!

Nós iremos servir a Deus, ver o seu rosto, reinar com Ele no céu, como diz Apocalipse 22, mas isto não é sinónimo de compreender toda a extensão e magnitude de Deus.

Nós iremos ter um relacionamento com Deus, através do Seu filho que se tornou misteriosamente igual ao homem, com o objectivo de nos redimir e de nos revelar o Pai.

Jesus Cristo, o Filho de Deus, e o Espírito Santo, são os únicos que possuem um conhecimento e uma comunhão plena com o Pai. É a Trindade Divina: Pai, Filho e Espírito Santo.

"No céu, os crentes nunca poderão dizer: eu e o Pai somos um", como Jesus disse.

5. Mas falemos agora, do conceito de eternidade de Deus:

"Se quisermos exemplificar Deus, geometricamente falando, seria melhor usar um circulo e não uma linha". 

Uma linha supõe extremidades, início, meio e fim. Mesmo que fosse uma linha infinita não conseguiríamos fugir da noção de passado e futuro, de tamanho, e as extremidades nunca poderiam tocar-se.

Mas um círculo não tem nem princípio nem meio nem fim. Se quisermos conceber extremidades no círculo, então todas as extremidades se tocam continuamente em todos os pontos do círculo.

"Para podemos compreender como Deus é, teremos que imaginar um círculo, mas atenção, um círculo de tamanho infinito"!

O Eu Sou, omnisciente, omnipresente, omnipotente, benevolente, eterno, imutável, do ponto vista geométrico, só poderia ser representado por um círculo infinito, sem princípio, nem fim, em que todos os pontos do círculo são princípio e fim ao mesmo tempo. 

Um Deus que está sempre presente em toda a parte e em todo o lugar. Ele é o principio e o fim, o alfa e o ómega, ao mesmo tempo.

"Vamos lá nós compreender isto, sem que as nossas noções entrem em colapso!?"

Não desanimemos, no céu iremos começar, só começar a compreender isto um pouco melhor! E ainda bem que assim é, pois o conhecimento de Deus e de tudo o que Ele possui nunca terá fim, nem no céu!

Portanto o céu não é um lugar estático, pelo contrário, é no céu que iremos iniciar a disciplina do verdadeiro SABER. e, não nos esqueçamos, o nosso professor vai ser Deus.

Acerca dos atributos de justiça, santidade, misericórdia, estes atributos pertencem mais a concepção religiosa do que à concepção filosófica de Deus, pois estão baseados mais na experiência do que no raciocínio do homem.

"A Filosofia deve tomar em consideração a experiência religiosa, pois a Filosofia em geral considera válido o testemunho das experiências sensitivas, na concepção da realidade".

A maior parte dos filósofos tem aceite o testemunho da experiência, para definir a sua filosofia. Há factos testemunhados por todas as religiões acerca de Deus, que devem ser tomados em consideração.

Por exemplo: personalidade, bondade, amor etc. embora não possam ser factos comprovativos da Divindade, são no entanto características da natureza divina defendidas pela maior parte das religiões. O maior facto é sem dúvida o amor de Deus. "Quase todas as religiões dizem que Deus é amor".

Mesmo as religiões mais degradadas baseiam-se na assumpção, que o espírito a quem se dirigem, aplacará a sua ira, caso os votos e rituais sejam devidamente observados.

Aliás, é na base deste pressuposto, que se pode distinguir religião de magia. A religião não fala de um Deus a quem se pode manipular ou com quem podemos negociar. Uma espécie de poder impessoal à disposição dos mais hábeis.

"A religião vê Deus, como alguém que simpatiza com o ser humano e quer responder às suas mais profundas aspirações".

A Bíblia é a ortodoxia que atribui mais atributos e características perfeitas a Deus.

Mas não devemos esquecer que, mesmo que aceitemos a plena e infalível autoridade da Bíblia, a sua mensagem está cultural e temporalmente condicionada.

"Deus formatou as suas características divinas de forma a poderem ser devidamente comunicadas através do código humano - sentimental, cultural e linguístico do homem. 

Isto quer dizer que Deus é muito maior, muito mais justo e muito mais santo do aquilo que a Bíblia revela. E muito mais incompreensível e misterioso também!"

B. Conceito moderno quase-teísmo

1. Deus só existe no pensamento e não na realidade

Há teorias que assumem o conceito de Deus imagem, dizendo que Deus é a expressão do desejo, fruto imaginário resultante das nossas necessidades emocionais, mas de facto Ele não existe na realidade. 

É claro que isto é um grande erro, e somente aqueles que não estão familiarizados com conhecimento filosófico e com conhecimentos na área da psicologia e da biologia, podem criar tais erros.

Mas vamos supor, por um momento, que estas teorias estão certas. Isto quereria dizer que existe uma total desconexão entre a parte emocional e racional do homem. As emoções do homem criariam para ele um Deus que na realidade não existe para a sua razão.

2. A psicologia e a biologia contradizem o quasi-teísmo.

Mas será que a psicologia e a biologia dariam créditos a ideias, que defendem, que a nossa apreensão da realidade é feita pelo raciocínio, sem incluir as emoções? Claro que não. Por isso esse conceito quasi-teísta contradiz quaisquer bases de carácter psicológico, filosófico ou biológico.

3. Diversos conceitos quasi-teístas

Há outras teorias como a de Whitehead e Alexander.

Na teoria do primeiro, não existe lugar para o Deus criador dos céus e da terra. Fala de um Deus permanente e um mundo fluente e de um mundo permanente e um Deus fluente. Deus cria o mundo e o mundo cria Deus. 

É uma teoria bastante confusa, pois dá a entender que o mundo temporal pode preceder o Deus intemporal.

Alexander, por sua vez, defende a teoria que no princípio havia espaço e tempo e que no fim há Deus. Deus é a ordem ideal do percurso do mundo, ou uma consequência, e não o Deus self-existent, que existe antes de tudo. 

Parece um paradoxo dizer que o processo precede a fonte e que o imperfeito precede o perfeito e o ideal.

C. É Deus inefável 

1. Deus só é inefável do ponto vista da razão.

Deus não pode ser visto, tocado, cheirado ou provado. Se o podemos ouvir, não é porque Ele tem lábios para falar. Ele é o criador e não parte da criação. Ele é o Deus da natureza e da história.

Deus transcende qualquer habilidade que o homem tem para o poder descrever. Ele não pode ser descrito, pois está muito acima do pensamento humano e finito do homem.

"Mas será que, por tudo isso, poderemos dizer que Deus é inefável. Que nunca o poderemos conhecer?".

Se Deus é inefável, não pode ser descrito pela mente humana, nem por nenhuma filosofia, teologia ou religião, nada nem ninguém poderia dar uma descrição das suas propriedades e acções. 

Desta forma, não podemos dizer que esta ou aquela religião seria falsa ou verdadeira.

"A teoria da inefabilidade de Deus, pode ser causada pelo facto de Deus não poder ser compreendido pela razão, ou causada por outras fontes, mas é uma teoria falsa, pois deita abaixo a possibilidade de haver um sistema conceptual religioso como o Cristianismo".

2. Deus pode ser conhecido através da Bíblia e de Cristo

Já vimos que o Cristianismo além do the core - o cerne da sua mensagem - é um sistema conceptual religioso que testemunha de Deus de uma forma credível tanto do ponto vista da natureza, como da história.

A teoria da inefabilidade de Deus, deita abaixo também a possibilidade de haver um elo ou conexão entre o homem e Deus. Mas já vimos que o alvo da religião é lidar também com esta conexão, com aquilo que nos põe em contacto com Deus. 

Com a ponte, ou a porta que nos leva a Deus. O elo, a conexão apresentada pelo

O cristianismo vem da natureza e da história – é a Bíblia e Jesus Cristo. Cristo afirma: eu sou o caminho, ninguém vai ao pai senão por mim João 14:6.
Deus pode portanto ser conhecido através da Bíblia e de Jesus Crsito.

D. A natureza da experiência

1. O que é a experiência

Em primeiro lugar, se Deus é transcendental, assumimos que a experiência pessoal com Deus é uma experiência mística que só se pode conhecer através de uma fé religiosa.

"Repito, é uma experiência pessoal, não é uma experiência intelectual".

Portanto, não vale a pena pensar que podemos ter conhecimento pessoal de Deus através da razão, pois este conhecimento pessoal só pode ser providenciado através de uma experiência espiritual.

Mas, primeiro, vamos falar um pouco deste conceito experiência. É muito difícil definir o significado da palavra experiência. Não é das palavras mais lúcidas da linguagem.

No entanto, de um lado, podemos dizer com toda a certeza, que não se deve formar um conceito a partir da experiência. Porque isto pode-nos conduzir ao erro.
Mas, de outro lado, ninguém pode negar que existe conhecimento que é ganho através da experiência.

Então como é que podemos formar conceitos, adquirir conhecimentos? Vamos tentar explicar:

Nenhum método de investigação é suficiente autónomo para privar-se do conhecimento ganho ou confirmado através dos sentidos, como já vimos em secções anteriores.

"Já vimos que o cientista tem de confiar em sua percepção sensorial".

Mas quem lhe assegura que a sua percepção sensorial é verdadeira e não falsa?

Não pode certamente ser um outro cientista, ou um outro aparelho criado por ele. Ele terá que exercer um acto de fé intelectual, ou acto de julgamento, em conjunto com a sua própria percepção sensorial.

É por essa razão que não se pode formar um conceito a partir somente da experiência, pois a experiência pode ser uma simples ilusão dos nossos sentidos.

Nem na base de aparelhos, pois quem assegura que os nossos aparelhos estão certos?

Responderão, e na base da nossa percepção sensorial. E se esta também for falsa?

Resumindo, estamos a dizer que não podemos formar um conceito somente na base de "uma experiência sensorial", na base da leitura feita por "um aparelho" ou da nossa "percepção extra-sensorial", pois estas três experiências podem ser falsas.

Entretanto, o problema é ainda mais complicado do que isso, pois é mais delicado do que se pensa, tentar definir o papel da experiência na criação de um sistema conceptual.

A palavra experiência é muitas vezes usada para definir experiência sensorial, que diz respeito ao conhecimento ganho através dos sentidos - é uma experiência empírica.

Mas, a experiência não é só sensorial. Há a experiência não sensoral. No entanto, todas as experiências têm componentes sensoriais.

a. Exemplo de experiência sensorial, puramente empírica:

O João viu uma maçã vermelha.

O João sentiu o odor da rosa.

O João sentiu a aspereza do tronco da árvore.

b. Exemplo de experiência não sensorial, não empírica:

A observação de um quadro, seguida de reconhecimento da sua beleza.

Este tipo de experiência embora envolva componentes sensoriais, é uma experiência de parecer de julgamento. Para alguém que o vê "O quadro parece belo".

Se as propriedades detectadas no quadro forem reconhecidas nos mesmos, ou seja, o quadro contém propriedade belas, diríamos que a experiência é verídica.

Além da experiência de parecer de julgamento, há experiências de obrigação, de dever, de arrependimento etc.

Estas experiências não são o mesmo que ter uma experiência sensorial, pois não envolvem nenhum dos nossos 5 sentidos.

De acordo com a tradição há 5 sentidos: visão, audição, tacto, gosto e cheiro. Mas esta lista pode ser aumentada com outros sentidos tais como: calor, frio, fome, dor, e daí em diante.

Neste caso não é muito importante tentar estabelecer quantos sentidos temos, para chegarmos a uma conclusão neste capítulo. Devemos acima de tudo estabelecer alguns princípios e tipos de experiência.

2. O Parecer de julgamento

É importante distinguir entre duas espécies de experiência:

a. Primeira espécie de experiência:

Suponhamos que o João está perdido no deserto e parece ver uma miragem e fica aturdido. O sentido de parecer aqui é simplesmente um parecer de julgamento. Este parecer de julgamento é puramente um julgamento que pode ser ou pode não ser verdadeiro. Neste caso, a visão de um lago é falsa, pois é uma miragem.

Parece que a partir deste exemplo podemos concluir que um parecer de julgamento pode ser falso ou verdadeiro, ou então ser falso para mim, mas não ser falso para um outro.

b. Segunda espécie de experiência:

Mas quando eu digo este castelo é feio, estou a dizer este castelo parece feio para mim. Isto quer dizer que as coisas parecem ser o que são para mim, segundo o parecer do meu julgamento.

Portanto, estas duas espécies de experiências, não são de parecer sensorial, mas são um parecer de julgamento, embora pareça haver uma certa analogia entre elas.

3. O Parecer puramente sensorial

a. Uma experiência sensorial pode ser:

O João viu a maçã vermelha sobre a mesa.

A maçã é uma substância; contêm propriedades observáveis; existe no tempo; é duradoura.

Alguém pode objectar de que não é forçosamente uma experiência de parecer puramente sensorial, mas até hoje ninguém objectou para o facto de que a maçã é vermelha.

b. Experiências com e sem objectos

As experiências que têm um objecto, providenciam informação sobre tais objectos.
As experiências que têm um conteúdo, mas não tem um objecto, providenciam informação que está associada com sentimentos, logo pode haver enganos.

A experiência sensorial pode providenciar evidências a favor ou contra determinada proposição:

Por exemplo, João faz a preposição:

"o meu jardim está cheio de rosas".

Ele tem objectos como evidências para fazer esta proposição. É claro que o João pode estar enganado, mas a experiência fornece-lhe objectos que lhe permitem fornecer evidências para a sua proposição.

c. Experiências sobre Deus

Relacionemos este aspecto com a ideia de Deus:

"Ninguém jamais viu Deus".

Os judeus, os cristãos e os monoteístas, nunca falaram de Deus, como se fosse um objecto que possa tornar-se numa experiência sensorial para nós.

"Desta forma, nenhuma experiência sensorial, por mais que nos possa dar um enchimento sensorial, é uma experiência de Deus".

Não há portanto, possibilidade de basearmos a existência de Deus na base de "uma experiência sensorial" ou de "um parecer de julgamento".

Ao menos que haja uma outra espécie de experiência, além da experiência sensorial, ou de julgamento!?

Mas será mesmo que não há uma outra espécie de experiência, sentidas por muitos, como uma experiência sentida com Deus?

Claro que há esta terceira experiência! Vamos falar então desta terceira espécie de experiência, que não é sensorial, nem um parecer de julgamento:

4. Enchimento e fenomenologia da experiência “numinous”

Um conceito na língua inglesa para designar uma experiência com Deus é "numinous experience".

Pode ser definida por um sentimento de enchimento ou um fenómeno em que a pessoa ao fazer esta experiência, "fica cheia do sentimento de estar na presença de Deus".

Uma outra definição, mais longa, mas mais acurada e específica é a seguinte:

"uma pessoa experimenta a presença de um Ser espantoso, absoluto e irrepreensível, para quem a resposta apropriada, não é só o temor, mas, também, a reverência, o espanto e o pavor".

Esta "numinous experience" é uma experiência de temor, respeito e deslumbramento por um Ser que lhe parece ser Majestoso e Todo-Poderoso.

Ao mesmo tempo, a pessoa sente um sentimento de dependência total desse Ser e tem o sentimento de ser a criatura diante do criador.

Para a pessoa, que sente a tal "numinous experience" esse Ser é único, amoroso e intensivamente vivo.

A pessoa sente-se, ao mesmo tempo, bem-vinda, fascinada e positiva diante Dele. Temor e adoração são as respostas diante desse Ser.

Finalmente, a pessoa parece experimentar um sentimento de pureza moral e de justiça, que a faz sentir culpada dos seus pecados.

A "numinous experience" é um fenómeno complexo, pois a pessoa parece experimentar uma experiência com um Ser distinto e independente dela próprio. 

Por isso, é em parte uma experiência sensorial, porque a pessoa atesta ter sido cheia da presença de Deus.

É a experiência da presença de um numinous being, um Ser que o teísmo identifica como sendo Deus.

A teologia cristã relata experiências entre Deus e os crentes, que designa como uma experiência de recepção ou enchimento de Deus, semelhante pelo menos em parte à numinous experience.

5. A fenomenologia da experiência

A forma razoável para chegarmos a conclusões, acerca das experiências que as pessoas têm, é falar da fenomenologia da experiência.

"Todas as experiências, sensoriais ou não, têm fenomenologias".

O facto dos objectos na "experiência sensorial" serem físicos, não serve de prova para dizer que a experiência sensorial tem uma prova - o objecto, mas a "experiência não sensorial tem provas", por não se basear na relação com um - objecto físico.

"A experiência sensorial" providencia objectos físicos como evidência, mas não se deve concluir por isso, que a "numinous experience" é falsa porque não providencia objectos físicos como evidência.

Vejamos a base deste raciocínio:

Podemos refutar a ideia que diz que a "experiência sensorial", por causa do objecto, envolve sensações e fenomenologias que a "experiência numinous" não envolve, dizendo que, da mesma forma, a "numinous experience" envolve sentimento, sensações e fenomenologias que a "experiência sensorial" não envolve.

E há quase um "empate" nestas duas refutações!

Mas continuemos o raciocínio, provando que uma experiência que não possuia objecto pode ser verdadeira. Ou que pelo menos não se pode provar o contrário!

Desta forma a "experiência sensorial" não pode provar que a "numinous experience" é falsa quando procura provar que um objecto que não vemos existe – Deus.

Há biliões de pessoas, desde que a história existe, de todas as épocas e culturas que acreditam em Deus, e têm testemunhado de uma experiência igual ou semelhante à "numinous experience", que se encontram relatadas na pedra, no papiro, no papel, através de obras de arte, música, dança, instituições, obras, comportamentos e valores religiosos, e agora até na Internet como nenhum outro conhecimento tem sido relatado

Vamos calar esses biliões de testemunhos?

Vamos dizer que a sua experiência é falsa?

Vamos fazer calar a história que é testemunha da historicidade, coerência e do impacto destes testemunhos?

"Estamos a falar aqui das experiências dos judeus e dos cristãos ao longo da história da humanidade".

E a "experiência dos cristãos" é mais rica do que a teísta a "numinous experience", pois é uma experiência pessoal e não só a nível do pensamento. 

Ou seja, além do intelecto, da cognição e dos sentidos, envolve também a "alma" que é afinal a pessoa.

Não estamos ainda a discutir a drive A para encontrar Deus. Estamos só a falar da experiência de Deus.

Neste aspecto a numinous experience teísta é uma experiência "de Deus", que a pessoa tem ao entrar na drive B.

Não é uma experiência "com Deus" aquela que a pessoa tem ao entrar na drive A, que leva a a pessoa a ter comunhão pessoal "com Deus".

Jesus Cristo é a drive A, a única drive - caminho - para ter um encontro com Deus. por essa razão Ele disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai, senão por mim". S.João 14:6

A experiência cristã tem algo de numinous, mas tem algo mais também. É um saber de Deus, que causa um sentimento de espanto e adoração, mas é um conhecer Deus pessoalmente, que causa muito mais.

A experiência cristã tem o lado em que pode ser simplesmente uma experiência igual a numinous experience que envolve processos unicamente instintivos, cognitivos e sociais. 

Mas além desses processos, a experiência cristã envolve a Fé espiritual que é um dom de Deus.

A "numinous experience" é em parte uma experiência sensorial, pois utiliza os sentidos do homem.

É através dos sentidos que o homem apreende a realidade física, o majestoso universo que o envolve, e que devido à sua grandiosidade despoleta no homem uma sensação de awe-aspiring - deslumbramento e espanto grandioso, que providencia a evidência de uma realidade sobrenatural inaudita, que existe para além desta realidade natural tão magnífica.

A Fé cristã, que tem um lado místico - pois é inicialmente um dom da graça de Deus - tem também o lado humano, o da resposta do homem à revelação grandiosa da natureza - revelação natural; da consciência - revelação moral; da Palavra de Deus - revelação escrita; do nosso Senhor Jesus Cristo - revelação encarnada; e do Espírito Santo - revelação espiritual. 

João 1 e 16, Romanos 1, Hebreus 1, I João 1.

Mas voltando à questão da experiência:

O uso da mente - "razão, inteligência, vontade e consciência" - providencia ao homem valores como a perfeição, o bom, a justiça, o amor, a ordem, a disciplina, que eles consideram melhores que os valores opostos, ou seja, imperfeição, maldade, injustiça etc.

O homem faz desses valores o padrão para os critérios morais e jurídicos da sociedade em que vive. Esses valores, por sua vez, providenciam à mente humana a evidência da existência de uma mente sobrenatural. 

Estes pareceres de julgamento não são menos objectivos do que os pareceres sensoriais. Ambos providenciam experiências que podem ser verdadeiras.

Tudo tem que ser analisado segundo critérios que dignifiquem o homem.

"Além disso, o uso dos sentidos, da percepção extra-sensorial e de capacidades latentes no subconsciente do homem, revelam que o homem tem capacidade de criar ou aprofundar conceitos abstractos, como o sublime, o majestoso, o grandioso, o além, o infinito, o abstracto, o céu, a recompensa, a evidência de um Deus, ou valores opostos como o mau, o baixo, o imperfeito, o maquiavélico, o castigo, o inferno, o diabo".

A experiência sensorial envolve o uso dos 5 sentidos e mais alguns sentidos físicos, mas a numinous experience e a experiência cristã, envolve o uso dos sentidos físicos, mais o uso da percepção extra-sensorial, a consciência moral e do subconsciente. 

Fornece portanto mais evidências que a primeira.

A única diferença é que na experiência sensorial, o objecto está mesmo exposto diante de nós, basta abrir os olhos, os ouvidos, apalpar, cheirar comer, enquanto que nas outras experiências o objecto está longe de nós, não tem forma, e temos que utilizar mais processos de identificação e de relacionamento.

O problema que se pode colocar, é que por ser um objecto abstracto, é mais fácil sermos induzidos ao erro no que respeita à sua classificação, do que quando se analisa um objecto físico.

É por essa razão que temos vindo a defender a necessidade de se criar um sistema de valores, honesto e coerente, que valorize as diversas religiões do ponto vista racional e da sua historicidade, para ver qual é a religião que revela o Deus que seja o mais histórico e o mais credível à mente e à razão humana.

"Este sistema de valores, terá que valorizar a drive A de cada religião. O tal elo, ou conexão que leva à experiência com Deus.

"No Cristianismo, como já vimos a drive A que leva a Deus, é a Bíblia, a Igreja e especialmente o nosso Senhor Jesus Cristo.

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida ninguém vai ao Pai, senão por mim"João 14:6

Quem conhece um "caminho" mais credível do que este?

Quem conhece uma "experiência real com Deus" mais credível que esta? O pior para os cristãos é que esta discussão leva a uma outra discussão, mais quente: haverá extra-terrestres ou outros seres inteligentes no Universo.


I I I. Deus e o seu trabalho criador


A. O trabalho criador de Deus

1. Deus é um criador eterno

Vou desenvolver um pouco mais o 4º pressuposto que comecei a desenvolver na Introdução deste Tema.

Se nos trabalhos criadores de Deus feitos durante as Suas eternidades, existirem outros universos ou formas de vida, além dos anjos, dos homens e do nosso universo, os cristãos só se devem regozijar com isto. Deus, não certamente irá ficar rebaixado por este facto. Antes pelo contrário, isto só iria exaltar o poder eterno e criador de Deus!

ELE tornar-se-ia ainda maior aos olhos dos homens.

No entanto, nada sabemos sobre as eternidades de Deus, o que Ele fez ou não fez, tudo o que poderemos dizer com inteira certeza é que ELE é eterno e infinito, e que o Seu Poder é ilimitado. Deus existe de eternidade em eternidade.

Salmos 55 "Ele preside desde a eternidade" Salmos 93 "Ele é desde a eternidade"

Estes versículos (preside ..., é ...) permitem-nos pressupor que Deus tem "presidido" obras magnificentes através das Suas eternidades!

É muito difícil conceber do ponto vista filosófico e até teológico, um Ser Supremo e Todo Poderoso, que existe (é ...) e administra (preside ...) de eternidade em eternidade, mas nada mais criou a não ser recentemente o nosso Universo, o homem e os anjos que segundo a maior parte dos teólogos dizem ter sido criados para servir ao homem.

Não estamos assim a colocar o homem no centro de toda a existência? E afinal, Deus, e os anjos, só existem para servir o homem?

Desta forma reduzimos o poder eterno e criador de Deus à criação do Universo e do homem, pois até os anjos foram criados para servir os homens.

Afinal, que diferença nos faz se Deus durante a sua Presidência (preside ...) que existe (é ...) de eternidade em eternidade, tiver criado TUDO aquilo que lhe tem "apetecido"?

Sentimo-nos rebaixados, isto rebaixa a nossa auto-estima, pois afinal mostra que afinal nós não somos o centro das atenções de Deus, tanto quanto pensamos?

2. Um palavra sobre os extra-terrestres.

a. Vestígios de vida no Universo

O homem é o centro da criação mas não é o centro de Tudo.

É possível que o homem seja o centro do nosso Universo. Ou seja, o nosso Universo foi criado por Deus com vistas á criação do homem.

Há alguma base bíblica que nos permite defender esta tese.

Gênesis 1:1 diz que "no princípio criou Deus os céus e a terra", e o relato da criação culmina com a criação do homem.

Salmos 136:7-9 "fez o Sol para dar luz e marcar o tempo durante o dia, e a lua e as estrelas para governarem a noite". este texto parece relacionar a criação do sol e das estrelas com a vida na Terra. Há outros textos semelhantes.

Gênesis 1:27 "E criou Deus o homem, à imagem de Deus os criou" o homem criado à semelhança de Deus, parece ser o ser por excelência desta criação.

Há textos bíblicos referentes aos anjos, e ao conflito entre Deus e os anjos, que parecem estar associados aos acontecimentos que se passarão posteriormente na terra.

Por exemplo, a derrota do diabo dá-se na Terra, com a obra expiatória de Cristo.

A Bíblia parece indicar que o homem é sem dúvidas o centro do nosso universo, ou seja, da criação referida na Bíblia que inclui os nossos Céus e a nossa Terra.

Mas não há qualquer referência na Bíblia sobre a actividade criadora de Deus durante as Suas eternidades. 

Nada sabemos disto. Por essa razão podemos dizer que o homem é sem dúvidas o centro do nosso Universo, mas não é o centro de Tudo, ou seja do Todo.

Por outras palavras o homem não é o centro de toda a Existência. Deus é o centro de Tudo, do Todo, de toda a Existência. 

Por essa razão há certamente outros actos criadores de Deus durante as suas eternidades que nós não conhecemos, nem imaginamos o que possa ou não ser.

Seria bom dizer também que Genesis 1:1-2, deve ficar em aberto. Há teólogos que incluem os acontecimentos nestes dois versos no 1º dia da criação, mas há muitos outros teólogos que preferem deixar em aberto estes dois versículos, e não inclui-los no 1º dia da criação.

Desta prespectiva mais aberta, pode-se concluir que muitas coisas poderão ter-se passado no momento em que Deus começou a criar o Universo até decidir criar as condições de vida na terra para criar o homem. 

Gênesis 1:1-2, para muitos teólogos refere-se a milhões, senão biliões de anos e de acontecimentos que a ala mais conservadora rejeita, como por exemplo, uma criação existente na terra, antes da nossa criação e que foi destruída pela queda de Lucífer. 

E há outras teorias!

Se quiser ler as diversas teorias sobre os versos 1 e 2 de Gênesis 1, pode procurar na Internet.

b. E se a ciência encontrar vestígios de vida no Universo

No entanto, teremos que dizer uma palavra sobre a questão de vestígios de vida micro-orgânica, ou da presença de outros seres em nosso universo:

Se um dia houver verdadeiros indícios físicos de microrganismos noutros planetas, ou vestígios de presenças estranhas noutros planetas ou galáxias, cabe aos cientistas averiguar estes indícios, e ver se de facto são formas de vida orgânica ou extra-terrestre.

A esfera do mundo físico, sejam fenómenos ou realidade comprovada, é pertença da ciência. Cabe a ciência estudar e averiguar.

Se um dia for confirmado que existe vida, nem que sejam microrganismos, ou mesmo vestígios de forma de vida noutros locais dentro da nossa galáxia ou universo, isto não porá em questão a existência de Deus ou da Bíblia.

No entanto, até ao momento, todos os fenómenos ligadas à possível existência de microrganismos noutros planetas, ou à aparição de extra terrestres, estão muito longe de se tornarem indícios sérios.

As aparições, são normalmente relatadas por pessoas simples ou espiritualistas que, muitas vezes, procuram de forma fraudulenta dar um carácter religioso às ditas aparições

Sobre os indícios de vida microrgânica na Lua ou no Marte, ainda nada está provado aind.

Eu penso que nós, os cristãos, podemos defender nem que seja a teoria na base da Bíblia, que a única forma vida inteligente, criada à semelhança de Deus no nosso universo é o homem.

Mas dizer que não qualquer outro tipo de vida fora da Terra, nem que seja a existência de água ou micro-organismos é um pouco dogmático demais.

E os cristãos não deviam estar muito preocupados se os cientistas encontrarem sinais de vida orgânica noutros planetas ou noutras galáxias.

Ou em quê que formas de vida, caso fossem detectadas, iriam contradizer o ensino bíblico.

FIM

INDÍCE

Capítulo 1 INTRODUÇÃO
A Definição de Filosofia
O Cristianismo e a Filosofia

Capítulo 2 CRISTIANISMO E RELIGIÃO
As origens da Religião
Definição de Religião
Religião a vida humana e seus interesses
Religião e Ciência
Religião e Filosofia
Religião e Cultura
Religião e Revelação
Religião e Moralidade

Capítulo 3 OS CAMPOS DE CONHECIMENTO
O Campo da Filosofia
O Cristianismo e o conhecimento
A Natureza do conhecimento
O Conhecimento religioso

Capítulo 4 A IDEIA DE DEUS
Deus e a razão humana.
As primeiras perguntas.
Provas teístas
Os Diversos argumentos
Natureza e atributos de Deus
Conceito moderno quasi-teísmo
É Deus inefável?
A natureza da experiência O trabalho criador de Deus

Capítulo 5 A IDEIA DO UNIVERSO
Dualismo.
Monismo.
Pluralismo
Materialismo

Capítulo 6 A IDEIA DO HOMEM
Conversão do homem segundo o cristianismo
Relação do homem e a sociedade
A personalidade e o livre arbítrio

Capítulo 7 A IDEIA DO BOM
As teorias do bom

A IDEIA DO MAL
O mal o sofrimento e Deus
As preposições: o mal existe e Deus existe
Razões filosóficas válidas
Razões bíblicas válidas p/existência do mal

Capítulo 8 DEUS E O MUNDO
O panteísmo.
O deísmo
O monoteísmo

Capítulo 9 DEUS E O HOMEM
A concepção da teologia natural
A relação entre a razão e a revelação
Relação entre Deus e a humanidade
É Deus finito ou é infinito


Capítulo 10 OS MILAGRES E O ALÉM
Evidências para os milagres
A ressurreição de Cristo
O método do processo histórico
Algumas provas históricas que são
evidentes da ressurreição de Cristo.

Capítulo 11 A IDEIA DO ALÉM
As relações dos conhecimentos com a morte
O Cristianismo e a morte

Capítulo 12 ASSUNTOS CONTROVERSOS
A posição sobre diversos campos:Aborto, eutanásia, sodomia, divórcio, bebé proveta, manipulação genética, clonagem, guerra, paz, terrorismo, globalismo.

FIM

3 - O Conhecimento

A Fé Cristã vista do ponto de vista filosófico e racional

Introdução geral


Abram nos Assuntos os 12 posts ligados com Este Tema sobre Religião e Filosofia, que especifico em baixo:

1. A Religião e a Filosofia

2 - A Religião

3 - O Conhecimento

4 - A ideia de Deus

5 - A ideia do Universo

6 - A ideia do Homem

7 - A ideia do Bem e do Mal

8 - A ideia de Deus e o Mundo

9 - A Ideia de Deus e do Homem

10/11 - Os Milagres e o Além

12 - Assuntos controversos

Eu fiz este trabalho a pensar em todos aqueles que se interessam pela filosofia, religião e as ciências em geral. 


O livro toca em muitas esferas da realidade e procura determinar aquilo que o cristianismo, a religião, a filosofia e a ciência dizem da realidade que podemos ver e da realidade que está para além dos nossos cinco sentidos.


Embora muitos estudiosos agarrem-se à ideia de que somos seres racionais, quando no entanto pensamos na pesquisa da realidade que está para além dos nossos cinco sentidos,  nós temos que incluir também o coração e não só a mente na busca dessa realidade sobrenatural.


Ninguém pode ter uma compreensão global da vida e do mundo só pelo uso do seu intelecto – ou razão. 


Afinal de contas a razão só nos permite conceber e compreender o mundo e a vida através da nossa própria perspectiva racional e cultural e de uma forma muito parcial.


É por essa razão que é errado dizer que nós somos unicamente seres racionais, pois além dos nossos pensamentos nós temos também sentimentos, emoções, impulsos e as crenças profundas que existem dentro da nossa alma.


Não se pode reduzir a nossa actividade cognitiva, assim como as nossas pesquisas filosóficas e religiosas unicamente à esfera do nosso raciocíno, ignorando o nosso lado sentimental e emocional e a faculdade que temos de crer num mundo sobrenatural que ultrapassa a esfera do racional e do natural.


Nós só podemos ter uma compreensão global da existência e dos relacionamentos humanos, se compreendermos que temos que envolver não somente o raciocínio, mas também o nosso coração nessapesquisa e processo.


O raciocínio pode ser a sede dos nossos pensamentos, mas o coração é a sede dos nossos sentimentos, emoções, impulsos e crenças.


Por essa razão, neste trabalho, eu irei falar das três grandes actividades do ser humano na procura da compreensão global da existência, que são: 

O pensamento, o sentimento e a crença. Irei tentar mostrar que estas actividades não se contradizem, mas antes se completam. 

Claro que ao querer mostrar que o cristianismo é uma fé que “sente e crê”, irei salientar também que o cristianismo é uma fé  que “pensa”. É por isso que o título deste trabalho é A fé cristã vista do ponto vista filosófico e racional.


Neste livro eu procuro também dar uma explicação para questões misteriosas que estão ligadas com o nosso mundo natural, com a revelação bíblica e com o campo filosófico.


Vale a pena ler sobre a abordagem que faço acerca de alguns temas misteriosos relacionados com o universo, o homem e com Deus.



Capítulo 3 

Os campos do conhecimento

I. O campo da filosofia

A. Os campos de investigação da Filosofia.
B. Os diversos campos de conhecimento.
3. A relação entre a filosofia e a religião.
C. Os campos da filosofia.

I I. A natureza do conhecimento

A. Os grandes pensadores e as teorias do conhecimento.
B. O relacionamento entre o conhecimento e a biologia e a sociologia.
C. O Conhecimento humano é mais inato do que adquirido.
D.A relação entre as teorias de conhecimento.

I I I. O cristianismo e o conhecimento

A. A Fé é a via cristã para apreensão do conhecimento religioso.
B. A Fé tem um lugar de destaque na questão da apreensão do conhecimento religioso.
C. A Fé cristã é coerente com os factos históricos e científicos.

I V. O cristianismo e o conhecimento religioso

A. A fraqueza das teorias antigas.
B. O cristianismo não é alheio aos outros conhecimentos
C. O cristianismo devia receber o crédito da ciência e outras correntes de pensamento.
D. A verdade religiosa deve ter um rasto histórico credível.
E. O conhecimento científico é mais abstracto do que aquilo que faz parecer.


I. O campo da filosofia


A. Os campos de investigação da Filosofia.


1. A Filosofia e a teoria do conhecimento:

A investigação filosófica de uma maneira geral abrange três grandes áreas:


a. A teoria da ciência

Esta primeira "a teoria da ciência" se divide em lógica e teoria do conhecimento.


É interessante fazer a distinção entre estas duas modalidades da epistemologia:


A lógica trata do pensamento puro, dos princípios básicos que norteiam o nosso pensamento, dos mecanismos inerentes a nossa mente.


A teoria do conhecimento trata da referencia do pensamento aos objectos, da verdade no conhecimento e de como ocorre e evolui o nosso conhecimento, ou seja, a explicação filosófica do conhecimento humano.


b. A concepção de universo (metafísica)

Este terceiro campo é na verdade o campo da metafísica, que envolve o conhecimento do Ser, do Saber e do Valor, fazendo parte integrante deste conhecimento, "os conhecimentos sobre Deus e sobre a moral".


c. A teoria do valor

A teoria dos valores se divide em ética e religião, envolvendo também o conhecimento de Deus e o conhecimento da moral.


2. A história da teoria do conhecimento

A preocupação epistemológica vem desde a Grécia, entretanto o aparecimento da teoria do conhecimento como disciplina filosófica aparece só na idade moderna com Locke. Ele foi o primeiro a tratar de forma sistemática a origem , a essência e a certeza do conhecimento.


3. O processo do conhecimento

O conhecimento constitui-se no encontro da consciência (sujeito) com o objeto. Essa relação pressupõe uma dupla conotação : Na medida que o sujeito apreende o objeto, este é apreendido por aquele. Desta forma, o sujeito sai de sua esfera e entra na esfera do objeto criando uma imagem do mesmo na sua consciência cognoscente.


O conceito de verdade relaciona-se com a essência do conhecimento do objecto.


Mas o que é verdade ?


A verdade é a concordância da imagem apreendida com o objecto. Contudo não basta que um conhecimento seja verdadeiro. É necessária a certeza de sua verdade.


Mas como alcançar esta certeza?


"A questão do critério de verdade será tratada daqui em diante, segundo as opiniões dos diversos campos de conhecimento incluindo o Cristianismo"


4. A possibilidade do conhecimento

Basicamente, esta parte da teoria do conhecimento destina-se a responder a seguinte pergunta: É realmente possível apreender o objeto?


Temos que salientar desde já que o "objecto" pode referir-se tanto a um objecto material, como a um objecto (ou ideia) no pensamento. Por exemplo a "Ideia de Deus". Leia no meu blogue sobre a "Ideia de Deus".


Isto leva-anos ao ponto que está no cerne do conhecimento, a uma intrigante pergunta:


É possível o sujeito de fato apreender o objeto? Esta é a questão da possibilidade do conhecimento humano (gnosiologia ??).


Por outro lado, a questão da origem do conhecimento trata de descobrir qual é a fonte do conhecimento: a razão, a experiência ou outra fonte?!


5. A Fé, a via para apreensão do conhecimento sobrenatural

Eu não falarei somente do uso razão e da experiência na busca e apreensão do conhecimento "dos objectos", mas falaremos também da "Fé", defendida pelo Cristianismo, como via na busca e apreensão do conhecimento , mais propriamente dito do conhecimento de "Deus" e do que está para além dos nossos sentidos - conhecimento do sobrenatural.


Iremos ver que a razão e a experiência tem os seus limites na apreensão do conhecimento de objectos, especialmente do conhecimento de "objectos" de natureza sobrenatural, de "objectos ou ideias" que estão para além dos nossos sentidos


Iremos definir a natureza da "Fé", ou seja, ver o lado intelectual e o lado espiritual da "Fé", e definir também a natureza do conhecimento que se pode obter pela "Fé".



B. Os diversos campos de conhecimento a nível filosófico


Para Pitágoras a Filosofia era "O conhecimento do humano e do divino”. Para Platão era "a descoberta da divindade tão longe tanto quanto pode o homem”. Para Aristóteles a filosofia era "a arte das artes e a ciência das ciências".


Lendo os pensamentos destes grandes Filósofos, vemos que os filósofos antigos acreditavam que o campo da Filosofia incluía todos os campos ligados ao conhecimento da natureza da realidade, tais como: religião, teologia e as ciências da vida em geral. Mas, com o aparecimento das ciências físicas, a filosofia começou a sofrer muitos conflitos e passou a haver uma distinção nítida entre filosofia e ciência.


A ciência fala-nos de estudos especializados em certos campos da realidade, com a finalidade de explicar de uma forma concreta, ignorando o todo da realidade, enquanto que a filosofia procura interpreytar o todo da realidade.


A filosofia não é portanto uma simples sistematização da ciência, pois, a ciência, trabalha dentro de limites definidos. Não existe na ciência qualquer tentativa de interpretar e, além disso, a ciência não dá o valor que devia, aos valores e aos factos defendidos ou ocorridos na nossa existência histórica.


A ciência é selectiva enquanto que a filosofia é compreensiva.


A filosofia tem procurado manter a ideia de que é o raciocínio ou a razão que a mantêm. Entretanto, a psicologia moderna fez estremecer a ideia de que o homem é caracteristicamente racional.


A psicologia genética e a social tem atestado que a filosofia não pode basear-se em puro raciocínio na sua análise da existência, julgando ser isto suficiente, pois há áreas como os sentimentos, as emoções, as motivações, os impulsos e até as crenças que determinam muitas das atitudes e ideias das pessoas.


Embora não se pode mais negar que a razão humana tem um carácter inato ligado a alvos que o homem se propõe atingir, independentemente de quaisquer influências exteriores, a razão pura não existe, pois a razão é condicionada por essas mesmas influências exteriores e impulsos interiores.


Vimos então que as ciências em geral têm forçado a filosofia a reconsiderar a sua função.


"Do mesmo modo, com a evolução dos conhecimentos sobre religião, os dois campos - filosofia e relgião - tornaram-se mais do que distintos nos dias de hoje".



C. A relação entre a filosofia e a religião.


Vamos falar um pouco sobre a relação entre a filosofia e a religião, para melhor entendermos esta questão dos campos de conhecimento. "Já foi dito que a filosofia não pode ser meramente identificada como religião, especialmente por causa do diferente relacionamento que ambas têm com o objecto que procuram – Deus".


No entanto haveria muito a dizer sobre o facto de que basicamente a filosofia é teologia também. Não é teologia dogmática nem teologia cristã, mas é teologia no sentido em que os gregos a compreendiam: "para os gregos a filosofia era também uma avaliação do Todo da experiência, tanto humana como divina e não só uma simples avaliação racional da experiência".


A filosofia tinha o objectivo de interpretar o universo. E esta ideia insere-se perfeitamente no espírito da religião, que também procura dar interpretações sobre a vida e não só simplesmente explicações.


Portanto a filosofia procura não só explicar racionalmente a existência, mas também interpretá-la. Deus, a liberdade, a imortalidade são matérias centrais que se inserem no campo do estudo filosófico. Isto prova que a realidade não pode ser exclusivamente avaliada por uma avaliação racional.


"Há valores abstractos que para serem avaliados, precisam do uso da nossa razão, mas também da nossa percepção sensorial".


D. Os diversos campos da filosofia


A filosofia abrange vários campos de conhecimento, pelo seu carácter racional e abstracto. "A filosofia não é só o atingir da verdade pelo caminho da razão" como disse Ferrier.


A filosofia é uma coordenação de conhecimentos gerais, que respeita a sua distinção com a ciência, que por sua vez possui um carácter mais especializado. Respeita também a sua distinção com a religião, pois sabe que possui um relacionamento diferente com o objecto que busca - Deus.


A filosofia é uma busca do ponto de vista sinóptico da experiência humana, é o esforço humano para ver a vida do homem com clareza e como um todo.


As formas de estudos especializados na busca filosófica, depende do grau relativo de independência que conseguiram atingir. A psicologia, que era um ramo da filosofia é agora independente.


A metafísica, geralmente, inclui:


A ontologia "ciência do ser"; a epistemologia "ciência do saber"; a axiologia "ciência do valor".


Na minha opinião, a ética, estética e religião são todas num certo sentido, ramos que devem ser incluídos nestes campos gerais da filosofia, não deviam ser estudadas em separado, apesar da estética e a religião serem hoje consideradas ciências independentes, e, a ética, está hoje muito ligada ao campo da psicologia psicologia e a sociologia.


Tudo isto para dizer que o campo da filosofia de um certo modo representa um grupo de estudos que inclui praticamente uma análise a todos os campos de conhecimento, e não uma simples forma especializada de busca.



I I. A natureza do conhecimento


A. Os grandes pensadores e as teorias do conhecimento


Kant disse que as três grandes perguntas essenciais da Filosofia são:


a. O que posso eu saber?

b. O que devo eu fazer?
c. O que devo eu esperar?

Pyrro afirmou que “nós não podemos saber nada”, mas a história do cepticismo mostra como é difícil ficar nesta posição, pois a afirmação de Pyrro é contraditória, porque estabelece que "nós podemos pelo menos saber que não podemos saber nada". Logo o conhecimento é possível!


Se este princípio de Pyrro quer dizer que: "nós não sabemos se nós podemos saber” ou “ nós não podemos saber", ambas preposições são vazias de significado e são contraditórias e falsas.


Vejamos porquê:


Nós podemos perguntar “o que é a verdade?”. E procurar conhecer a verdade.


Mas se afirmarmos que não vale a pena porque “não existe a verdade” ou porque “não se pode conhecer a verdade”, como no fundo pretende Pyrro, isto não tem significado. A afirmação de Pyrro é em si própria  falsa.


Avancemos mais um pouco:


Se “existe a verdade” a preposição de Pyrro é falsa, pois afinal existe a verdade e podemos conhecê-la.


Se “não existe a verdade” esta afirmação é falsa, pois afinal é possível “saber que não existe verdade”, e isto torna-se em si mesmo a verdade, ou seja é possível "haver conhecimento" e, a verdade, neste caso, passa a ser que "nós sabemos que não existe a verdade".


Descartes decidiu duvidar de tudo. Mas a sua dúvida ficou indubitavelmente um facto de que ele nunca pôde duvidar. É como dizer: “nós não podemos pela dúvida, duvidar do facto de que nós duvidamos”.


O Cepticismo tem sido puramente teórico. Nenhum homem, neste mundo, actua como se não soubesse nada.


Os cépticos contentam-se em negar a possibilidade do homem atingir um determinado conhecimento ou, então, afirmam que não há uma verdade final.


O cepticismo da idade clássica ensinou que, como todas as opiniões podem ser igualmente "verdade” ou "não verdade”, era melhor suspender o julgamento filosófico. Mas, embora, nós nunca possamos conhecer e ver as coisas como "Deus as conhece e vê”, podemos, no entanto, afirmar que o conhecimento humano é possível e válido.


Este conhecimento é dividido pelos filosóficos em vários tipos:


O Conhecimento obscuro, onde nós temos uma vaga noção das coisas.


O Conhecimento claro, onde as ideias estão bem claras e definidas.


O conhecimento adequado que é acurado e de acordo com a ciência


O conhecimento inadequado que não é acurado, nem de acordo com a ciência.


B. Relação entre conhecimento, biologia e sociologia.


Presentemente o conhecimento é uma matéria que precisa de ser vista do ponto vista genético e social e não só como uma simples aquisição racional e individualista como ensinavam os filósofos antigos.


A Biologia, revela que o sentimento vem primeiro que o pensamento. O ser humano sente biologicamente antes de pensar. Não há nenhuma concepção de pensamento até que a linguagem se desenvolva. Por isso o princípio do conhecimento repousa num sentimento vago, antes da linguagem desenvolver-se e surgir o pensamento.


Não se esqueça leitor que estamos a falar da natureza do conhecimento, para não se perder.


"Para os biólogos o sonho deve ser a forma mais primitiva do conhecimento".


Vamos ver um exemplo: o cão conhece-nos. Mas se o nosso odor e a voz mudassem de repente, ele cessava de nos conhecer e deixaria de obedecer às nossas ordens. Mas como o cão não é racional, não ficaria perplexo como nós ficaríamos ao vermos um amigo a transformar-se à nossa frente.


No sonho, nós atingimos este nível: estamos falando com uma pessoa e de repente aquela pessoa muda numa outra pessoa (ou coisa!). Nós não ficamos perplexos porque, simplesmente, estamos a sonhar. E o sonho é um estado irracional.


Estes exemplos foram dados para dizer que para os biólogos o conhecimento nos seus estágios primitivos, antes da linguagem e do pensamento, é irracional. É claro que isto rebaixa a razão humana, este elemento que era visto pelos grandes filósofos da antiguidade como o grande gerador e promotor do conhecimento.


Para os biólogos a razão não é mais do que um produto do meio e da cultura e não um valor absoluto dentro do homem.


Mas, embora haja um certa verdade nisto, o perigo deste ponto vista biológico é resumir a natureza do conhecimento a um produto adquirido através do contacto com o meio ambiente.


E a mente e toda a sua complexidade passa a ser vista como uma espécie de tábua rasa onde grande parte das coisas são escritas através do contacto com o meio ambiente.


C. O conhecimento humano é mais inato do que adquirido.


Segundo o Cristianismo, sem tirar valor à biologia, a razão humana é muito mais inata do que adquirida. Portanto o conhecimento também é muito mais inato do que adquirido.


A história do conhecimento tem alternado entre o racionalismo e o empirismo.


O racionalismo tem o seu início nas ideias Platónicas, em que Platão disse que nós já nascemos com as ideias na mente e reconhecemos essas ideias durante a vida terrestre. O conhecimento, neste caso, baseia-se numa espécie de recolha de ideias já existentes na mente.


Descartes, Spinoza, Leibniz e outros não viam o conhecimento como algo pertencente à mente. A pessoa comum é primeiramente empírica. Ela pensa na árvore que está a ver. Ou seja, é a árvore que faz-se ver tal como é, com a sua cor tamanho e forma. O homem só vê a árvore e é tudo.


Mas, para os racionalistas, a árvore que a pessoa pode ver, não entrou em sua mente.


No cérebro, deve haver um processo qualquer que lhe permite ver a árvore tal como ele a vê, tamanho, forma e cor.


Portanto, o racionalista enfatiza o processo mental, e o empirista enfatiza o mundo exterior.


Kant tomou uma posição intermediária na questão da teoria do conhecimento.

Ele ataca a noção de "tábua rasa” dizendo que: a mente contêm um processo de percepção sensorial activo e contêm princípios estáticos de pensamento e de relações de identidade, diferença, espaço, tempo etc., que não são, de maneira nenhuma, adquiridas através da experiência.

A Filosofia de Kant tornou-se obsoleta, mas este princípio ficou, que a mente tem percepção dos objectos em virtude da sua actividade interna e, por isso, as formas que apreendemos, não pertencem só aos objectos, mas também à mente que os apreende.


A teoria da evolução embora tenha algumas das ideias postuladas por Kant, não resolve, contudo, o problema da natureza do conhecimento. A doutrina da evolução pode defender a noção de que a percepção das formas, que pode ser hoje tão evidente para nós, foi adquirida através de uma evolução mental. Parece que muitos pensadores não acreditam que existem na mente dos primeiros homens leis absolutas que foram transmitidas para nós. Mas, pelo menos, acreditam que a mente possui padrões de reacção e princípios que são comuns a todos os homens.


Para o cristianismo, os homens reagem sempre da mesma forma quando estão nas mesmas situações, por essa razão tem que haver padrões internos absolutos que regem todo o comportamento psíquico. É tal e qual como a lei moral que é universal, pois os seus padrões absolutos já estão registados na mente do homem.


Os homens, de uma maneira geral, conversam as mesmas coisas, reconhecem os mesmos objectos e fazem os mesmos julgamentos, mostrando que grande parte do seu conhecimento já se encontra registado em sua mente.


Como explicar isto na base da teoria de evolução? Se o homem fosse um produto da evolução este saber e conhecer universal seria praticamente impossível.


D. Algumas teorias de conhecimento



1. O intuicionismo e o conhecimento

Esta teoria têm mais a haver com religião e misticismo do que com as perguntas estritamente filosóficas. Defende que nós apreendemos a vida pela intuição e nunca pela razão. Acrescenta que a razão pode rever o passado ou antecipar o futuro, mas o presente actual, vivido da experiência, só pode ser captado pela intuição.


Embora hajam diversas formas de Intuicionismo, todas têm algo em comum: dizem que a nossa apreensão da realidade ou da verdade não é devida ao longo processo de maturação do desenvolvimento social, mas é um acto intuitivo imediato.


Um intuicionista dirá que o “bom” é como o “amarelo”; não podem ser explicados tomando como referência qualquer outro factor. São o que são e nós as apreendemos ou não. A respeito do carácter da pessoa é a mesma coisa. É uma instintiva actividade intuitiva.


Esta teoria pecou pelo excesso de ênfase dada à intuição, mas, no entanto, devemos compreender que a intuição tem um grande papel nesta questão da apreensão da realidade.


Apesar desta teoria não ter sido muito aceite, temos que, mesmo assim, rendermo-nos à evidência de que a teoria do conhecimento não pode ser limitada àquilo que deve ser sempre racionalmente explicado. Parece que houve, há e haverá sempre coisas que nunca terão uma explicação racional.


A base da natureza do conhecimento, as suas últimas causas, ficarão sempre sem poderem ser racionalmente demonstradas. Da mesma forma, a explicação de algumas das certezas mais profundas, pelas quais o homem dará a sua vida, ficarão sempre para além dos limites da razão. Dentro de nós, bem fundo, existem razões intuitivas que inegavelmente provam que o que cremos é verdade.


"De certo modo a emoção que faz nascer a Fé cristã é mais parecida com a intuição do que com a razão. Quero dizer que a Fé é mais intuitiva do que racional, ou, pelo menos é tão intuitiva, como é racional".


Mas, depois desta viagem pelas teorias filosóficas do conhecimento, falemos do conhecimento do ponto de vista cristão. O Cristianismo, como já referimos, possui uma teoria de conhecimento estritamente objectiva, pois tem as suas raízes em documentação, literatura, tradições escritas e em acontecimentos e personagens históricos. É nessa documentação, tradições e personagens históricos que o cristão baseia e vai buscar o seu conhecimento.


No entanto, nem toda a ortodoxia e filosofia de natureza cristã está baseada na objectividade histórica. Muitas das pressuposições cristãs estão baseadas em investigações de carácter sensorial, em que a intuição tem um papel preponderante.


Por exemplo, o próprio acto da Fé cristã, embora nasça da coerência, evidência e impacto dos factos históricos que dão credibilidade ao cristianismo, tem um aspecto que provêm de uma apreensão intuitiva e imediata da realidade. Além disso, a Fé cristã, nasce também de um acto proveniente de uma revelação puramente divina.


Fé cristã, não poderia existir, sobreviver ou ser definida, se fosse um acto puramente racional, sem necessitar da intervenção da intuição humana e de uma acção divina.

Além disso vemos que, no cristianismo, muitas das coisas em que acreditamos, nos são reveladas pura e simplesmente pela revelação divina. Não são de modo nenhum demonstráveis ou provadas pela razão.

Aliás, muitas delas até recebem a aversão da nossa razão, como é o caso da existência do diabo, do inferno, do pecado original, da inspiração das escrituras sagradas e sua infalibilidade, a própria omnipotência, benevolência e omnipresença de Deus e um homem criado à imagem de Deus, tem aspectos adversos à nossa razão.


Esses aspectos só se tornam credíveis à razão humana, por um puro acto de intuição humana que surge ao ouvirmos a pregação das escrituras sagradas ou ao contemplarmos o universo.


Podíamos dizer o mesmo do cerne da ortodoxia cristã "Jesus Cristo morto e ressuscitado para a nossa salvação", que embora merecendo toda nossa credibilidade histórica, tem um aspecto que é proveniente de um captação intuitiva ratificado pela razão humana que não podendo fugir do facto, não lhe resta senão crer em Jesus Cristo como redentor da humanidade.


A nossa razão humana não pode conter, nem absorver, por si só, todo o conteúdo da realidade. Muito factos da nossa realidade são absorvidos pelos outros canais da mente humana, nomeadamente a intuição, a premonição, os sentidos, o subconsciente, a fé que depois de processá-los, enviam-nos à razão humana, cuja função é aceitar ou rejeitar a sua autenticidade.


"A razão humana, apesar de todo o esforço, a investigação e o estudo que possa efectuar, nunca pode absorver toda a mensagem da realidade" e, muito menos, descodificá-la e defini-la sozinha. Aliás, a razão, nesta questão do processamento da realidade, não é mais do que uma pequena parte da central do processamento mental.


A razão não é a central da nossa mente:


A razão é como um programa de aplicação, um software que contém alguns dados, poucos, mas é cabar de lidar com os dados que recebe do hardware - tudo aquilo que é hereditário em nós, e os dados que são provenientes do exterior "o meio ambiente", e limita-se a ler e a processar esses dados.


Ao referir a razão como um programa de aplicação, é de notar que cada homem é um programa, por causa da sua própria natureza biológica, cultura e educação.


A razão normalmente funciona da seguinte maneira:


Primeiro: observa rigorosamente todos os valores científicos, históricos, filosóficos, literários, religiosos e morais da realidade.


Segundo: absorve a revelação provinda de toda a realidade, sem o qual, o seu conhecimento ficaria parcial, unilateral e meramente físico.


Terceiro: com a colaboração dos outros elementos que formam a mente tira as suas conclusões.


Não podemos esquecer que as suas conclusões estão condicionadas pela natureza biológica, cultural, educação e situação da pessoa em questão.


Portanto, a razão funciona como um programa de aplicação juntamente com os outros programas que colaboram para o processamento mental, como estivemos a ver neste ponto.



2. O empirismo e o conhecimento

As ciências físicas, ao contrário das ciências da vida, têm uma atitude empírica nesta matéria do conhecimento. Elas vêem o mundo como um facto, não fazendo qualquer referência à apreensão da realidade pelas nossas mentes.


O empirismo esquece que, nesta questão da percepção e apreensão da realidade, a mente não fica passiva, mas sim activa. A nossa mente, apreende o mundo exterior, natural e sobrenatural, fazendo a sua classificação, utilizando conhecimentos adquiridos, mas utilizando também categorias e critérios de conhecimento que são próprios da mente, ou seja são genéticos.


A propósito do mundo natural, o que esta apresenta à nossa mente é sucessão e não causação. Por exemplo, as ondas que nos dão a sensação da luz podem actuar sobre uma planta, mas a planta não consegue vê-las. Estas ondas, são a mesma coisa tanto para o homem como para as plantas. A diferença está no homem e nas plantas. É que a mente não é um simples armazém da realidade, recolhendo simplesmente o que lhe é dado, mas, as cores, as ondas, as dimensões, as notas da música são também organizadas pela própria mente.


"O racionalismo analisa o universal dividindo-o em partes, enquanto que o empirismo analisa as partes, vendo o universal como uma abstracção".



3. O pragmatismo

O pragmatismo é primeiramente um método de cálculos, entendido para ser aplicado em problemas metafísicos, em vez de ser propriamente dito uma filosofia.


Parece ser uma reacção contra o “mero raciocínio abstracto” fundamentando os seus pontos de vista na psicologia genética, que procura demonstrar que a razão é algo funcional e não judicial. Procura mostrar que a razão adapta-se ao meio ambiente e cultural, e vive mais preocupada em resolver os problemas práticos da vida, do que se envolver no pensamento do abstracto.


A razão segue o prático. O Pragmatismo surge dessa teoria.


O método pragmático é tão velho como a filosofia. Sócrates, Artistóteles, Hume e muitos outros, seguiram, afinal, este mesmo método.


O pragmatismo é um forma pura de empirismo. É possível para um pragmatista acreditar na doutrina do Absoluto, mas, em vez de olhar para este Absoluto como um último estado a atingir ou compreender, o Absoluto é julgado segundo as características práticas que possui.


O pragmatismo defende a noção da verdade. Este é, aliás, o seu ponto central. Dizem que as ideias são verdadeiras se corresponderem à realidade. Mas nós não poderemos ter nenhum conhecimento da realidade se as nossas ideias não penetrarem na realidade!


Como pois fazer corresponder as ideias com a realidade?


O pragmatismo defende que as ideias só são verdadeiras se houver uma relação satisfatória com a realidade. É neste sentido que a teoria da relatividade foi aceite, pois explica certos factos, mas não tarda muito que surjam novos factos que modificarão a verdade.


Os factos formam o critério e por isso não podemos perder tempo pensando numa verdade absoluta a atingir. Afinal, somos nós e os factos que fazemos a verdade, fazemos a realidade. Não nos é possível descobrir uma completa e perfeita realidade através do nosso intelecto. É o tempo e os resultados que provam o que é verdade.


A custo do abandono de uma “verdade absoluta”, o pragmatismo criou a noção de uma “verdade relativa” que se tornou dominante. O pragmatismo defende que, logo que haja uma mudança, surgem novas necessidades, e as doutrinas têm que mudar em função destas novas necessidades. Neste caso, uma doutrina pode ser certa para uma determinada geração, mas não para outra.


Esta teoria diz que nós é que fazemos a verdade e a realidade, mas reage contra as teorias que dizem que é possível descobrir a realidade perfeita através do nosso intelecto.


A nossa experiência comercializa com a realidade "donde tudo vem" e cria a realidade que nós "podemos saber" conhecer. Mas não podemos atingir conclusões rígidas, pois, só o tempo e os resultados decidirão o que ficará como verdade.


Desta forma, o pragmatismo não consegue escapar à suposição nele implícita: que o ser humano está condenado a viver, em cada geração, sem a possibilidade de atingir a verdade absoluta.



4. O cepticismo

O Cepticismo nega a possibilidade do conhecimento. Não nega forçosamente a possibilidade da filosofia, pois é em parte um método filosófico também. Pyrro, mantinha que não se pode atingir a natureza última das coisas. O Cepticismo não se refere simplesmente à dúvida filosófica, que tem um lugar, no pensamento filosófico, mas apresenta uma filosofia de vida desesperada.


Pyrro, ridicularizava qualquer testemunho humano, mostrava que não podíamos confiar nos sentidos e concluía que nós não podíamos conhecer nada e era melhor admitirmos isto.

Alguns dos filósofos cépticos mais extremistas diziam que “nós não conhecemos nada, não conhecemos mesmo que não podemos conhecer nada”.


5. O agnosticismo

O Agnosticismo nega a possibilidade do conhecimento religioso. Este termo surgiu de Huxley e referia-se à dúvida filosófica e não ao poder que o homem tem para resolver os problemas últimos. Há dois tipos de agnosticismo: dogmático e provisional.


O dogmático se encontra perto do cepticismo, o provisional toma uma atitude em que pensa que o homem pode adoptar certas coisas e valores que consegue atingir, sem contudo poder demonstrar que são verdadeiras. É este tipo de agnosticismo que permanece em nossos dias.


William Hamilton dizia que “ um Deus que se pode conhecer não é um Deus em nada, e pensar que podemos conhecer como Deus é uma blasfémia”.


Argumentos como estes querem provar que se Deus existe, não pode ser reconhecido pela razão humana. Mas em vez de nos deixarmos conduzir para um agnosticismo, devíamos compreender que a vida é mais do que a razão.


Há outras capacidades psicológicas e espirituais que o homem possui, já anteriormente referidas, que o homem utiliza para tentar compreender toda a realidade e as últimas causas.


"A Fé de origem divina é a capacidade principal, mas já falamos também da intuição, percepção sensorial e o subconsciente".


A ideia que só podemos acreditar naquilo que a razão consegue compreender, afinal negada pelos cépticos e agnosticistas, já entrou há muito tempo em colapso.


O Agnosticista é um homem que com tanto medo de se enganar, acabará por cair no risco de não conhecer a verdade.



I I I. O cristianismo e o conhecimento


A. A Fé é a via cristã para apreensão do conhecimento religioso.


Além da razão, da intuição e outra vias de conhecimento, o Cristianismo faz menção de uma via de conhecimento, o conhecimento obtido pela "Fé", conhecimento essencialmente de um "objecto de carácter religioso".


Como já vimos, a religião, a estética e a ética fazem parte da investigação filosófica. Não podemos portanto ignorar a religião, a estética e a ética quando estamos a falar de investigação, ou seja de procurar obter conhecimento. Estas três doutrinas, religião, estética e ética, representam um campo de conhecimento bem defenido.


"Por isso, vendo as coisas destra perspectiva filos´sofica, não podemos ignorar o cristianismo ao falar dos campos de conhecimento ou teorias de conhecimento.


B. A Fé tem um lugar de destaque na questão da apreensão do conhecimento religioso.

No cristianismo, a Soberania de Deus e a Fé tem um lugar de destaque na questão do conhecimento, especialmente do conhecimento religioso.

Portanto, isto quer dizer, que o conhecimento revelado pelo cristianismo é baseado em primeiro lugar numa revelação de Deus feita pelo Seu Espírito e de uma maneira dogmática através das Escrituras Sagradas.

O Conhecimento revelado pelo cristianismo vem de Deus e da Bíblia e não da razão ou da ciência humana através do processo cognitivo (através do pensamento ou da experiência)

1. Em primeiro lugar:

Deus revela o seu conhecimento a quem quiser. Deus pode revelar conhecimento aos incautos e analfabetos, mesmo às crianças, através da revelação bíblica e através do Seu Espírito. Da mesma forma Deus pode encobrir o conhecimento aos sábios e entendidos.

O próprio Senhor Jesus orou dizendo: "Graças te dou ao Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos". Mateus 11:25

Quantos pobres, iletrados e crianças não há neste mundo que possuem uma Fé inabalável baseada na revelação divina? Quantos sábios não gastam toda a vida buscando a verdade através do conhecimento cognitivo e nunca conseguem atingi-la?

Se Deus fosse alcançado pelo processo cognitivo do conhecimento somente os sábios poderiam conhecê-lo.

Mas está escrito sobre a sabedoria dos sábios:

Romanos 1:21-25 "em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato, se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória de Deus em semelhança do homem, e a verdade de Deus em mentira”.

I Coríntios 1:17-31 "o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, os gregos buscam sabedoria, mas não são muitos os sábios e nobres que são chamados, mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo, e as vis, e as desprezíveis para salvar os crentes pela loucura da pregação de Cristo crucificado que é escândalo para os judeus e para os gregos”.

2. Em segundo lugar

Além de Deus poder revelar conhecimento aos humildes e incautos, a Soberania de Deus e a Fé são a base do conhecimento. Deus é quem decide o que quer revelar, a quem, quando e através de quê ou de quem.

a. O conhecimento é revelado por Deus e não adquirido segundo um processo cognitivo:

Romanos 10:17 "De sorte que a Fé é pelo ouvir e o ouvir pela a Palavra de Deus".

É Lógico que não estamos a falar de conhecimento específico, mas da interpretação global de Deus e da vida.

Este conhecimento só pode ser exclusivamente revelado por Deus e assimilado pela Fé. Isto quer dizer que se alguém começa a ler a Palavra de Deus, a Fé começará a nascer dentro do seu coração. Quando a Fé nasce, a pessoa passa a compreender quem é Deus, que o universo foi criado por Deus, que o pecado original entrou no mundo e que Jesus Cristo é o Filho de Deus o Redentor da humanidade.

As dificuldades que a pessoa poderá ter do ponto vista científico e filosófico, por muito grandes que sejam, não abalarão a sua Fé.

b. O cerne do conhecimento bíblico está resumido no seguinte verso:

I Coríntios 15:3-4: "Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras".

O cerne da mensagem cristã é a morte, sepultura e ressurreição de Cristo, profetizada pelos profetas.

c. O contexto da mensagem cristã

O Contexto da mensagem cristã refere-se a todos os factos e valores objectivos e subjectivos de natureza histórica, científica e filosófica em que o Cristianismo está inserido. Um cristão que compreende bem a sua Fé, pode não compreender o Contexto e até pode existir em sua mente muita confusão sobre a vida e o mundo.

A sua Fé o levou a uma crença firme, mesmo que ele não compreenda todas as relações entre a sua Fé e os diversos campos de conhecimento.

C. A Fé é coerente com os factos históricos e científicos.

Embora a "Fé" baseia a obtenção do conhecimento numa revelção divina e bíblica, nós cremos que o cristianismo é a única doutrina religiosa coerente com o contexto geral dos valores e dos factos científicos, históricos, morais e filosóficos da nossa existência.

"Os factos e os valores da existência são uma prova da autenticidade do cristianismo".

Por essa razão, embora a Fé cristã não baseie a sua autenticidade no conhecimento humano, como já vimos, não podemos deixar de afirmar que o cristianismo é uma Religião com uma realidade objectiva.

O Apóstolo Paulo disse: "se Cristo não ressuscitou (objectivamente, historicamente) é vã a nossa fé". I Coríntios 15:14

Se alguém puder provar que em nossa história:

Jesus Cristo nunca viveu, os seus milagres nunca aconteceram, os seus ensinamentos foram inventados, Ele não ressuscitou.

A Bíblia foi inventada e a sua mensagem é falsa.

O facto da Bíblia ser o livro mais produzido, mais lido e mais traduzido em línguas não prova a sua autenticidade e a sua sobrenaturalidade.

A historicidade da missão sacerdotal de Israel relatada na Bíblia é uma mentira e as profecias bíblicas sobre o povo de Israel nunca se cumpriram ou são fraudulentas.

Os 10 mandamentos foram inventados por Moisés e não dados por Deus.

O Universo não foi criado por Deus.

Cristo e a Bíblia não são os dois elementos históricos que tiveram mais impacto cultural sobre a humanidade.

O cristianismo não é o grande responsável pela emancipação da mulher, a igualdade dos direitos humanos, o nascimento do Estado de direito e pela abolição da escravatura.

O Cristianismo não esteve na base das reformas que tem acabado com a exploração do homem pelo homem.

A civilização mais avançada na política, economia e na moral não é a civilização ocidental ou cristã.

Os progressos da ciência ocidental não baseiam o seu método de investigação na ideia cristã de um universo harmonioso e regular, que pode ser estudado e testado.

Se alguém conseguir provar os pontos acima descritos, então conseguirá deitar por terra o cristianismo.

O cristianismo fica de pé ou cai pela veracidade dos seus clamores históricos. É a história que lhe dá ou tira a razão. Os clamores das ideologias poderão fazer tentativas para destruir a autenticidade do cristianismo; mas terão muitas dificuldades em destruir os factos e os valores históricos que continuarão de pé como um monumento testemunhando das evidências, da coerência e do impacto de Cristo na história da humanidade.

"O Budismo é uma religião em que nem tão pouco os seus seguidores sabem quem foi Lord Gautama", ou se todos os mitos sobre ele são verdadeiros. O Budismo é uma doutrina cuja veracidade fica de pé somente por causa da sua utilidade na cultura indiana e não por causa da sua historicidade mundial.

"O Islão ignora alguns dos factos mais básicos acerca da construção do universo". A sua historicidade está ligada a factores como o fanatismo, o imobilismo, o fatalismo e a crueldade. Existe no seu credo uma grande falta de simpatia pelos outros povos e pelo progresso democrático.

Assim tem sido a história do Islão. O Alcorão pouco ou nada trouxe de grande importância para o desenvolvimento económico e político para os povos que o abraçaram. As ciências físicas e as ciências da vida pouco ou nada beneficiaram do Alcorão.

Se quisermos provar a autenticidade de uma mensagem religiosa, teremos que fazer as pessoas olharem para a sua história. A história de tal doutrina religiosa provará se tal doutrina é falsa ou verdadeira. O resto não passarão de argumentos. There is not another way, il n y a pas un autre chemin!

Não há outro caminho senão a nossa História!!! Querer negar a verdade da história é negar a história da verdade. O cristianismo encontra a sua autenticidade no conhecimento histórico.

Se podemos comprovar a objectividade histórica do cristianismo como sendo digna de todo o crédito, podemos afirmar que o cristianismo é verdadeiro.

Se uma religião não pode chegar ao ponto de ter este mesmo crédito objectivo da história humana e das outras ciências da vida, não pode ser dada como válida, cultural e intelectualmente falando. "É na esfera cultural e intelectual que poderemos defender a autenticidade científica e filosófica do cristianismo".

Mas, apesar de toda a sua autenticidade, o cristianismo não baseia a sua autenticidade na ciência do conhecimento, mas, primeiramente na Soberania de Deus e na Fé.


I V. O cristianismo e o conhecimento religioso

A. A fraqueza das teorias antigas.

A fraqueza das teorias antigas do conhecimento eram ser unicamente metafísicas. O aspecto psicológico era desconhecido e, por isso, faltavam às teorias do conhecimento uma base necessária, que é a psicologia. As teorias do conhecimento podem ir para além da psicologia, mas não podem iniciar sem esta.

Dizia-se antigamente que a religião era uma matéria de Fé ou de opinião e a ciência uma matéria de facto. Nesta altura ignorava-se a influência do factor psicológico que veio alterar esta ideia.

Em primeiro lugar, o conhecimento religioso não pode ser separado das outras matérias do conhecimento. Aliás, "nenhum conhecimento, pode ignorar os outros, no seu processo de investigação". Se o fizer, cairá inevitavelmente no erro.

Em segundo lugar, não se pode classificar o conhecimento religioso como uma matéria exclusivamente de Fé em contraste com a matéria do conhecimento.

B. O cristianismo não é alheio aos outros conhecimentos

É neste aspecto que o cristianismo ganha sobre as outras religiões, no sentido em que a Fé cristã, apesar de ter um aspecto sobrenatural e provir de uma revelação, provém também de uma crença em factos e valores históricos, como por exemplo:

Os acontecimentos históricos ligados ao povo hebraico, a Israel, à Igreja Cristã e ao ocidente.

Os documentos históricos, como a Bíblia, livros e narrativas históricas.

Os personagens históricos, como Abraão, Moisés, Davi, Salomão, os apóstolos e Jesus Cristo.

Valores universais como os 10 mandamentos e os mandamentos bíblicos em geral.

The christian world view "a cosmovisão cristã" é a visão cultural, política, económica e cientificamente mais avançada do mundo. É pelo menos e indiscutivelmente a que tendo tido mais impacto, por isso, tem sido mundialmente aceite entre todas as nações, culturas e gentes.

O rigor, a regularidade e a harmonia utilizada pelo método científico é uma herança do Cristianismo.

O cristianismo não é uma matéria de conhecimento religioso alheio às outras matérias de conhecimento, como é o caso da maior parte das religiões. Nem pela sua proveniência, que é rigorosamente histórica, nem pela sua influência na história, que é sem par.

C. O cristianismo devia receber o crédito da ciência e outras correntes de pensamento.

A Ciência ao não querer dar o crédito que o cristianismo ganhou e merece pela história, não está sendo honesta com os cristãos.

Ou então, a ciêncai tem medo de um rival que tem provado que as ciências da vida tem o seu lugar nesta questão de ajudar o homem a construir uma interpretação global da sua realidade. Especialmente da sua realidade psicológica e espiritual, respondendo às 3 grandes perguntas filosóficas do homem: "donde vim", "porque estou aqui", "para aonde vou"

Da mesma forma, embora o cristianismo deva manter aberto um diálogo inter-religioso com as outras religiões, as outras religiões deviam reconhecer as evidências históricas do cristianismo e a sua influência sobre a História.

"Não há influência religiosa que se compare à influência que Bíblia, Moisés, Israel, Igreja, Pedro, Paulo, Jesus Cristo e a civilização cristã, tiveram sobre o nosso mundo!"

As outras religiões deviam também reconhecer as mudanças que o cristianismo operou no rumo da história. A historicidade do cristianismo e o seu impacto no rumo da história é que a tornou a religião mais propagada do mundo.

Claro que não estamos a dizer que são as maiorias que têm o monopólio da verdade. Estamos, sim, a dizer, que se a verdade não tiver um rasto bem nítido e relevante na estrada da história, como a poderemos encontrar?

D. A verdade religiosa deve ter um rasto histórico credível.

Será que a verdade absoluta e transcendental não tem um rasto bem nítido e relevante na história?

Claro que tem!

Se Deus além de transcendente é imanente, em que outra estrada poderia ter deixado o seu rasto, senão na estrada da História?

Ele até andou em nossas estradas a pé ao fazer-se homem há 2000 atrás: por isso, "pode compadecer-se das nossas fraquezas, porque como nós, em tudo foi tentado, só que sem pecado, acheguemo-nos com confiança ao seu trono da graça, para alcançarmos misericórdia e graça" Hebreu 4:14-16

Fala-se de muitos conhecimentos religiosos nos programas televisivos: astrologia, espiritualismo, espiritismo, esoterismo, cientismo e mesmo no new age .

Mas, sejamos honestos: qual é a credibilidade histórica desses conhecimentos? Se alguém responder: quaisquer destes conhecimentos têm muita credibilidade histórica.

Então, teremos que retorquir: então mostrem os factos, os documentos, os personagens que os representam, não só numa década, centenário ou milénio, mas em toda a história humana desde o seu início, que deve ter pelo menos 10 milénios?

E. O Conhecimento científico é mais abstracto do que parece.

Mas deixem-me agora falar sobre o conhecimento do ponto vista científico. Este conhecimento é mais abstracto do que aquilo que os cientistas nos querem fazer julgar. Eles sabem disso.

O conhecimento científico, além de ter um método próprio de investigação e de experimentação, requer um acto de Fé na sua base:

1. Primeiro

É um acto de Fé de que podemos SABER, ter conhecimentos das coisas.

2. Segundo

É um acto de Fé num UNIVERSO que sendo regido por leis regulares pode ser estudado e explicado.

3. Terceiro

É um acto de Fé nas HIPOTESES alcançadas.

"Não nos esqueçamos que a ciência vive mais na base de hipóteses do que de teses". É por isso que há grandes desacordos no campo científico sobre as questões mais melindrosas.

Até a matemática, que é científica, tem um lado abstracto. Por exemplo, embora dois mais dois sejam quatro e isto descreve obviamente uma certeza, certeza não é o mesmo que realidade. Fica sempre uma dúvida no ar.

O mesmo se passa com os nossos sentidos. Se todas as pessoas disserem que comendo mostarda ficarão com um gosto desagradável na boca, isto será aceite universalmente, mas, no entanto, o gosto da mostarda até pode ser bastante agradável.

Neste caso, a certeza depende da maioria das experiências. Mas a maioria das experiências não é sempre uma indicação do que é real e verdadeiro. Pode ser na soma de dois mais dois, ou no gosto da mostarda, mas não ser noutras coisas.

Estou com isto a querer realçar que a natureza da realidade do mundo físico é um mistério como a natureza da realidade do mundo espiritual. Há sempre um lado misterioso, como na religião.

Quando olhamos as coisas por este prisma, chegamos à conclusão que temos que trabalhar com hipóteses em todos os campos da realidade. A noção de que podemos ter mais certezas nas últimas causas do mundo físico, do que nas últimas causas do mundo espiritual, é uma noção sem qualquer base.

O conhecimento físico pode parecer há primeira vista objectivo e concreto e, por isso, absoluto e demonstrável. Mas quando compreendemos quanto estas demonstrações estão dependentes da nossa percepção sensorial e de uma Fé em conhecimentos que são aceites sem qualquer demonstração, chegamos à conclusão que afinal o conhecimento físico não é tão objectivo como parece.

Portanto, embora o conhecimento religioso busque o transcendental, não é forçosamente mais hipotético do que o conhecimento físico, porque ambos utilizam motores de busca meramente subjectivos. Visto deste ponto de vista, não se pode diferenciar o conhecimento religioso de qualquer outro conhecimento.

No entanto, na religião, a Fé, além do sentido intelectual utilizado nos diversos campos de conhecimento, possui um sentido adicional.

Vou tentar explicar este sentido adicional ou místico que existe no acto de Fé:

Se quisermos chegar ao conhecimento sobre Deus, seja pela dedução ou indução, necessitamos de um acto de Fé intelectual. Chama-se de "conclusivo" esta forma de conhecimento sobre Deus adquirido pela via intelectual, utilizado normalmente pela Filosofia.

Mas, além de "conclusivo", há o conhecimento de Deus que é "intuitivo":

"É um relacionamento pessoal de Deus, que é experimentado só pelos crentes":Os crentes experimentam ste relacionamento com Deus, como experimentam afinal qualquer outro relacionamento com a realidade física

Só se pode experimentar este relacionamento intuitivo com Deus, se à Fé intelectual for adicionado o sentido sobrenatural, ou dom espiritual. "Já dissemos anteriormente que a Fé é um dom de Deus". Mas Deus não coloca este dom num homem vazio de fé intelectual. É absolutamente necessário que há partida o homem possuía uma fé intelectual, para poder receber o dom da Fé que o ligará pessoalmente a Deus.

O problema, é que o lado místico da Fé não pode ser disputado a um nível científico!

É só o lado intelectual e racional da fé que pode ser disputado a esse nível.

É o que tenho vindo a fazer neste trabalho de Filosofia:

"procurar mostrar que o cristianismo é credível do ponto vista intelectual pois tem uma fé intelectual que é pensante e racional. O cristão possui uma razão que crê e uma fé que pensa".

Mas a sua Fé tem um outro lado sobrenatural que não pode ser provado através de um método experimental, só pode ser experimentado e provado pela própria pessoa que sente.

Voltando ao conhecimento intuitivo, a única forma de debater e negar o lado intuitivo de um conhecimento religioso é através de um outro conhecimento religioso também. Só uma Fé poderá intuitivamente falando, provar a falta de credibilidade espiritual de uma outra fé. Só uma Fé pode desmascarar a falsidade e os aspectos fraudulentos e nefastos de uma outra fé.

A ciência e a filosofia podem e devem fazer de árbitro, no que diz respeito ao lado intelectual da fé, mostrando e provando que tal e tal religião possui ou não possui uma fé intelectual credível, mas não têm autoridade para se pronunciarem sobre o lado intuitivo da fé das religiões.

A Fé mística é uma atitude totalmente pessoal. Não depende de nada, nem de ninguém, somente da pessoa e de Deus.

Caberá a cada pessoa decidir. Se uma pessoa deixar que a ciência ou a filosofia, a sua religião, o pai ou a mãe, ou a sua comunidade tomem decisões por si na esfera da Fé, essa pessoa ficará certamente imergida por muitas ideias que se tornarão obstáculos para encontrar a verdadeira fé, o verdadeiro Deus!

FIM

INDÍCE


Capítulo 1 INTRODUÇÃO
A Definição de Filosofia
O Cristianismo e a Filosofia


Capítulo 2 CRISTIANISMO E RELIGIÃO
As origens da Religião
Definição de Religião
Religião a vida humana e seus interesses
Religião e Ciência
Religião e Filosofia
Religião e Cultura
Religião e Revelação
Religião e Moralidade

Capítulo 3 OS CAMPOS DE CONHECIMENTO
O Campo da Filosofia
O Cristianismo e o conhecimento
A Natureza do conhecimento
O Conhecimento religioso

Capítulo 4 A IDEIA DE DEUS
Deus e a razão humana.
As primeiras perguntas.
Provas teístas
Os Diversos argumentos
Natureza e atributos de Deus
Conceito moderno quasi-teísmo
É Deus inefável?
A natureza da experiência

Capítulo 5 A IDEIA DO UNIVERSO
Dualismo.
Monismo.
Pluralismo
Materialismo

Capítulo 6 A IDEIA DO HOMEM
Conversão do homem segundo o cristianismo
Relação do homem e a sociedade
A personalidade e o livre arbítrio

Capítulo 7 A IDEIA DO BOM
As teorias do bom

A IDEIA DO MAL
O mal o sofrimento e Deus
As preposições: o mal existe e Deus existe
Razões filosóficas válidas
Razões bíblicas válidas p/existência do mal

Capítulo 8 DEUS E O MUNDO
O panteísmo.
O deísmo
O monoteísmo


Capítulo 9 DEUS E O HOMEM
A concepção da teologia natural
A relação entre a razão e a revelação
Relação entre Deus e a humanidade
É Deus finito ou é infinito

Capítulo 10 UM DESAFIO À CIÊNCIA
Evidências para os milagres
A ressurreição de Cristo
O método do processo histórico
Algumas provas históricas que são
evidentes da ressurreição de Cristo.

Capítulo 11 A IDEIA DO ALÉM
As relações dos conhecimentos com a morte
O Cristianismo e a morte

Capítulo 12 ASSUNTOS CONTROVERSOS
A posição sobre diversos campos:Aborto, eutanásia, sodomia, divórcio, bebé proveta, manipulação genética, clonagem, guerra, paz, terrorismo, globalismo.